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Transcrição | O Tempo e o Som - 006 - Bossa Nova

  • tiagosantos2545
  • 23 de nov.
  • 46 min de leitura
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O Tempo e o Som - 006 - Bossa Nova


O Tempo e o Som, a história contada e cantada da música brasileira, com Gabriel Carneiro e Tiago Sambes. Bem-vindos ao programa O Tempo e o Som, podcast que narra a história da música popular brasileira. O Tempo e o Som é produzido com recursos do Fundo de Apoio à Cultura, o FAC, que é um programa do governo de Distrito Federal de incentivo à cultura.


Lembrando que o Tempo e o Som é fruto de um trabalho coletivo. Na locução, pesquisa e roteiro estão Gabriel Carneiro e Tiago Santos, na edição e sonoplastia Miguel Ferreira, na produção executiva Cíntia Magalhães, arte visual e artista e designer Gustavo Pozobon e o assessor de acessibilidade é o Guilherme Bittencourt. Hoje eu estou aqui, num banquinho, na praia de Copacabana, nesse ambiente ensolarado, para falar de Bossa Nova com vocês, com o meu amigo Gabriel Carneiro.


Olá, olá minha gente, sempre um prazer estar aqui falando com vocês e um prazer falar sobre Bossa Nova, um banquinho, um violão, vamos falar um pouquinho sobre esse momento tão marcante da história e da música brasileira, né Tiagueira? É isso aí Gabriel, eu vou iniciar aqui dando um contexto, a gente vai falar nesse primeiro bloco também sobre os percursores da Bossa Nova. Enfim, a Bossa Nova vai surgir naquele contexto histórico ali de meados da década de 50, com a eleição do JK, que era o presidente Juscelino Kubitschek, o país passava por transformações que aceleraram a sua modernização através de um rápido desenvolvimento industrial, da urbanização e de investimentos, principalmente na área de energia e transporte. Era época de crescimento econômico, com a expansão das estradas, com o aumento da produção de automóveis e com o consumo de eletrodomésticos, que aumentou muito no pós-guerra, né? E eletrodomésticos como geladeira, televisão, até uma nova capital surgiu para representar esse país moderno e desenvolvido.


O slogan do governo era crescer 50 anos em 5. Tudo isso liderado pelo presidente Bossa Nova, que era como ficou conhecido o Juscelino Kubitschek, né? Devido a uma canção composta por é importante falar também nesse contexto do pós-guerra da influência cultural norte-americana que estava ocorrendo naquele cenário de guerra fria e o Brasil estava do lado capitalista, o mundo estava dividido em duas polaridades, né? Entre União Soviética e Estados Unidos, e a dominância do lado capitalista ela era dos Estados Unidos, né? E é então claro, rádio e cinema aqui no Brasil propagavam aquele American Way of Life, principalmente através de músicas e filmes, né? E além disso, com o fim do Estado Novo do Vargas, houve muitas importações e investimentos em infraestrutura, como a gente já falou, inclusive com o fechamento de cassinos também, que até então eram permitidos, né? E aí parte daquela boemia mais sofisticada que frequentava os cassinos também vai migrar para alguns bares no bairro de Copacabana, né? Também nesse contexto de influência dos Estados Unidos, principalmente ali, claro, a gente está falando aqui do início da década de 50, do pós-guerra, do pós-segunda guerra mundial, né? E mais ou menos até ali, até os anos 70, a música brasileira vai se fundir com diversos gêneros norte-americanos, né? Então vai chegar o jazz, vai chegar o rock, vai chegar o soul e o funk, e a partir dessa mistura vão surgir também a bossa nova, a jovem guarda, o tropicalismo, o samba rock, né? Que vão representar essa síntese, né? Então esse era o contexto de desenvolvimento da bossa nova, mas um pouco antes ali, a gente tinha umas sementes que estavam sendo plantadas por alguns precursores. Perfeito, Tiagueira. E é um momento de muita alegria, né? Para o pessoal, assim, em geral.


O Brasil está bombando nesse momento. Acontece também, futebolisticamente, o Brasil vinha da grande decepção, que foi a derrota na final da Copa do Mundo de 1950, e em 58 surge Pelé, Garrincha, todo mundo, o Brasil ganhando na Suécia e tudo. Então uma alegria muito grande e com uma classe média muito feliz por ter acesso a bens de consumo, como você bem enfatizou.


Então essa ideia de você ter acesso a recursos, fazer com que as pessoas estivessem muito alegres e felizes. Não à toa, nesse contexto todo, vai surgir uma música que vai refletir, até certo ponto, ou expressar essa felicidade com o Brasil. Então, quando a gente fala de bossa nova, muitas vezes a gente chega num ponto em que a gente enxerga uma música, e as críticas são feitas muito em relação a isso, uma música um pouco alienada, que não fala das mazelas políticas do Brasil, sociais e coisas desse tipo, porque de fato é uma música oriunda de classe média.


Mas isso só faz sentido se a gente entender aquele contexto daquela época em que, na verdade, as pessoas viviam um momento de esperança e de alegria, e não de reflexão sobre as mazelas do Brasil, de tristeza ou qualquer coisa desse tipo. Bom, dentro disso, no Rio de Janeiro, começam a surgir grandes clubes, os clubes em que as pessoas se concentram para ouvir música estrangeira e também para poder contemplar os discos de vinil que tinham comprado fora, principalmente o pessoal de classe média, que tinha acesso à música que vinha de fora, conseguia comprar discos para poder tocar ali. Mas dentro do cenário da música brasileira como um todo, a gente tem que entender também o processo que a música estava vivenciando nesse momento.


A gente vinha de uma época em que a rádio tinha sido muito forte dentro das décadas de 20, surgida na década de 20, 30, 40. Na década de 50, chega o televisor no Brasil, porém o televisor só vai se tornar a principal ferramenta, o principal meio de comunicação, de divulgação de massa no Brasil a partir de 1970, inclusive da Copa do Mundo de 1970. Então, em 1950, a rádio, até 70, ainda era a principal forma de você difundir música, difundir cultura, falar de cultura dentro do país.


Nisso, aquela música que era a oriunda daquela rádio, ela vai ser muito relevante para ditar quais são os rumos para os quais a música brasileira está se caminhando naquele momento. Então, o que acaba acontecendo é que os regionais de rádio que surgiram na década de 20, 30, 40, que estavam muito bem estabelecidos como conjunto principal de acompanhamento de tudo o que estava acontecendo na música brasileira, a partir da década de 1940, nesse universo das rádios, a gente vai ver uma transformação e a presença cada vez maior de maestros. Esses maestros vão reger em orquestras que estão sendo fundadas essas rádios, com uma ideia até de representação política, que já vinha oriunda até do governo Getúlio Vargas.


Então, no governo Getúlio Vargas, a gente vê que você tem uma presença muito forte do maestro Vila Lobos, fazendo canto orfeônico nas escolas e também fazendo as cerimônias de trabalho do governo Vargas e tudo. Uma ideia muito parecida com aquela ideia que a gente já tinha visto na década de 1920, de representar culturalmente uma brasilidade dentro de um cenário internacional, porém atento às regionalidades do país. Então, quando a gente vai ver a obra do Vila Lobos, por exemplo, a gente vê uma obra que usa muito cantiga de roda, usa muito a música folclórica, coisas desse tipo.


Mas, bom, esses maestros vão estar atentos à tradição, mas eles também vão estar muito atentos a trazer elementos da música clássica, da música erudita, da música de conceito europeu, para dentro da música brasileira. Então, maestros como Radamés e Nhataly serão muito importantes por trazer essa musicalidade da música orquestral para dentro dessa base popularesca da música brasileira. Cada vez mais, isso vai gerar uma certa substituição da utilização dos músicos.


Os músicos que tocavam de ouvido, que eram instintivos, começam a ser substituídos por músicos que sabem ler muito bem, que sabem escrever bem. E as harmonias, que eram muitas vezes harmonias simples, o cara usava o acorde mais fácil para aquele momento, simplesmente pelo fato de que ele não tinha tempo para ensaiar muitas vezes, para programar as coisas, eles vão ser substituídos por acordes muito elaborados, com abertura de vozes, algo que estava ali muito presente na música de conceito europeu. Dentro disso, a gente começa a ver essa transformação se apresentar também na música brasileira, e essa ampliação harmônica, essa diversificação, vai acabar se fazendo muito palpável no transcurso da década de 40 e 50 da música brasileira.


Então, não à toa, a gente vai começar a ver músicos do universo do choro começarem a empenar um pouco mais as harmonias, começarem a colocar questões mais diferentes. É o caso do Garoto, por exemplo. Grande músico, que era um virtuose de oito instrumentos de corda, e que usava recursos harmônicos que não eram convencionais dentro do universo do choro.


Ao mesmo tempo, dentro de uma classe média, consumia-se essa música um pouco mais estrangeirizada, um pouco mais xenófila, até certo ponto. Então, o universo da música brasileira nesse momento, o cenário, ele é mais ou menos esse. Uma transformação da rádio para uma ampliação harmônica, que vai acabar resultando em uma transformação no tipo de harmonia que vai ser usada na música brasileira, e também o cenário em que a classe média consome bastante música estrangeira, a partir de tudo que você falou, da política da boa vizinhança norte-americana, dessa influência da música americana no Brasil, e essa aproximação que vai acontecer dos dois lados.


