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Transcrição | O Tempo e o Som - 005 - Samba, parte II

  • tiagosantos2545
  • há 6 dias
  • 27 min de leitura

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O Tempo e o Som - 005 - Samba, parte II




[Palestrante 1]

Bem-vindos ao programa O Tempo e o Som, podcast que narra a história da música popular brasileira. Você vai ouvir agora a segunda parte do programa de samba. Se você ainda não ouviu a primeira parte, é só ficar ligado na programação da Rádio Eixo ou nas plataformas de streaming.


Eu sou o Tiago Santos e estou aqui com o meu amigo Gabriel Carneiro. Sempre um prazer falar com vocês, pessoal, e muito bom sempre também falar sobre samba. E nesse bloco a gente vai falar um pouquinho sobre bossa nova, esse gênero musical que vai trazer uma grande mudança na música brasileira, principalmente em relação ao estilo, a forma de cantar diferente, a instrumentação diferente, transformações que vão acabar repercutindo bastante na música brasileira e que vão tornar o gênero aquele mais gravado internacionalmente de toda a história da música brasileira. Então a bossa nova vai ser uma exacerbação das fronteiras do Brasil em relação à música brasileira. Vai ser a música brasileira atingindo o mundo.


Isso tudo se dá, é claro, em um contexto geral de transformação que vai além até da música e atinge o âmbito político e social do país, não é mesmo, Tiago? É isso aí, Gabriel. Então ali, em meados da década de 50, o Brasil vai acelerar sua modernização através de um rápido desenvolvimento industrial, da urbanização e de investimentos nas áreas de energia e transporte.


Era época de crescimento econômico com a expansão das estradas e aumento da produção de automóveis e consumo de eletrodomésticos, como a televisão. Até uma nova capital, Brasília, vai surgir para representar esse país moderno e desenvolvido. O slogan do governo era desenvolver o país 50 anos nos 5 anos de mandato.


Isso tudo liderado pelo presidente bossa nova, como ficou conhecido JK, devido a uma canção composta por Juca Chaves. E também é interessante a gente notar que isso também vai repercutir dentro dos meios de gravação. Então a gente vai começar a ter a gravação em alta fidelidade, com mais força no Brasil, o que vai proporcionar às pessoas as possibilidades de gravar de maneira diferente.


Então quando a gente começa a chegar na década de 1950, a gente vê que a qualidade do registro fica bem melhor do que a qualidade que a gente tinha musicalmente antes. Bacana. Assim como o país estava passando por diversas mudanças, o samba, um dos principais gêneros populares, também vai passar por transformações.


Eram outros tempos e as letras melodramáticas sobre amores intensos, os arranjos com excessos orquestrais e aquelas oscilações abruptas entre graves e agudos que caracterizavam o samba-canção, já não agradavam parte da juventude da Zona Sul do Rio de Janeiro, que havia começado a ouvir o cool jazz de Miles Davis e Chet Baker, que era uma música mais lenta, mais simples, com menos notas, comparada com o jazz bebop, que era frenético e também tinha como principais representantes o Charlie Parker e o Dizzy Gillespie.


Essa renovação do jazz vai ser uma renovação que vai ser muito necessária até para a transformação e para trazer novos ares a esse ritmo. Então lá fora começou a se criar uma ideia de que era enfadonha o excesso de notas. Então esse minimalismo de cantar menos e tudo mais começa a aparecer lá fora e, coincidentemente ou não, também vai começar a aparecer aqui.


Existe uma certa controvérsia em relação ao quanto essa bossa nova é uma revolução de fato ou quanto é só uma transformação estilística. Existe um secto de pessoas que seguem uma proposta acadêmica da USP que dão essa ideia de que a bossa nova é a grande transformação da música brasileira e tem gente que diz que é só uma transformação de estilo. Uma outra querela que existe também é justamente essa que também vai falar sobre o quanto essa influência mais minimalista da bossa nova de cantar menos, cantar mais baixo, menos instrumentação e coisas do tipo, que vai ser alimentada por essa classe média, vai ser uma decorrência natural do samba ou o quanto ela vai ser uma influência muito forte nessa música estrangeira.


Porque de fato o que a gente viu durante esse período, e a gente falou isso na aula de samba e na aula de choro, é que a maneira como as harmonias eram construídas no universo do samba vai ficar muito ampla, vai usar extensões de acordes. Então você vai começar a usar arranjos de orquestra, orquestração, vai ser tudo muito mais preenchido e com o tempo você vai ver isso também sendo reduzido, sendo enxugado para instrumentos menores. Inclusive você tendo precursores da bossa nova dentro do universo da música instrumental brasileira, que é o caso do Garoto, a gente já falou sobre isso até dentro do universo do choro.


Então existe gente que interpreta essa bossa nova como uma grande revolução, que vai ter muita influência da música estrangeira e existe gente que vê mais essa bossa nova como uma decorrência natural de uma transformação que estava sendo vivida pela música brasileira, com a influência de arranjadores e com instrumentistas que buscavam uma instrumentação um pouco mais enxuta, uma batida de violão talvez um pouco mais enxugada, como era a batida de violão que a gente via, por exemplo, no trio Surdina com o Garoto e com outros compositores. É isso aí, é importante lembrar também que a bossa nova vai mudar um pouco o cenário de onde o samba é elaborado, ao invés dos morros do Estácio ou daqueles cabarés nas madrugadas de Copacabana, a bossa nova vai surgir nos apartamentos de jovens da classe média branca, também em Copacabana, que passam a se reunir para compor sambas, que dialogassem com uma conjuntura mais moderna do país. Era uma música mais sofisticada, com novas alternativas harmônicas e melódicas e que era influenciada pelo jazz.


E como marco inicial, a gente pode lembrar sempre o disco da Eliseth Cardoso, cantando músicas de Tom e Vinicius, que é o Canção do Amor Demais, que é um disco muito importante, muito relevante, ainda com arranjos orquestrais, ainda com uma estética de canto muito aberta, pouco minimalista, que já é um marco inicial. Outro marco inicial que vai ser importante vai ser um disco chamado Por Toda Minha Vida, um disco da cantora Lenita Bruno, arranjado pelo maestro Léo Peracchi, também um disco importante, mas o mais importante, o mais relevante deles, obviamente, é o compacto Chega de Saudade de um lado, Pim Bom do outro, gravado por João Gilberto no ano de 1958, que é tido por todos como o marco principal da estética da bossa nova, deixando muito clara a participação do João Gilberto como o desenvolvedor, ou talvez até o disseminador dessa batida rítmica do violão, do Tom Jobim como sendo o grande compositor das harmonias, arranjador, orquestrador, e do Vinicius como sendo o grande letrista desse processo.


Ambos os discos, todos esses três discos, trazem uma participação direta ou indireta de João Gilberto, de Tom Jobim e de Vinicius de Moraes. Beleza, só complementando aí, o Gabriel citou aí a trilogia da Santíssima Trindade da bossa nova, João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius, mas houveram outros nomes também que foram muito importantes, a Nara Leão, Carlos Mira, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, era aquela turma que se reunia no Beco das Garrafas, em Copa, que era um local que abrigava diversas boates onde os músicos bossa-novistas acabavam se apresentando.


E agora, para representar a bossa nova, a gente vai ouvir Garoto, com Duas Contas, depois Elisete Cardoso, Canção de Amor Demais e João Gilberto, com Isso Aqui, O Que É Você está ouvindo o tempo e o som na sua rádio eixo.



[Palestrante 2]

Você está ouvindo o Tempo e o Som, na sua Rádio Eixo.