O Brasil sendo receptor de uma produção musical muito intensa feita nos Estados Unidos, mas os Estados Unidos também tentando contemplar elementos da cultura brasileira dentro da sua, para poder aproximar. A obra da Carmen Miranda faz parte disso, a presença do Zé Carioca faz parte disso, e não à toa a gente vai ver surgir nesse momento um gênero musical que vai representar tanto essa diversificação harmônica, quanto a influência dos maestros, quanto também essa aproximação muito clara, oriunda dessa influência americana a partir da Guerra Fria. Sendo assim, eu acho que vale a pena a gente conseguir retratar toda essa diversidade, e nesse primeiro bloco, dar um pouco desse contexto como um clube.


Então a gente tem cantores, por exemplo, no Brasil nesse momento, que estão associados a esses clubes, que começam a usar nomes estrangeiros, nomes buscando uma estrangeirização do seu nome, para poder ficar um pouco mais chique talvez, para poder remeter a essa música estrangeira. O caso emblemático é o caso do Dick Farney, né Tiagueira? Exatamente, o nome dele era Farnesio e acabou adotando o epíteto de Dick Farney, que era o nome mais americanizado, como você falou. E o Dick Farney vai surgir justamente naquele período que a gente considera também de pré-Bossa Nova, entre 46 e 57.


46 inclusive foi o lançamento da música dele, Copacabana, que já tinha uma interpretação mais suave, que já possuía um arranjo com os elementos orquestrais do Radamés Gnatali, que você citou anteriormente. E além disso, a letra da música Copacabana também se ambienta ali na Zona Sul, ou seja, que vai ser um cenário muito caro, estimado pelos bossa novistas. Então Farney, por exemplo, ele era uma das referências da Bossa Nova, que já indicava também que era possível ser romântico e moderno ao mesmo tempo.


Mas além do Farney, teve o Johnny Alf também, né Gabriel? Alcunha para um homem batizado João Alfredo, acaba virando Johnny Alf, e é uma figura muito importante da Bossa Nova, apesar de quando a gente vai ler toda a biografia que existe sobre o tema, ele nunca aparece numa posição de protagonismo. Muita gente especula que isso tenha a ver com a cor da pele dele, com a sexualidade dele, que era visto como uma figura até um certo párea dentro daquele universo da Bossa Nova. Mas a gente não pode negar toda a influência que ele tem na forma de cantar, que o Johnny Alf tem, e também na temática de letra.


Então o Johnny Alf tem um papel muito importante como precursor dessa Bossa Nova, ele faz parte do movimento como um todo, só que de fato ele não recebe os louros que ele merece a respeito disso. Ao contrário, por exemplo, de uma figura como o Caymmi, que vai ser sempre referenciada como uma referência muito grande dessa Bossa Nova, pelo seu cantar um pouco mais melodioso, a sua temática contemplativa das letras, sempre falando um pouco do mar, do oceano, né Thiaguinho? Exatamente, ele também já usava aquele arranjo, o banquinho e o violão, vários discos é só aquela voz dele bem calma e o violão dele também já retratando aquelas canções praianas que ele gostava de entoar. E além disso, né Gabriel, só com relação ao Caymmi também, só pra mostrar como ele também era uma referência, só lembrando que o próprio João Gilberto gravou diversas composições dele, né? Rosa Morena, Saudades da Bahia, Samba da Minha Terra, né? E também existe um disco do Tom Jobim e do Caymmi, né? Caymmi visita Tom, que é de 54, mas isso é só pra gente revelar como o Caymmi também era uma das referências aí pros bossa novistas, né? Bom, nesse primeiro bloco a gente vai ouvir então Johnny Alf com Bondinho do Pão de Açúcar, Dick Farney com Copacabana, Caymmi, Sábado em Copacabana e o Trio Surdina do Garoto com a canção Duas Contas.


Você está ouvindo O Tempo e o Som Na sua Rádio Asia Você acaba de ouvir aqui no Tempo e o Som Johnny Alf cantando Bondinho de Pão de Açúcar Dick Farney com Copacabana Dorival Caymmi com Sábado em Copacabana E Trio Surdina com Duas Contas E agora vamos entrar um pouco no Matemática Que é muito cara da Bossa Nova Que deixa ela muito identificada que é essa grande parceria Tom Jobim e Vinícius de Moraes Não é mesmo, Tiagueira? É isso aí, né, Gabriel? A gente falou um pouco no primeiro bloco sobre o contexto, os precursores E agora a gente vai comentar mais dessa chamada de primeira geração Da Bossa Nova, né? Que é sobre o Tom, o Vinícius O Johnny Alf, o Newton Mendonça, né? João Gilberto, que vai surgir também Os jovens da Zona Sul, né? Nara Leão, Menescal, Bosco de Carlos Lira, né? Além daquela galera que frequentava aquele fã clube na Tijuca, né? O Sinatra Farney, né? Com o João Donato e o Paulo Moura Todo esse pessoal aí fez parte dessa primeira geração da Bossa Nova, né? E como é que eles foram se encontrando E se consolidando, né? A gente tem que lembrar ali que em meados dos anos 50 O Vinícius de Moraes Ele já era um poeta E um diplomata reconhecido Ele tinha feito uma peça, né? Chamada Orfeu da Conceição Que basicamente adaptava o mito grego de Orfeu Para as favelas cariocas, mas ele precisava de alguém para ajudá-lo a compor a trilha sonora desse musical que seria encenado apenas por atores negros, né? E é claro, assim O Vinícius já conhecia o Tom há alguns anos, né? Já tinha visto algumas apresentações naqueles bares de Copacabana Que o Gabriel citou, né? O Plaza, que o Tom tocava muito, né? Mas assim, quem sugeriu ao Vinícius Para que o Tom fosse convidado foi o Ronaldo Bôscoli Que na época, inclusive, ele era cunhado Do Vinícius de Moraes, né? Então, o Tom, quando ele foi convidado para o Vinícius, né? Ele já não era um desconhecido Ele já atuava aí tocando mais ou menos na noite há seis anos Profissionalmente Também compondo, arranjando já tinha gravado algumas músicas, né? E ele se destacava justamente pelas melodias elaboradas pelas harmonias ornamentadas que ele buscava ali de influência na música erudita, né? Enquanto o pessoal da Bossa Nova Vai pegar aquela parte dos acordes dissonantes muito vindo do cool jazz, né? O Tom Jobim, não Ele bebia lá na fonte já do impressionismo francês Debussy, Ravel, né? E tudo mais Então, ali no ano de 56 Foi lançada tanto a peça Orfeu da Conceição Quanto a trilha sonora também gravada Existe o disco E a partir dali Iniciou-se oficialmente a parceria Entre o Tom e o Vinícius Que vai durar mais ou menos sete anos Vai render cerca de 46 composições E alguns clássicos aí da Bossa Nova Garota de Ipanema Chega de Saudades Eu sei que vou te amar A Felicidade Insensatez E até mesmo assim Antes da Bossa Nova estar exatamente delimitada Com uma estética muito clara, né? A obra do Tom e do Vinícius Ela já vai aparecer dentro de uma pré-Bossa Nova Essa Bossa Nova ainda incipiente que você muito bem mencionou em dois discos muito importantes, né? Que é o disco da Eliseth Cardoso Canção do Amor Demais E o disco da Lenita Bruno Que é chamado por toda a minha vida O da Eliseth Cardoso de 58 E o da Lenita Bruno de 59 Ambos os discos têm uma questão orquestral O que traz muito claramente A influência da música Como você falou de orquestras, de concertos O Tom Jobim era uma pessoa Que tinha estudado com o Carl Reuter Aqui no Brasil E já o Vinícius, um grande poeta Um grande letrista E uma pessoa que vai acabar se encaminhando Para esse rumo da canção E fazendo sua carreira em torno disso Mas a gente sabe que antes disso Um diplomata consolidado E uma pessoa que era muito importante Nesse universo da Bossa Nova O Vinícius vai ter uma relevância muito grande Por trazer a questão da letra Ele vai trazer essa letra De usar diminutivos O que muitas vezes fez com que Ele fosse tido como um poeta menor Existem os dois contextos Do poetinha Ele é poetinha por um lado Porque ele usa muito diminutivos De uma forma carinhosa de falar Mas por outras pessoas Os detratores do Vinícius de Moraes É tido como se fosse um poeta menor Por ter se entregado talvez Ao universo da canção E ter saído um pouco desse universo literário Que era o lugar onde ele atuava anteriormente Agora essa estética Trazida pela Harmonia ampla Por exemplo presente Dentro do Tom Jobim, na música de concerto E pela letra E pela temática de letra do Vinícius de Moraes São os dois elementos centrais Para essa consolidação inicial dessa bossa nova E no caso das letras do Vinícius Sempre retratando muito O universo da zona sul do Rio de Janeiro A contemplação do corpo da mulher A contemplação da praia Do mar, do oceano A natureza que vai estar muito presente Posteriormente também Nas letras do Tom Jobim Quando vai fazer letras sozinho Ele é um grande ambientalista Faz música para rio, faz música para montanha Faz música para florestas E o Esse tipo de temática de letra Do Vinícius de Moraes Vai muitas vezes Enaltecer aquela natureza Aquela paisagem exuberante do Rio de Janeiro, de zona sul O que faz com que essa bossa nova Muitas vezes vá ser associada A algo alienado De uma classe média que está vivendo Nos apartamentos de Copacabana, de Panema E da zona sul do Rio de Janeiro E apenas desfrutando dos bem-estares Da vida. Quando na verdade a gente sabe que a gente tem uma bossa nova que é composta por pessoas que são de diferentes Origens. A gente tem Claramente essas pessoas da zona sul Do Rio de Janeiro, como você bem citou Menescal, Bôscoli, Carlos Lira Nara Leão e tudo mais Mas a gente tem também pessoas que são de origens Diversas, como o João Gilberto Que é de Juazeiro, o João Donato Que é do Acre São pessoas que são de outras regiões Às vezes de uma Condição social que não era tão privilegiada Quanto esse pessoal de classe média E que está ali fazendo parte dessa bossa nova E que acaba sendo taxado Como uma pessoa elitista, talvez Por cantar Essa zona sul do Rio de Janeiro.


Mas a gente tem que entender que não necessariamente essa Letra vai refletir essa vivência. E sim a maneira como as pessoas viam O mundo naquele momento aquele mundo que estava encantado, estava cor-de-rosa Mesmo. Em que as mazelas sociais não se apresentavam com tanta força em que havia uma esperança muito grande no Brasil Em um futuro muito bonito para aquilo que viria a ser o nosso país Então, de fato, o que vai ocorrer nesse momento vai ser que essa bossa nova vai se delinear A partir dessa ideia do Tom Dessa ideia do Vinicius E o uso de todos os compositores.


Mas para isso Ela vai precisar ser batizada não é mesmo, Tiagueira? Vai ter que ganhar algum nome específico é isso aí, né? Mas só cumprimentando, né, Gabriel Que além da parceria do Tom e do Vinicius Tinha um outro grupo ali, que a partir de 1956 Começou a se reunir também No famoso apartamento da Nara Leão Que ficava em Copacabana Para tocar jazz, música erudita que foi esses que a gente já citou Menescal, Bosco, Delira, Luiz Carlos Vinhas Os irmãos Castro Neves Que eram vários irmãos Que tocavam instrumentos diferentes O Oscar Castro Neves, o Mário, o Ico O Léo, Francisco Feitosa Também frequentava lá E tudo havia começado a partir De uma escola de violão Que era capitaneada pelo Menescal e pelo Lira Na qual a Nara Leão havia sido Aluna É importante a gente também comentar Que estava havendo uma transição nesse momento Porque além do samba canção Que tocava muito nas rádios naquela época O baião, o forró, ele era forte Então o principal instrumento Que os jovens queriam tocar naquela época Era na verdade a sanfona E aí essa questão de já no apartamento da Nara Eles estarem se reunindo com o violão E o violão ser o principal Que vai se tornar o principal instrumento Da Bossa Nova já marcava esse ponto De transição O próprio João Donato na verdade ele tocava antes o que? Acordeon e depois passou Para o piano Então esse grupo que frequentava O apartamento da Nara na Zona Sul E que eram mais desses jovens de classe média Eles ouviam muito o Cool Jazz Que era lá do Miles Davis Do Chet Baker E que ele era mais simples Ele era mais lento, com menos notas Em comparação com outro estilo de Jazz Que era o Bebop E esse tipo de Cool Jazz Ele é um tipo de Jazz que não projeta tanta voz É um tipo de Jazz que não projeta tanta voz Então você tem uma forma de cantar Que distoa um pouco da forma de cantar anterior Então se a gente for pegar as cantoras E os cantores de rádios anteriores Eles tinham que projetar muito a voz De fato quando a gente tiver as primeiras gravações de Bossa Nova É o caso do disco da Renita Bruno E é o caso do disco da Eliseth Cardoso também A gente vai ver que são cantores que ainda projetam muito a voz Que ainda não tem aquela estética muito clara de Bossa Nova Porém com o tempo A gente vai ver que essa voz Um pouco mais introspectiva Com menos recursos de ornamentos locais Ela vai começar a aparecer com mais força Dentro do universo da Bossa Nova Isso vai fazer com que Tanto na voz Isso vai expressar Quanto também no universo do violão Então o Carlos Lyra por exemplo Já relatou E até é interessante a gente falar Da relação deles com a música anterior que havia no Brasil Essa presença do jazz e tudo mais Mas o Carlos Lyra mesmo Ele havia procurado o Garoto anteriormente E pedido pro Garoto Que ensinasse ele a tocar violão como o Garoto Chegou a ter duas aulas Com o Garoto Mas o Garoto morre no ano de 1955 Então ele vai perder essa referência O dia ele vai chegar pra ter aula com o Garoto No apartamento do Garoto no Rio de Janeiro E de repente o Garoto já tinha morrido Não estava mais lá Sofreu um ataque cardíaco com 39 anos E não pôde continuar dando aula com o Carlos Lyra Então a gente vê como Havia essa dualidade Essa influência do jazz ao mesmo tempo Mas também essa influência da música brasileira Que estava se delineando A partir da presença dos maestros E a partir da ampliação desse universo Da música da rádio Dos grandes cantores do rádio E só voltando um pouquinho na questão das letras O Gabriel comentou que Era muito tematizado aquele ambiente praiano De Copacabana A gente tem que pensar Nesses jovens que estavam tocando Ouvindo jazz e tocando nesses apartamentos Da Zona Sul Eles estavam cansados um pouco Dessas letras muito melodramáticas Sobre amores intensos Aquelas interpretações rasgadas Que eram características do samba canção É engraçado que eles chamavam O samba canção de samba canseira Samba canseira Ninguém me ama, ninguém me quer E aí sim eles passaram a abordar temas mais leves Com uma linguagem quase coloquial Também abordando muito Além da Zona Sul e das suas praias O samba, samba de uma nota só Samba da minha terra, samba do avião E às vezes temas quase infantis O pato O barquinho, o lobo bobo Então era uma música Que às vezes nem narrava muitas histórias Eram letras mais de imagens Sensações, atmosferas E também, né Gabriel Vamos só comentar aqui da questão do nome Da Bossa Nova, como vai surgir esse nome Existem algumas especulações Sobre a origem do nome E claro, a expressão Bossa já circulava No Rio de Janeiro e no meio musical Desde os anos 30 Geralmente ela era empregada para usar Alguém que tocasse diferente Ou alguém que tocasse bem O próprio Noel Rosa já havia utilizado Essa palavra na canção São Coisas Nossas E o próprio Garoto também Havia liderado um conjunto Nos anos 40 chamado Clube da Bossa Porém, o nome só vai ser Utilizado para designar Aquele tipo de canção que estava Surgindo no Brasil em meados da década de 50 Principalmente É a partir de um show No auditório do Grupo Universitário Hebraico no início de 1958 Participaram desse show histórico Silvinha Teles, Carlos Lira A Nara, Chico Feitosa Menescal, Luiz Eça E aí No dia da apresentação No dia do show Quando o público estava entrando Para assistir as apresentações Estava escrito lá no quadro Falaram, que foi uma secretária que escreveu No quadro do Grupo Hebraico Hoje, Silvinha Teles e um Grupo Bossa Nova Então os rapazes gostaram Desse termo, e claro Não foi só isso, em 59 Quando surge aquela composição Desafinado Que fala, isso é Bossa Nova, isso é muito natural Ou seja, a expressão Já estava sendo utilizada na própria letra Da música, ajudou Também a consolidar Desafinado é uma composição do Tom E do Nilton Mendonça, que é um compositor importante Um importante parceiro do Tom Também, vai fazer diversas Músicas, como o samba de uma nota sol, a meditação E que ele foi um cara que ficou mais Nos bastidores Morreu cedo também, e não apareceu Tanto quanto esse primeiro grupo Que se destacava da Bossa Nova Gabriel, o que a gente vai ouvir Agora nesse bloco? Nesse bloco, teremos o prazer De ouvir Elizeth Cardoso Cantando Chega de Saudade Gravação do Canção do Amor Demais Disco orquestrado pelo Tom João Binho Vocês vão ver que a forma de cantar da Elizeth Cardoso É uma forma mais projetada Com elementos orquestrais Característicos dos arranjos do Tom A gente vai ouvir também Lenita Bruno Cantando Por Toda Minha Vida Que também é uma cantora de origem lírica Cantando músicas de Tom e Vinícius Por Toda Minha Vida Nesse disco, que tem o arranjo do maestro Léo Peracchi Que era um maestro que também tinha Muita presença dentro do universo das rádios Na década de 1940 e 1950 Além disso Vamos para os clássicos de Bossa Nova O Wave Cantado pelo Tom João Bim e o Samba da Benção Com o Vinícius de Moraes