[Palestrante 1]

Você acaba de ouvir aqui no Tempo e o Som, João Gilberto cantando Isso Aqui O Que É, música de Ary Barroso, Elizeth Cardoso cantando Canção de Amor Demais, música de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e Garoto cantando Duas Contas, músicas dele próprio, música que muita gente considera como sendo um precursor da Bossa Nova, já que essa música ela antecede, pelo menos em oito anos, os marcos iniciais da Bossa Nova, que seriam esses discos Chega de Saudade, Canção de Amor Demais, Por Toda a Minha Vida. Seguindo a nossa história sobre o samba na música brasileira, a gente chega na década de 1970, que vai ser uma década, até certo ponto, contraditória para a música brasileira.


Como todos vocês sabem, em 1964 começa a ditadura militar no Brasil. E a ditadura militar, apesar de muito repressora em relação à música brasileira, a gente há de ressaltar também que ela também vai dar uma contribuição interessante à música brasileira, pois com a tentativa de cooptar e de conciliar com grupos de mídia e com a produção midiática durante toda a ditadura, ela vai acabar investindo em bastante maquinário. Então vai investir em maquinário para imprensa, vai investir em maquinário para gravação, vai começar uma lei chamada Disca Cultura, que vai isentar de imposto a formação de discos.


E com isso, durante a década de 1970, o que a gente vai ver vai ser uma disseminação muito grande de gravadoras no Brasil e pessoas que nunca gravaram anteriormente começaram a gravar nessa época. Então nisso, boa parte dos grandes compositores de escola de samba que a gente já conhecia, que tinham uma presença muito importante em comunidades e que nunca tinham tido a oportunidade de fazer um registro formal bem colocado da música deles, vai acabar gravando durante esse período. Esse pessoal que a gente está falando, a gente está citando nomes muito emblemáticos da música brasileira.


Estamos falando de Nelson Cavaquinho, estamos falando de Candeia, estamos falando de Clementina de Jesus, estamos falando de Cartola, que talvez desses exemplos seja o mais interessante. Uma figura extremamente importante, fundadora da Mangueira, e ao mesmo tempo uma figura que até os 60 anos de idade, até os 64 anos de idade, para ser mais preciso, nunca havia gravado em toda a sua carreira. Paralelamente, a gente também vai ver novos nomes do samba surgirem e aparecerem com mais presença na música brasileira.


É o caso da Betty Carvalho, é o caso da Clara Nunes, é o caso da Alcione, é o caso do João Nogueira, é o caso do Roberto Ribeiro, e também é o caso de nomes que marcaram época e que continuam presentes até os dias de hoje, como o Paulinho da Viola e o Martinho da Vila, figuras importantíssimas para as escolas de samba. Muito associados às escolas de samba, o Paulinho da Viola, a Portela, o Martinho da Vila, a Vila Isabel, e figuras extremamente relevantes para a música brasileira. Sobre o Cartola especificamente, o que a gente pode dizer é que ele sempre foi uma figura importante dentro do universo da Mangueira.


Nos anos 40, ele sempre participava dos desfiles, teve canções gravadas por grandes músicos, grandes cantores da música brasileira, Silvio Caldas, Francisco Alves, Carvalho e Miranda. Porém, em nenhum momento ele chegou a registrar sua voz, o que era comum dentro dessa época. Talvez o grande precursor do registro de voz de compositores da favela seja o Zé Keti, porque o Zé Keti vai ser, de fato, um compositor que vai gravar sua própria música.


Antes dele, a gente até vai ter o Jamelão, que a gente já ouviu anteriormente, porém o Jamelão não era um compositor, ele era apenas um intérprete das músicas, que muitas vezes eram feitas até pelo próprio Lupicínio Rodrigues. Então, o registro formal de um compositor de escola de samba era algo muito pouco usual. E era comum, muitas vezes, esses compositores venderem as músicas dele para poder pagar as contas.