Você está ouvindo o Tempo e o Som Na sua Rádio Eixo Você está ouvindo o Tempo e o Som Você ouviu agora no Tempo e o Som Elizeth Cardoso cantando Chega de Saudade Lenita Bruno cantando Por Toda Minha Vida Tom Jobim com o Vinícius de Moraes cantando Samba da Benção E vamos agora falar daquele que concebeu mais claramente A estética da Bossa Nova Aquele que deixou os elementos mais claros Daquilo que a gente tem como a síntese da Bossa Nova Que é o grande João Gilberto Violonista e cantor Uma pessoa que realmente tem um papel fundamental Para a consolidação da Bossa Nova É isso aí, né, Gabriel? O João Gilberto, como a gente já citou aqui Ele é de Juazeiro, na Bahia Ele vai mudar para o Rio de Janeiro em 1950 Para integrar o grupo vocal Garotos da Lua Vai chegar a gravar dois discos de 78 rotações por minuto Com esse grupo É claro que esses discos de 78 Eram aqueles discos ainda de cera E cada lado do disco só tinha uma música Ele também chegou a gravar um disco solo em 1952 Que pouca gente sabe Não teve tanta repercussão na época O repertório era mais samba-canção também Porém, devido aos atrasos dele Ao descompromisso Junto aos Garotos da Lua Ele acabou sendo afastado do grupo E em 1955 Ou seja, cinco anos após Ele já estar morando no Rio Ele já não tinha onde morar e não tinha emprego E ele acabou aceitando o convite De um amigo dele, o Luiz Teles Foi para Porto Alegre Morou num hotel em Porto Alegre Com as despesas pagas pelo Luiz Teles Depois de um tempo que ele viu Que ali ele não ia frutificar muito Claro que ele já estava se dedicando O tempo inteiro ao violão ali Ele vai se mudar no ano seguinte Para a casa da irmã dele A Dadainha, que era a pessoa da família Que ele mais confiava ali Que tinha mais ascendência sobre ele Isso lá em Diamantina, em Minas Gerais E lá na casa da irmã dele Ele pôde se dedicar integralmente Ao violão, inclusive falas Que ele se trancava no banheiro Da casa da irmã, onde tinha a melhor acústica Da casa ali E é lá em Diamantina, na casa da irmã Que ele vai desenvolver a batida Que ficou famosa, da Bossa Nova Que basicamente sintetizava A percussão do samba no violão E já trazia aquela combinação Entre o ritmo do samba Que era traduzido na batida Com a harmonia, né, Gabriel? Perfeitamente, Tiagueira A questão da batida da Bossa Nova Ela é sempre uma questão muito controversa Principalmente depois da obra do Rui Castro Do Chega de Saudade Fala-se muito da maneira como o João Gilberto Precisou desenvolver algo E criar algo do nada E coisas desse tipo Mas eu acho que existe uma certa dificuldade De compreensão até Em relação a de que forma foi esse desenvolvimento Pra mim, a grande coisa do João Gilberto De fato, não é o desenvolvimento De uma batida. Esse tipo de batida A gente pode encontrar em gravações Anteriores, por exemplo Como a gravação do Relógio da Vovó Do Crio Surdina, que é de 1953 Que já era utilizado pelo Garoto e tudo mais Porém, o João Gilberto vai precisar De uma dedicação muito grande Pra poder conseguir coligar essa batida Que já existia, mas que não era Tão aplicada assim Que é uma batida um pouco mais sintética de violão Uma batida que usa bases do Tamborim, principalmente, na execução Enquanto alguns violonistas Buscavam fazer uma batida rítmica Que contemplava uma série De instrumentos de percussão dentro do violão Essa batida, que é um pouco mais Sincopada, ela busca Sintetizar o elemento do tamborim O famoso Teleco teco, dentro do universo do violão Isso já existia Sim, mas não era Difundido popularmente De uma maneira que todo mundo Utilizasse esse tipo de sonoridade Como eu disse, o Garoto Ele era um dos que usava isso Nas suas gravações, porém Era apenas um deles Você tinha diversos músicos E diversas referências na música brasileira Que não usavam esse tipo de batida O que o João Gilberto vai fazer, basicamente Vai ser uma forma de cantar Muito sincopada Com essa batida de violão que já é sincopada E muitas vezes descasando a forma como ele canta Com a forma do violão Então você vai criar, basicamente Linhas rítmicas paralelas Cantando junto, o que vai ser Muito difícil de se cantar Porém vai ser pouco chamativo O que a gente pode dizer é que as cantoras E os cantores antigos da era do rádio Eles projetavam muito a voz Jogavam muito a voz pra fora Sempre usavam muitos melismas Muitos recursos vocais, vibratos e tal E o João Gilberto vai ter uma forma de cantar Minimalista, ele vai cantar Quase que aspirando as palavras Vai cantar Uma voz que a gente diria que não é uma voz Tanto de peito, é uma voz mais de garganta Ele vai cantar com uma voz menor Em termos de projeção Porém com uma riqueza rítmica muito grande Que hoje em dia, até na música brasileira Não é tão enfatizada assim A tendência Nos dias atuais Com até a influência da música americana É a gente valorizar muito os cantores chamativos Que projetam a voz, que jogam a voz Muito pra cima e tudo mais E talvez a forma de cantar Do João Gilberto Possa ser sintetizada Dentro daquela velha expressão Menos é mais Ele faz menos com a voz E tem um resultado sonoro muito interessante Consegue ter um resultado muito positivo Justamente por conseguir Fazer apenas o necessário Pra que aquela música aconteça E nisso ele se destaca dos outros E de fato ele vai ser De todos os membros da Bossa Nova Aquele que mais tempo Vai durar na Bossa Nova Uma coisa que a gente vai perceber Pelas gravações é que a Bossa Nova Vai ser um movimento até certo ponto efêmero O Tom Jobim vai partir Pra sua carreira lá fora Vai durar um pouco mais nisso Mas logo a gente vai ver o Vinicius de Moraes Indo tocar com o Baden Powell na Bahia O Carlos Lira tendo uma presença grande Dentro do movimento artístico universitário O Menescal Como executivo de gravadora buscando Outros músicos A Nara Leão cantando com O João do Vale e o Zé Keti No movimento Opinião que vai vir no movimento posterior Mas o João Gilberto Ele vai sempre permanecer Com essa estética de Bossa Nova Ele vai ser a síntese dessa Bossa Nova E por isso a importância dele é tão grande Pra você conceber essa própria Estética dessa Bossa Nova colocada E essa batida né Gabriel Que ele utilizava, que enfatizava os contratempos Que puxava aquelas 3 últimas cordas Do violão ali, tirando aquele som mais agudo Que era justamente tentando Reproduzir esse som Que eram oriundos Dos tamborins Porque uma coisa que a gente não falou Tanto aqui, é bom enfatizar É que a Bossa Nova também vem nessa linhagem do samba Antes de ser chamada de Bossa Ela era conhecida como samba moderno Era assim que estava sendo designada Essas primeiras músicas que estavam surgindo E o João Gilberto Vai ser um dos responsáveis Por marcar aquela figura Do banquinho e violão Como ele conseguiu sintetizar Todos aqueles instrumentos percussivos do samba No violão Ou seja, bastava um banquinho e violão Pra você Fazer o seu samba Então ele basicamente fez isso Na verdade, como o Gabriel estava comentando Ele foi um dos que conseguiram desenvolver Esse tipo de batida Que pegava o ritmo do violão E simplificava a batida do samba Nesse ritmo Inclusive em relação a essa questão que você mencionou Há uma discussão acadêmica grande Bem estabelecida Entre pessoas que acham que a Bossa Nova É apenas uma linguagem do samba E pessoas que acham que a Bossa Nova é um gênero a parte Tem gente que pensa e encara a Bossa Nova Como um samba Com mudanças de instrumentação Mudanças harmônicas E tem gente que encara A Bossa Nova como um gênero a parte Que abre caminhos para outras questões Existe uma certa divergência Até academicamente falando Sobre como essa Bossa Nova se encaixaria Nesse âmbito Depois dessa peregrinação que o João Gilberto fez E que favoreceu ele A desenvolver essas características Da batida da Bossa Nova Do tipo de canto Da divisão de canto Que ele fazia Ele volta pro Rio, ele encontra aqueles jovens Da Zona Sul, Menescal O Bôscoli Acaba se aproximando deles Que já gostavam do Jazz também E ficam encantados com o João Gilberto Também ele conheceu o Tom Jobim Nas Notes do Plaza O Tom Jobim na época era arranjador da Odeon O João Gilberto acaba mostrando algumas músicas Pro Tom Que gostou e convidou o João Gilberto A participar do disco que o Gabriel citou E que a gente tocou também uma música No bloco anterior Que é o disco do Elisete Cardoso Canção do Amor Demais Era um disco só de composições Do Tom e do Vinícius E o João Gilberto vai gravar o Chega de Saudade Tocando violão Já com a batida da Bossa Nessa música Esse é o primeiro registro fonográfico De Chega de Saudade Nesse disco da Elisete Inclusive é um disco, Tiagueira, em que o João Gilberto Já manifestou até discordância com a maneira Como a Elisete cantava A Elisete cantava como uma cantora à moda antiga Ela vai ter uma carreira bastante longeva Ela vai passar pelo samba canção Vai passar pela bossa e vai chegar no universo da MPB Vai gravar até Ser uma senhora idosa e tudo mais Mas de fato Naquele momento ela não estava bem enquadrada Na maneira como o João Gilberto achava Que aquela música deveria ser cantada Ela ainda cantava dentro daqueles moldes Da música mais antiga Que era não apenas uma escolha estética Mas também uma necessidade Como você bem disse Quando você falou sobre os discos de cera e tudo mais A gente tem que pensar que Antes de você ter a gravação elétrica E você ter a gravação de alta fidelidade O cantor tinha que projetar a voz Pra ela entrar numa campanha e furar o disco Então a escolha por uma voz projetada Ela não era apenas uma escolha estética Ela era uma necessidade E a partir do momento que na década de 50 Você tem uma popularização tecnológica A gravação em alta fidelidade Aí sim você vai poder cantar mais baixinho E lembrando que depois que o João Gilberto Faz essa gravação com a Elisete Cardoso Meses depois Ele já tinha conhecido o Tom O Tom que indicou ele pra participar do disco O João Gilberto vai assinar a Odeon E vai lançar o seu primeiro disco solo Que é considerado o marco inicial da Bossa Nova Que vai ter de um lado O Chega de Saudade Já que ele não concordou muito Como a Elisete estava cantando no próprio disco dela E do outro lado do disco O Bim Bom Que inclusive acho que a gente já tocou em outros programas E ali esse disco ele já caracterizava Já tinha aquelas características ali Que iriam permear a Bossa Nova As letras leves A interpretação vocal intimista A percussão sintetizada Na batida sincopada do violão Harmonia com acordes dissonantes Enfim Por isso que ele é considerado ali O marco inicial da Bossa Nova Depois em 59 o João Gilberto Vai lançar outro compacto O Obalalá com Desafinado Que também era uma parceria do Tom Jobim Com o Newton Desafinado também apresentava todos os elementos Características e inovadores Da Bossa Nova Que a gente já comentou aqui E logo depois disso ele vai lançar o primeiro LP dele O primeiro long play Esse disco de 78 era uma música de cada lado Que foi também o primeiro disco de Bossa Nova Chega de Saudade E na contracapa Vai ter inclusive um texto Escrito pelo Tom Jobim Que já admitia que o João Gilberto Influenciaria e influenciava Toda uma geração de músicos E agora para ilustrar esse bloco A gente vai ouvir João Gilberto Com Obalalá Depois O pato Na sequência o Samba da Minha Terra E por fim o clássico A parceria que ele fez com os Stan Getz Garota de Ipanema