Mas, de fato, apesar de a gente ter mais gravações quando for chegando na década de 1970, o samba também vai perder, até certo ponto, uma exposição midiática que possuía anteriormente. Vai deixar de ser o protagonista da música brasileira. A MPB, até certo ponto, vai renovar a música brasileira e vai deixar até o samba um pouco de lado, apesar de que utilizavam muitos sambas dentro do universo da MPB para poder cantar também.


A gente não pode desprezar a contribuição de compositores como Chico Buarque para o universo do samba. Porém, grandes compositores de escola, antes de fazerem esses registros, ainda nesse limbo da década de 1960, início da ditadura militar, a canção de protesto emergindo, vão viver a duras penas e vão ter vários problemas para conseguir gravar e para conseguir registrar. Grandes músicos ligados ao universo do samba e do choro, por exemplo, vão até deixar de tocar, como é o caso do grande violonista Dino Sete Cordas.


E o Cartola vai ser uma dessas figuras. Ele vai ficar doente, a história é que ele fica doente, perde a esposa. Então ele vai passar por maus mercados.


O jornalista Sérgio Porto, que atendia ao Conde Stanislaw Ponte Preta, vai fazer até uma campanha para poder achar o Cartola e ele vai ser encontrado lavando carros. E a partir do momento que ele for encontrar o lavando carros, ele vai viver um processo de revalorização, com muita ajuda, é claro, da sua grande companheira Dona Zica, que também vai o levar de volta para Mangueira e ter uma presença muito importante. Inclusive ele vai se tornar um empreendedor, não é mesmo, Thiago?


É isso aí, Gabriel. Assim como Sérgio Porto, a Zica tem um papel importante também nesse ressurgimento do Cartola. É a partir do encontro com a Zica e também a partir da repercussão da notícia do Sérgio Porto que o Cartola volta para Mangueira, ele acaba abrindo um bar com a atual esposa dele, que se chamava Zica Cartola, misturando, conjugando o nome dos dois, a Zica fazia os quitutes e o Cartola ficava responsável pela parte musical.


E esse bar que eles abriram acabou funcionando como um catalisador de todos esses sambistas mais antigos dos anos 70 para as gravações, para que eles ficassem conhecidos, mas reconhecidos na verdade, né? Porque Nelson Cavaquinho era frequentador do Zica Cartola e foi reconhecido, ele já tinha uma certa fama, mas ele ganhou um reconhecimento em peso no Zica Cartola. Zé Kéti também era frequentador do Zica Cartola.


Tom Jobim também aparecia lá, Elton de Medeiros, Clementina de Jesus, Dorival Caymmi, enfim. O Zica Cartola reunia a nata do samba para tocar, para se divertir, e a partir desse movimento do Zica Cartola, vários sambistas também passaram a fazer gravações. O Zica Cartola vai durar mais ou menos dois anos, entre 63 e 65.


Interessante que nessa sequência, essa presença dele mais forte dentro do universo do Zica Cartola, e meio que concomitantemente a isso, a gente vai começar a ver essas gravações e essa valorização dos compositores de samba. Então, essa parceria estabelecida, por exemplo, entre a Nara Leão e o Zé Kéti vai ser muito importante, ela também vai gravar Cartola e Elton Medeiros, então a gente vai começar a ver essa valorização que a gente citou aqui no início desse bloco. Agora, junto a isso, a gravação, o processo de gravação do próprio Cartola vai ser um processo até certo ponto conturbado, porque de fato você não tinha uma gravadora que visse potencial comercial naquela música que era feita pelo Cartola.


E a gente vivia uma época em que os executivos de gravadora, que eram pessoas anteriormente brasileiras que entendiam muito de música, que valorizavam às vezes até fazer uma música por uma questão de identidade, de memória coletiva e tudo mais, vão começar a ser suplantados por compositores que muitas vezes tinham uma gestão mais comercial, mais mercantil. A ideia é de você vender disco mais do que efetivamente investir na qualidade de uma música ou coisa desse tipo. Então o Cartola vai acabar gravando apenas na década de 70, vai gravar em 74, pela Marcos Pereira Discos, que era uma gravadora menor comandada pelo Marcos Pereira e que se dedicava mais a gravar músicas folclóricas, temas mais regionais e tudo mais.