Você acabou de ouvir aqui no Tempo e o Som, João Gilberto, quatro vezes Primeiramente com Obalalá, segundo com O Pato, terceiro com o Samba da Minha Terra e a quarta música junto a Stan Getz com Garota de Ipanema.


Então você ouviu essas quatro gravações do João Gilberto, desse que talvez seja o ícone maior esteticamente falando da bossa nova, aquele que melhor sintetiza talvez a estética da bossa nova. Porém a gente tem que entender que essa bossa nova ela não é apenas o João Gilberto, nem apenas o Tonho, nem apenas o Vinícius. Ela tem vários músicos ao redor dela, entre eles Nara Leão, o Carlos Lyra, entre eles o Menescal e tudo mais e ela vai se consolidar como um movimento que não pode ser sintetizado apenas nesses nomes e nesse bloco a gente vai falar um pouco sobre esse processo de consolidação da bossa nova e a maneira como ele se ramifica para outros músicos que não apenas esse.


É isso aí, então a partir do lançamento do disco do João Gilberto e do sucesso comercial que ele conseguiu alcançar, começam a vir mais shows de bossa nova, a bossa nova vira moda, tem o presidente bossa nova, na publicidade eles exploram muito esse tema da bossa nova, vai ter um programa de TV depois, O Fino da Bossa e o João Gilberto vai disparar, vai gravar depois três LPs aí pela Odeon em 59, 60 e 61, são long plays, discos completos esses discos estabeleceram de fato essa estética da bossa nova e dentre essa turma mais jovem que o Gabriel citou aí, a gente vai falar da Nara um pouco mais detidamente num próximo bloco, mas eu queria destacar nesse bloco aqui o papel do poeta e jornalista do Ronaldo Bôscoli, que foi muito importante para a consolidação da bossa nova, o Bôscoli assim como o Vinícius, ele era um letrista da bossa nova, ele não tocava nenhum instrumento, porém ele foi muito importante na parte de produção da bossa nova, ele colaborava muito com a divulgação do movimento na imprensa, era ele quem produzia e realizava diversos shows, principalmente no Beco das Garrafas, o Beco das Garrafas era um beco lá em Copacabana onde existiam umas boates, enfim eram umas três ou quatro boates ali, que na verdade eram casas de show, em que os músicos ficavam livres para tocar só música jazz, cool jazz e a bossa nova, e assim, claro, o Bôscoli promoveu reuniões, ele promoveu um show chamado A Noite do Amor do Sorriso da Flor, se aproximou do João Gilberto também na época, foi ele que produziu O Fino da Bossa, que era apresentado pela Elis Regina e pelo Jair Rodrigues na TV Record, o Bôscoli também havia sido namorado da Nara Leão, mas isso antes dela ser famosa, ele acabou se envolvendo em 61 com a Maísa, que já era uma cantora super reconhecida na época, tanto pelos seus discos, pela sua voz, quanto pelas suas bebedeiras e confusões, a Maísa, naquela época que a bossa estava na moda, não só a Maísa, a gente está falando aqui da Zona Sul e tudo, mas a verdade é que quando a bossa estava na moda, diversos artistas de outros gêneros começaram a gravar discos de bossa nova também, e a Maísa gravou um disco também em 61, por aquela gravadora Elenco, que a gente vai falar um pouco mais pra frente, e o Bôscoli achava que a voz dela seria um veículo ideal pra aumentar o alcance da bossa nova no Brasil inteiro, então o Bôscoli tinha essa visão mais de empreendedor da bossa nova, ele que vai dirigir também esse LP da Maísa, esse LP bossa nova em 61, e a Maísa de fato ajudou a dar projeção pra bossa nova. Agora só aconteceu o seguinte, quando a Maísa, o Bôscoli, o Menescal foram divulgar a bossa nova em alguns países aqui da América do Sul, o Bôscoli acabou se envolvendo amorosamente com a Maísa, a Maísa no retorno da viagem anunciou de surpresa um casamento com o Bôscoli, e ele acabou se afastando da Nara Leão ali também. É importante falar também que o primeiro parceiro de composição do Bôscoli foi o Carlos Lyra na verdade, após uma briga entre os dois é que o Bôscoli vai adotar o Menescal como parceiro, a briga ali dividiu meio que o pessoal da bossa nova, teve uma cisão entre aquele grupo que já frequentava o apartamento da Nara Leão, e aconteceu basicamente porque o Bôscoli estava negociando um disco que seria gravado coletivamente por essa turma da bossa nova, o mais jovem, só que o Lyra, como estava demorando muito esse disco a sair, o Lyra acabou assinando com a Philips para gravar um disco solo nos anos 60 também ainda, e isso acabou gerando essa briga que dividiu a bossa nova em dois grupos, de um lado ficou Menescal, Bôscoli e Nara, só até ficar o casamento, depois a Nara vai se aproximar do Carlos Lyra, e do outro lado o Carlos Lyra, o Oscar Castro Neves, Silvinha Telles e a Alaíde Cossas.


João Gilberto ficava em cima do muro na verdade, o João Gilberto parece sempre um indivíduo meio alheio a essas questões e essas brigas, ele parece um indivíduo que anda sozinho dentro desse contexto, e sobre a Nara Leão, a única questão que é interessante a gente enfatizar é que muitas vezes essa questão do relacionamento amoroso dela com o Bôscoli foi usado para até diminuir um pouco a presença, a importância e até a atitude dela em relação à bossa nova. Durante muito tempo, por ser uma moça jovem e bonita e tudo, foi tida apenas como a musa da bossa nova, como se ela não tivesse nenhum poder de decisão, criativo ou até mesmo de temático em relação àquela música, e fosse apenas um fantoche na mão de outras pessoas que estavam decidindo mais do que ela. Como a gente falou, no próximo bloco a gente vai falar um pouco mais sobre isso, mas a gente vai ver que a Nara Leão vai ter um papel muito importante com a atitude em relação não apenas à bossa nova, mas à música brasileira como um todo que vai vir posteriormente a isso.


Exatamente, a gente falou um pouco do Carlos Lyra, ele também foi um violonista e compositor importante, ele gravou três discos de bossa nova, mas a partir de 1962, ele talvez seja aquele elemento da bossa nova que vai começar a se aproximar do centro popular de culturas, que era o da UNE, passou a compor músicas com temáticas mais sociais, fugindo daquele ambiente da zona sul da bossa nova, e a Nara depois vai se aproximar do Lyra nessa questão aí de uma bossa nova mais engajada, mas a gente vai detalhar mais no próximo bloco. Perfeitamente, o mesmo a gente pode dizer também de uma figura como o Sérgio Ricardo, que tinha alguma presença na bossa nova, apesar de não fazer muito parte desse grupo inicial da bossa nova, mas que também vai ser um indivíduo muito importante quando você vai começar a ter uma politização maior dessa música brasileira, estabelecendo um diálogo importante com o cinema novo também, mas em geral era uma figura que tinha uma presença da bossa nova, apesar de não fazer parte desse grupo inicialmente. Então a gente tem pessoas que vão começar a adotar essa estética da bossa nova, apesar de não fazer parte das reuniões iniciais, então a bossa nova se ramifica a ponto de a gente ver posteriormente surgir uma nova geração de bossa novistas, após até esses bossa novistas iniciais terem abandonado um pouco o barco da bossa nova, ela vai ser um movimento em certo ponto efêmero, até como retratando um pouco as mudanças políticas do país, que a gente vai falar no próximo bloco, mas você vai ter indivíduos que vão começar a aparecer numa geração posterior, que é o caso do Marcos Valle, que vão ser músicos que vão gerar uma certa renovação dessa bossa nova, enquanto os que são iniciadores de tudo vão acabar demandando dessa estética puramente bossa novista que a gente falou inicialmente.


Antes da gente comentar um pouco dessa transformação da bossa nova, só para registrar e deixar consolidado um grande momento dessa primeira geração, acho que é legal citar o show de 62, a temporada de shows que aconteceu em 62, na Casa Bom Gourmet, que foi a temporada que reuniu no mesmo show os três grandes da bossa nova, Tom, Vinícius e João Gilberto. Foi a primeira e última vez que isso aconteceu, inclusive foi nesse show que foi apresentado para o público, Garota de Ipanema, Samba do Avião, Só Dança e Samba, e a temporada durou mais ou menos um mês e meio, sempre com casa cheia, e marcou claro que além da reunião desses três grandes da bossa nova, o fim da parceria entre Tom e Vinícius. Então Tom e Vinícius iriam continuar amigos, mas eles não iriam mais compor após esse show de 62 do Bom Gourmet.


E só citando, Garota de Ipanema, como todo mundo na verdade já sabe, foi inspirada na letra Helô, jovem que o Tom e o Vinícius admiravam nos ídolos de 62, enquanto bebericavam ali na beira da praia de Ipanema, uma gelada ali no Barra do Veloso. Ela passava e eles compuseram essa letra para Helô. Bom, nesse bloco a gente vai ver então Nara Leão, com Esse Mundo é Meu, Carlos Lyra, Influência do Jazz, ou seja, já está indicando a influência que a bossa nova tinha do jazz, Chico Feitosa, com Caminho, e Mário Castro Neves, com a música Candomblé.


Você está ouvindo O tempo e o som Você acabou de ouvir aqui no Tempo de Um Som, Mário Castro Neves cantando Candomblé, antes Chico Feitosa cantando Caminho e Abandono, pra iniciar o bloco Esse Mundo é Meu de Nara Leão e Carlos Vira cantando Influência do Jazz. Bom, nesse bloco a gente vai falar um pouco sobre a maneira como a bossa nova acabou se tornando conhecida, principalmente no universo dos Estados Unidos, mas mundialmente falando. Recentemente houve uma lista das músicas brasileiras mais gravadas internacionalmente e 7 das 10 músicas brasileiras mais gravadas internacionalmente eram músicas de bossa nova.


A bossa nova talvez seja a principal representante da música brasileira internacionalmente. Não só nos Estados Unidos, mas na Europa como um todo, Portugal e França, bossa nova é muito ouvida e muito difundida. Isso se deu um pouco por uma tendência do jazz até gravitar em direção à bossa nova.


Ao mesmo tempo que os bossa novistas admiravam os cantores de jazz, os músicos de jazz, o cool jazz, como a gente falou, muito marcado pelo Chet Baker e pela maneira de cantar também um pouco mais intimista desses cantores, o jazz também buscava se renovar, também buscava outras influências, estava buscando uma forma de renovar a sua estética inicialmente presente e de fato buscar em países periféricos essa estética vai ser um caminho que ele vai tomar. Então a bossa nova vai servir muito bem a esses interesses de renovação que a música americana vai ter nesse momento. Junto a isso, você tem um ambiente de guerra fria, que a gente já citou, em que a política da boa vizinhança vai ser de aproximação com a música brasileira.


Então não à toa, no final da década de 50, especialmente na década de 60, vários dos grandes músicos norte-americanos vão gravar bossa novas. Estou falando de Miles Davis, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, entre outros, vão gravar músicas de bossa nova. Num dos principais livros de jazz que a gente tem no mundo, que é o Real Book, que tem os estándares do jazz, as músicas mais tocadas do universo do jazz, você tem diversas bossa novas ali presentes também, Wave, Corcovado e tudo mais.


Então essa busca por essa estética sul-americana que renova esse jazz vai fazer com que muitos dos bossa novistas gravitem em torno dos Estados Unidos. Não à toa, no ano de 1962, você vai ter um show, um famoso show no Carnegie Hall, acontecendo em Nova York, em que vários músicos do universo da bossa nova vão pra poder tocar e representar essa música brasileira. Além disso, você vai ter um disco muito célebre, que é o disco do Sinatra com o Tom Jobim, gravado no ano de 1967, um pouco posteriormente, mas vai ser o primeiro disco em que o Frank Sinatra, que era o principal cantor, talvez o mais célebre cantor do mundo, a primeira vez em que o Sinatra vai cantar apenas obras de um compositor específico.


E vai dividir a capa do disco entre Sinatra e Tom Jobim, o nome do disco é Sinatra e Jobim. Pra poder gravar esse disco, o Tom Jobim vai acabar abandonando o seu piano e a flauta, que eram os seus instrumentos de preferência, e vai acabar tocando violão, que era mais ligada à estética da bossa nova. Então, buscando se adequar a essa estética, o Tom Jobim vai tocar violão pra poder acompanhar o Frank Sinatra, em algumas versões ele canta em inglês e o Tom em português, e em outras eles cantam os dois em inglês, em letras adaptadas pro estrangeiro.


Isso vai fazer com que o Tom Jobim passe uma boa temporada dentro dos Estados Unidos e vai ter diversas gravações naquele universo. Além disso, você vai ter outros músicos que também vão ter muito sucesso lá fora. As gravações, uma delas que a gente já ouviu, por exemplo, do João Gilberto com Stan Getz , vão ser um símbolo disso.


E vários cantores e compositores norte-americanos vão se prestar a trabalhar ao redor da bossa nova. Até mesmo músicas que não estão vinculadas a esses compositores da bossa nova vão começar a acontecer. Então a gente vai ver, de repente, surgindo uma música com a cara da bossa nova, totalmente bossa novística, porém feita por um compositor norte-americano, nos Estados Unidos, ou até cantada em francês.


Você vai ter um cantor chamado Pierre Barru, que vai começar, na França, a fazer traduções das músicas brasileiras, da bossa nova, para o francês, e esse vai ser um grande sucesso durante a década de 1960, possivelmente. É isso aí, né, Gabriel? Eu só queria enfatizar que o disco que o João Gilberto gravou com Stan Getz, na verdade foram dois discos, né? Tinha a versão de Garota de Ipanema que ia explodir no exterior, né? O vocal dessa música, na verdade, foi gravado tanto pelo João Gilberto, tinha uma parte da letra em português cantada pelo João Gilberto, a outra parte em inglês era cantada pela mulher do João Gilberto na época, Astrud Gilberto, e esse álbum ganhou três Grammys, então, assim, foi um álbum que acho que ele ajudou a expandir os horizontes da bossa nova para as terras do tio Sam aí, né, como se fala. Nessa época também, um pouco depois do show lá em Nova Iorque, no Carnegie, é importante citar que começou a surgir também um estilo derivado e paralelo da bossa nova, era o samba jazz, né, que inclusive a principal composição dos conjuntos de samba jazz era naquele formato de trio ali, então nasceu o Tamba trio, que nasceu inclusive tocando no Beco das Garrafas, que contava ali com o Luiz Eça, Elcio Milito, Bebeto Castilho, tinha o bossa 3, que era do Luiz Carlos Vinhas, do Tião Neto, Edson Machado, os pianistas Dom Salvador e Tenório Junior, Antônio Adolfo, João Donato, tiveram os seus trios próprios de samba jazz também, em 64, Cesar Camargo Mariano formou o Samba Lanço Trio, com Ayrton Moreira, Humberto Kleber, o Jongo Trio e o Zimbo Trio eram de São Paulo, né, então assim, existiu todo um movimento aí de música instrumental, que bebia ali da fonte da bossa nova também, né, não tinha o vocal, não tinha as letras e aprofundava também a fusão entre a bossa nova, a música brasileira e o jazz, né, nesse estilo do samba jazz, os primeiros discos do João Donato já tocando piano, são considerados os inauguradores do estilo.