E é interessante as pessoas ouvirem esses discos hoje, tanto esse disco de 1974, da Marcos Pereira, quanto o disco de 1976, também da Marcos Pereira Discos. Esses dois discos são muito celebrados pela estética que eles possuem, só que ela é uma estética ultrapassada. Ela já é uma estética que naquela época não era como os sambistas gravavam.


Quando a gente vai ouvir os discos do Nelson Cavaquinho, por exemplo, ele já tem influência de outros instrumentos que não eram do universo do samba originalmente. Por exemplo, tem baixo, tem bateria, tem outros instrumentos, a instrumentação é um pouco diferente. Esse disco do Cartola já nasce velho.


A proposta foi gravar o Cartola como ele teria gravado na década de 1940. Então reúne-se novamente o regional do canhoto, com o canhoto no Cavaquinho, Gilberto no Pandeiro, o violão de sete cordas é o Dino Sete Cordas, e o violão de seis cordas é o Jaime Flores Meira. Então ele vai reunir novamente esse grupo para poder gravar o disco do Cartola quase como um registro temporal da maneira como soaria o Cartola na sua juventude.


Então é interessante a gente perceber que a gente conhece de fato a voz do Cartola velha. Os registros que a gente tem da voz do Cartola, mais claros, já é o Cartola idoso, com 64, 66 anos. Depois ele ainda vai gravar mais dois discos na carreira, um chamado Verde que Te Quero Rosa e Cartola 70 anos e vai acabar morrendo.


Então a gente conhece o Cartola do final da vida dele, já com as composições bem estabelecidas, e com uma instrumentação que não é a instrumentação da época, e sim uma emulação de uma instrumentação que já tinha sido abandonada quase na música brasileira naquele momento. Então é um disco de regional, apesar de não ter sido gravado na época dos regionais. Só lembrando que além do Cartola, que talvez seja a figura mais emblemática dos anos 70, nós tivemos outras figuras importantes justamente naquele universo, ali frequentando os de Cartola.


A Clementina de Jesus, ela era neta de escravos, cresceu ouvindo a mãe cantar jongos e partidos altos. Ela foi descoberta nos anos 60, e ela fez muito sucesso com essas cantigas primitivas e folclóricas que valorizavam uma matriz mais africana no samba. Outra figura importante dessa época também foi a Dona Ivone Lara, que é uma compositora pioneira no universo do samba, foi a primeira mulher a assinar um samba enredo pelo Império Serrano, quando ela compôs os cinco bailes da história do Rio.


A Dona Ivone também teve uma repercussão e reconhecimento, já mais idosa, a partir dos anos 70, quando o marido dela faleceu e quando ela se aposentou também do seu trabalho principal de enfermeira. Ela passou então a gravar discos a partir de 78, e suas composições também foram gravadas por diversos intérpretes, como Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Gal Costa, Caetano, Paula Torres, Beth Carvalho, enfim. E Dona Ivone tinha um recurso vocal muito grande, uma capacidade muito grande de fazer contrapontos melódicos, a música que estava acontecendo, e que atribuiu o seu início do canto aos projetos de canto orfeônico realizados durante o governo Getúlio Vargas, com a batuta do maestro Villa-Lobos.


Então ela começou a cantar nesses cantos orfeônicos, ela sabia um canto formal, erudito, de maneira muito clara, mas também tinha uma presença muito grande dentro da música popular brasileira. Se tornou uma das maiores cantoras da história do samba e uma compositora também de mão cheia. Só para fechar esse bloco, eu não poderia deixar de citar o sambista baiano Batatinha, que já era um compositor veterano, que nos anos 60 teve algumas músicas suas gravadas pela Maria Bethânia, e que também veio só a ter seus registros próprios nos anos 70.


O Batatinha era um compositor refinado, com letras muito melancólicas, mas que eram bonitas também. Não são poucas as vezes que o Batatinha é comparado ao Cartola, então muita gente se refere a ele como o Cartola da Bahia. E para fazer menção também a mais um compositor que vai ter uma importância muito grande, eu gostaria muito também de falar do Candeia.


O Candeia é uma figura relevantíssima dentro da música brasileira. Uma das músicas mais lembradas cantadas pelo Cartola é de autoria do Candeia, que é o Preciso Me Encontrar, e o Candeia que era uma figura muito importante dentro do universo da Portela. Foi uma figura que defendeu bastante os enredos com temática negra dentro da Portela, fazia questão sempre de exaltar a necessidade de se buscar uma brasilidade, de se fugir de estrangeirismo dentro da música brasileira, e chegou até certo ponto, em um determinado momento da carreira, a fundar uma escola paralela à Portela, chamada Quilombo, Grêmio Recreativo de Arte Negra Quilombo, que era uma escola pensada para não desfilar na Sapucaí, para desfilar na rua, para desfilar na Quarta Feira de Cinzas, na Rua Presidente Vargas, e que reunisse pessoas de diferentes escolas, sempre defendendo enredos de temática negra, e no seu pavilhão todas as cores branco, dourado e lilás. Nesse bloco, a gente vai ouvir Cartola, com Corra e Olhe o Céu, depois Nelson Cavaquinho, com a música Rugas, Batatinha, com a canção Rosa Tristeza, e fechando, Candeia, com Ouro Desça do Seu Trono e Mil Réis.




[Palestrante 1]

Você está ouvindo O Tempo e o Som Na sua Rádio Eixo

Você acaba de ouvir Candeia Cantando Ouro Desça do Seu Trono E Mil Réis, Batatinha cantando Rosa Tristeza, Nelson Cavaquinho cantando Rugas e, no início, Cartola cantando Corra e Olho Sol.