Vale lembrar que para o universo do choro, essa ascensão da bossa nova, essa modernização, digamos, da música brasileira, ela vai ter um efeito complicado, porque o choro vai perder muito protagonismo em relação à música brasileira, ele vai ser menos exposto, figuras notórias do universo do choro, como é o caso do Jacob do Bandolim, vão torcer o nariz para a bossa nova, vão falar mal dos jitos modernos, que estrangeirizam a música brasileira e coisas desse tipo, porém, é interessante a gente ver também a gravação, caso o ouvinte queira procurar e tudo, a gravação do Jacob do Bandolim com o Zimbo Trio e a Eliseth Cardoso cantando Chega de Saudade, que foi essa tentativa de encontro entre o moderno e o tradicional, no disco Eliseth, Zimbo Trio, Jacob do Bandolim, do ano de 1968. Então, havia uma certa recessão por parte do pessoal do universo do choro, que era a música instrumental brasileira, mais tradicional, em relação a essa jazzificação da música brasileira que estava começando a acontecer dentro desse momento. Por fim, eu acho que vale mencionar aqui também, em 1962, a fundação da gravadora Elenco.


Elenco foi fundada pelo Aloysio de Oliveira, que idealizou esse selo, na verdade, Elenco foi idealizado como um selo que faria parte de uma grande gravadora, e a ideia era lançar música brasileira considerada moderna, e é claro que assim, a Elenco ficou muito conhecida por ter ali no seu elenco, de fato, o pessoal da Bossa Nova. Então, no fim das contas, não deu certo a Elenco ser fundada como um selo, ela acabou tendo esse caráter de gravadora independente, sem ligação com nenhuma major. Em 1963, a partir de 1963, a Elenco começa a soltar os seus discos, o primeiro disco inclusive é uma parceria do Vinícius de Moraes com a Odete de Lara.


O Aloysio vai comandar a Elenco por 3 anos, vai conseguir resistir por 3 anos, de 1963 a 1966, porém ele vai conseguir produzir cerca de 60 discos. As tiragens inicialmente eram de 2 mil discos, ou seja, não eram muito grandes, mas dependendo das vendas, podiam chegar até quase 10 mil discos. Então Vinícius, Tom Jobim, Baden Powell, Sérgio Mendes, Menescal, Nara e João Donato foram alguns músicos que lançaram discos pela Elenco.


E uma outra coisa que caracterizava a Elenco e chamava bastante atenção também eram as capas dos discos. As capas eram feitas pelo designer César Villela e eram compostas basicamente por 3 cores que caracterizavam a sua linguagem visual da gravadora e dialogavam com o minimalismo da Bossa Nova. Então eram cores predominantemente brancas, as capas eram predominantemente brancas, com fotos em preto e branco e com alguns detalhes na cor vermelha que aludiam ao vermelho presente no logo da Elenco.


A principal dificuldade da Elenco foi justamente a distribuição de discos, eram as próprias gravadoras que realizavam a distribuição logística do disco, ou seja, a gravadora tinha que ter um esquema de logística para fazer o disco chegar nas lojas. E a Elenco não tinha condições de ir muito longe e também demorou para ir para São Paulo, porque a gente falou muito do Rio, mas comercialmente quem levou mesmo a Bossa e divulgou foi o estado de São Paulo. Já que a gente está falando de gravadora aqui também, eu só queria fazer uma menção antes da gente anunciar as músicas, a gravadora Forma, que era do Roberto Quartin, e tinham capas também reforçadas e geralmente eram ilustradas com pinturas, e a Forma acabou lançando Coisas, do Moacir Santos, que é um clássico, além do Afro Sambas, que a gente vai falar no próximo bloco, e do Inútil Paisagem, que era um disco que o Deodato tocava músicas do Tom Jobim.


Bom, nesse bloco a gente vai ouvir então Edu Lobo, Queen Bola, Geraldo Vandré, com Ninguém Pode Mais Sofrer, Simonal, com Samba de Negro e Marcos Vale, Batucada. Alguns desses artistas a gente vai falar no próximo bloco, na segunda geração da Bolsa Nova.


Você está ouvindo o tempo e o som Na sua rádio eixo Você acabou de ouvir aqui no Tempo e o Som Marcos Valle com Batucada Simonal com Samba de Negro Geraldo Vandré, Ninguém pode mais sofrer e Edu Lobo com Embola Esses, como eu citei no bloco anterior, são representantes já da segunda geração da bossa nova que a gente vai falar um pouco aqui mas inicialmente vamos falar um pouco da bossa de esquerda que começou a surgir já aí na década de 60 Pois é, Tiagueira, o que acabou acontecendo é que durante a década de 1960 a gente vai ter uma mudança política muito grande no Brasil a gente vai sair daquela esperança trazida pelo governo JK pela Copa do Mundo de 1958 por um Brasil que se viu primeiro sem presidente quando o Jânio Quadros acaba saindo do poder renunciando ao cargo depois com manobras políticas João Goulart acaba não governando e apenas em 1964 ele vai se tornar de fato presidente do Brasil porém durante muito pouco tempo porque você vai ter o golpe militar de 1964 que vai trazer a ditadura para o país De fato, conforme esse tempo vai passando a esperança em relação ao futuro do Brasil vai diminuindo e a necessidade de politização das letras também vai se ampliando Então a gente vai ver surgir durante os anos iniciais da década de 1960 o que a gente vai chamar de MPB Música Popular Brasileira lembrando que esse termo não era utilizado antes disso ou o cantor era um cantor de Bossa Nova ou ele era um cantor de Jovem Guarda ou ele era um cantor de Baião ou de Samba ou coisas do estilo essa diluição das fronteiras entre os gêneros musicais que vai ser representada pela Bossa Nova a gente vai falar posteriormente em outro programa e tudo mais mas de fato o que vai acontecer nesse momento é que essa própria Bossa vai começar a se revisitar e a olhar com outro olhar o seu legado que tinha deixado anteriormente então essa temática de letra que já estava muito presente que a gente citou anteriormente que é a temática da contemplação da natureza da contemplação do corpo da mulher até da fruição do espaço e tudo mais ela vai estar menos presente ou na verdade vai fazer menos sentido para as pessoas dentro daquela época e a Bossa vai começar a ser tida como um movimento alienado um movimento alienado que era de classe média, de classe média alta e que não refletia as mazelas sociais do Brasil de fato a gente já questionou o quanto essa classe média representa a Bossa Nova mas a gente não pode questionar a maneira como esse olhar vai acabar chegando nas pessoas as pessoas vão acabar olhando a Bossa Nova dessa maneira e isso vai fazer com que os próprios membros da Bossa Nova rapidamente gravitassem em torno de outros eixos temáticos para as suas composições, para a sua obra já prenunciando o que viria a ser a MPB no período posterior então uma das figuras centrais nesse processo vai ser a Nara Leão que vai começar o show Opinião ao lado do João do Vale ao lado do Zé Keti e vai passar a cantar músicas que vão falar de dilemas sociais muito importantes para a população mais pobre do Brasil como a presença deles nos morros a questão do retirante que está presente em músicas como Carcará, em músicas como Opinião que vão ser músicas que vão retratar até certo ponto algo que a Bossa Nova não fazia anteriormente ao mesmo tempo a gente já falou anteriormente como o Carlos Lira vai ter uma posição muito importante dentro dos centros populares de cultura da União Nacional dos Estudantes, promovendo shows trazendo pessoas para tocar trazendo representantes de lugares do Brasil que antes não estavam muito expostos dentro da Bossa Nova ritmos diferentes, ritmos novos vão começar a aparecer o Menescal vai se tornar executivo de gravadora vai promover carreira de diversos cantores e cantoras na música brasileira então de fato essa Bossa Nova vai acabar gravitando para outro eixo o que vai fazer com que esse movimento inicial da Bossa Nova seja um movimento muito efêmero vale lembrar e vale dar destaque também a incursão do Vinicius de Moraes junto ao Baden Powell e pelos Afrosambas cantando sobre temáticas de música negra, falando sobre Orixás, falando sobre Bahia, buscando uma linguagem que ele não utilizava anteriormente quando ele era um letrista da Bossa Nova especificamente.


Então de uma certa forma a gente pode dizer que esses cantores e cantoras da Bossa Nova vão se pluralizar eles vão buscar outras estéticas e estéticas mais engajadas politicamente e socialmente retratando um pouco mais os dilemas vividos pelo país e deixando um pouco mais de lado essa contemplação e essa esperança por um futuro muito ensolarado, bonito e tudo mais o Tom Jobim talvez seja aquele que mais tempo tenha durado dentro desse universo da Bossa Nova ele vai ainda, como a gente falou, em 67 gravar o disco com Frank Sinatra cantando Bossa Nova, vai ter uma incursão na Bossa Nova grande lá nos Estados Unidos vai ser dos compositores de Bossa Nova talvez aquele mais celebrado internacionalmente então isso vai fazer com que ele dure mais tempo na Bossa Nova, porém ele também vai se arvorar fazer coisas muito diferentes, como é o caso do disco Matita Perê, em que ele vai buscar músicas orquestrais, sonoridades distintas, com muita influência do impressionismo francês, buscando outros parceiros para suas canções estabelecendo parcerias com letristas mais jovens e falando bastante sobre até a questão ambiental algo que já estava presente dentro do universo da Bossa Nova, a gente já citou anteriormente, falar bastante sobre o mar sobre a onda, o oceano e coisas desse tipo no caso do Tom Jobim ele vai fazer músicas sobre rio, vai fazer músicas sobre passarinhos, vai fazer um disco com o nome de um passarinho, por sinal ele tinha um sítio lá em Araras na serra do Rio de Janeiro e lá ele basicamente contemplava a natureza, ficava lá, via, andava algo que até em alguns momentos foi visto como um certo deslumbramento estranho do Tom Jobim pela natureza, mas hoje em dia nos tempos que a gente vive, em que a temática ambiental está tão presente nos tempos atuais, essa busca por uma letra engajada sobre as questões da natureza, cada vez mais faz sentido para os mundos atuais que a gente vive, em que a natureza está cada vez mais degradada e a gente vê a preservação como algo muito importante, não é mesmo? É isso aí Gabriel, gostaria apenas de complementar ali na parte do Afro Sambas, que é uma curiosidade sobre a produção do disco, o Vinícius e o Baden Powell, para compor o disco eles ficaram 3 meses trancados no apartamento do Vinícius onde segundo as contas do próprio Vinícius, que não são muito confiáveis eles consumiram cerca de 20 caixas de uísque inclusive o Vinícius acabou de compor o disco e já saiu direto para uma clínica de internação embora o disco tenha sido gravado em 1962 ele só vai sair mesmo em 1966 pela gravadora Forma, como eu citei e vai trazer aqueles clássicos que a gente já conhece, Berimbau e Canto de Ossanha, dentre outros dentro daquele cenário de pluralidade, de fragmentação que vai caracterizando esse período da bossa nova já nos anos 60 que o Gabriel citou a gente pode inclusive falar em uma segunda geração da bossa nova claro, tinha o pessoal da bossa engajada, tinha o pessoal do samba jazz, mas também vai ter um outro pessoal que vai surgir ali, principalmente naqueles festivais de música também, que depois vão dar origem a MPB, então artistas como o Wilson Simonal que fazia uma bossa nova mais swingada perto do soul, o Marcos Vale, a Wanda de Sar o Edu Lobo, o próprio Geraldo Vandré e o Sidney Miller vão começar a se destacar nesses festivais, então em 65 por exemplo, o Edu Lobo vai gravar o Arrastão em 66 o Geraldo Vandré vai gravar o Disparada perdão, na verdade eles não vão gravar, mas vão apresentar nesses festivais e era uma bossa nova também com certo engajamento e já com o viés regionalista já não abordava tanto a zona sul e também era aquela história, era uma transição, era um pouco de bossa nova mas já também que estava começando a se transformar ali também e também acho que vale a pena citar um cara que surge ali em 63 também tocando no Beco das Garrafas, que é o Jorge Ben quando ele lança o disco dele Samba Esquema Novo, tem uma influência da bossa nova ali, o canto baixinho, a batida de violão mais percussiva mas já também abrangendo o swing e a influência do soul que começavam a chegar mais no Brasil e ele e o Simonal faziam muito essa interseção entre essa bossa e a soul music e foram criando esse estilo bem particular deles então nesse bloco a gente ouviu mais algumas canções, Nara com Opinião, Tom Jobim com Águas de Março, ambas essas músicas, elas refletem muito bem os dois momentos que o Gabriel comentou a Nara já com Opinião que é uma composição do Zé Kéti, uma bossa nova mais de esquerda uma bossa nova mais engajada como eles falavam na época, Águas de Março do Tom Jobim que é uma composição bem voltada para esse lado mais ecológico que ele começou a compor e claro o Baden Powell e o Vinícius com Canto de Ossanha e a Wanda Sá com Vagamente


Você está ouvindo o tempo e o som Na sua rádio eixo Você está ouvindo o tempo e o som Bolinha de sabão, tuplec, tuplin Essa é uma música composta pelo Orlandivo E as onomatopeias vão estar muito presentes nas músicas de sambalanço Teleco teco, ziriguidum, skindô Eram onomatopeias que caracterizavam o sambalanço E pra fechar essa parte do Orlandivo Eu só queria registrar que ele era um excelente compositor O Jorge Ben gravou uma música dele no seu segundo disco Onde ando meu amor é do Orlandivo E até aquela música que vocês devem conhecer Do Baiano e Novos Caetanos Vou bater pra tu também é do Orlandivo Então ele era um excelente compositor Gabriel, você quer falar um pouco sobre a Elza Soares Que também lançou alguns discos de sambalanço Teve uma parceria com o Miltinho A Elza vai ser sempre uma compositora Apesar de ser oriunda do Morro do Salgueiro E tem uma presença muito forte dentro do universo da escola de samba A Elza Soares vai ser uma cantora Que vai, já inicialmente na carreira dela Buscar uma música mais moderna Uma música um pouco mais internacionalizada Então talvez os primeiros discos dela Sejam melhores classificados como sambalanço do que como qualquer outra coisa Então se a gente for ouvir a Bossa Negra Você vê que é um disco que tem um acompanhamento de bateria Que tem órgão tocando Que tem instrumentos estrangeiros E uma forma de cantar que se adequa muito bem àquela forma de cantar Dos grandes nomes do jazz norte-americano Lembrando Ella Fitzgerald E tantas outras grandes cantoras que existem dentro do universo internacional Então foi uma cantora que sempre teve esse olhar Para esse rumo de uma música brasileira que dialogasse com a música estrangeira Não à toa ela sempre retratou muito bem A admiração que ela tinha pelo Louis Armstrong O grande cantor de jazz O célebre cantor de jazz Então a Elza de fato daria um episódio à parte Só falar sobre ela ela é uma figura que vai ter uma potência muito grande Porque ela vai retratar em boa parte A maneira como a sociedade brasileira pensava o mundo dentro daquela época A gente pode dizer que a maneira como a sociedade encara Ela até julga pejorativamente A partir da relação dela com Garrincha Que era um homem casado e coisas desse tipo Todas as barras que ela vai ter que passar na vida dela e tudo mais Dariam vários programas desse aqui Mas o que a gente pode dizer é que nesse momento inicial pela forma de cantar Pela maneira como ela vai buscando sonoridades Ela dialoga muito mais com essa música do Jorge Ben Do Simonal do que de fato com aquele samba mais tradicional E nem com a MPB daquela época Então a gente melhor poder caracterizar a Elza Soares especialmente nos momentos iniciais É Samba Lanço mesmo E é isso pessoal, esse bloco foi mais para deixar registrado Que o Samba Lanço embora não tenha tido o mesmo destaque E a mesma relevância da Bossa Nova Em âmbito nacional Ele foi importante no desenvolvimento da MPB Justamente por reverberar em diversos outros artistas E o Samba Lanço só para vocês terem uma ideia Ele durou mais ou menos de 60 É claro que os bailes começaram no final dos anos 50, 58 mais ou menos Mas a partir dos anos 60 começaram a ser lançados vários discos Então durou mais ou menos de 60 a 65 Esse movimento do Samba Lanço A gente pode classificar como Samba Lanço cerca de 80 discos Foram lançados nesse período de 5 anos Ou seja uma produção significativa para a gente considerar Colocar ele aqui no programa E aí a gente vai ouvir aqui, na verdade é o seguinte A gente vai se despedir e vai ouvir já também Ed Lincoln com Vamos Balançar O Orlandivo com a versão original de Onde Anda O Meu Amor A Elza Soares com Toque Balanço Moço Essa composição foi feita pelo Roberto Erasmo Ou seja o Roberto Erasmo naquela época vendo que o Samba Lanço estava com certo destaque Também compuseram o Samba Lanço Que foi gravado pela Elza Soares E fechando o bloco para destacar a influência cubana no Samba Lanço O Celso Murilo que era um organista Com Tchá Tchá Celso É isso aí pessoal, foi um prazer conversar com vocês sobre a Bossa Nova O Samba Lanço, eu queria deixar um abraço aqui Tem que lembrar sempre que o programa O Tempo e o Som É produzido com recursos do Fundo de Apoio à Cultura Obrigado ao FAC, à Secretaria de Cultura Que está incentivando esse trabalho de dimensão cultural E o Tempo e o Som também é fruto de um trabalho coletivo Fazem parte dele o Gustavo Pozzobon que é o designer A Cintia que é a produtora, o Miguel que faz parte da edição Eu sou o Thiago Santos e o Gabriel vai se despedir de vocês agora Muito obrigado, é sempre um prazer Falar sobre música brasileira ao lado de vocês Espero que vocês gostem, ouçam e busquem novas informações Ouvir essas gravações É sempre um prazer estar aqui E nos vemos no próximo programa

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