Chegando a década de 70 E paralelamente a essa presença muito forte Desses compositores antigos que estavam gravando nesse momento A gente também tem novos nomes surgindo Como a gente citou no bloco anterior Então, figuras que antes não estavam tão presentes na música brasileira E que no universo dos festivais, às vezes, vão aparecer Renovando o samba para a música brasileira É o caso, por exemplo, do Martinho da Vila E é o caso também do Paulinho da Viola Que foram figuras que foram importantes dentro do universo dos festivais E que tiveram uma presença, e tem até hoje, uma presença muito grande Dentro da música brasileira Paulinho da Viola, por exemplo, se tornou uma figura muito importante Dentro da música brasileira Não apenas por trazer novas composições Mas também por conseguir fazer referência E ser tributário aos grandes nomes, aos grandes mestres da música brasileira Sempre em seus discos, Paulinho da Viola gravava um grande compositor antigo Que muitas vezes não era conhecido pelo grande público Também conseguiu reunir novamente a Velha Guarda da Portela Ajudou a fundar a Velha Guarda da Portela Onde os compositores mais antigos iriam se reunir Para ter uma representação maior junto à escola Outra presença muito importante do Paulinho da Viola foi no universo do choro O Paulinho da Viola foi uma figura que conseguiu reunir novamente o Grupo Época de Ouro Um grupo no qual seu pai, o violonista César Farias Tocava junto com o Jacob do Bandolim E que havia se dissolvido Financiou shows de pessoas como o Canhão da Paraíba Então uma figura muito importante Para a preservação da memória da música brasileira Assim como tinha suas composições com grande relevância Dentro do universo da música brasileira Sempre se propunha a gravar choros Sempre se propunha a gravar sambas Tinha uma presença muito intensa na escola Escreveu sambas e regras com muita regularidade E de fato se tornou uma das principais referências dentro da sua época Começou a aparecer justamente no Zica Artola Porque esse universo que a gente citou De trocas entre músicos mais novos e músicos mais antigos Ao redor dessas figuras centralizadoras da Dona Zica e do Cartola Tem uma voz um pouco mais intimista Uma composição com uma poética muito bonita Sempre utilizando letras muito rebuscadas, elaboradas Em termos instrumentais também com uma riqueza harmônica muito grande Então o Paulinho da Viola é um compositor que não apenas é capaz De fazer letras muito bonitas Como também é capaz de fazer músicas, melodias, harmonias muito bonitas Um grande músico, um grande compositor E por conta disso se destacou bastante na década de 1970 E gradualmente foi diminuindo a sua produção Na década de 1980 o Paulinho da Viola grava menos Na década de 1990 grava menos ainda E lá se vão mais de 20 anos Em que a gente não tem um disco de músicas inéditas do Paulinho da Viola Ele cada vez mais solta, às vezes uma música nova Um show, um disco ao vivo e outro aqui e ali Continua sendo uma presença muito importante Mas o último disco de inéditas do Paulinho da Viola É do décimo de 90 ainda, é o Beba do Samba Mas talvez hoje em dia seja uma das figuras de maior centralidade Dentro dessa ideia de samba tradicional Junto com o Martinho da Viola, não é mesmo Tiago? É isso aí Gabriel, o Martinho da Viola Ele também vai ganhar um reconhecimento maior na década de 70 Começando ali como compositor de sambas enredos Para a Vila Isabel, para a Portela, para o Império Serrano E os sambas enredos compostos pelo Martinho Eles eram caracterizados por ter menos versos E uma linguagem um pouco mais coloquial E isso ajudou ele a ter um certo sucesso com seus sambas enredos Ao longo de suas carreiras, suas composições Já ganharam relevância por misturar O cenário do subúrbio dos cariocas Com a herança africana que era muito presente no Brasil E também no universo do samba O Martinho, ao contrário do Paulinho Que deu uma parada ali após os anos 80 O Martinho continuou com uma carreira um pouco mais prolífica Em termos de lançamento Mantendo uma regularidade de discos Até mais ou menos a década de 2000 Outro nome que a gente não pode deixar de falar aqui é Clara Nunes Que possuía um repertório muito eclético E uma voz potente Ela passou a dedicar maior espaço ao samba A partir do final da década de 60 Mas isso sem deixar de cantar maxixe, Jongos, frevos e até forrós Uma característica bem nítida E que marca muito a música da Clara Nunes É a frequência com que ela aborda o universo dos orixás E a valorização do samba A valorização dessa temática Da religiosidade afro-brasileira Que também estava relacionada Com o crescimento do candomblé nos anos 70 E com o próprio a relevância Que o movimento negro Começa a ter também nessa década A partir daquela questão Da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos Dos Panteras Negras Isso acabou tendo um reflexo aqui no Brasil também Então, além de valorizar o papel do negro Na cultura e na música A Clara Nunes também vai dar destaque Ao papel do mestiço Ou da mestiçagem Que era representada tanto No seu repertório Como também nos temas De suas composições Então ela tem um disco que se chama Brasil Mestiço Músicas que vão abordar também A questão da mestiçagem e da mistura A Clara, ela fazia parte também De um grupo de cantores Que se destacou nos anos 70 A gente também vai ter a Bete Carvalho A Alcione E a Lecy Brandão Que vão se destacar nesse momento Todas as cantoras vão ter Uma grande relevância dentro da música brasileira Talvez no universo do samba Aquelas que tenham mais pé fincado Seja a Clara e a Bete Carvalho Mas a Alcione, especialmente Quando a gente pega os primeiros discos dela Você tem sambas muito interessantes A Alcione era uma grande instrumentista Uma trompetista excelente E com o tempo ela vai Passando a sua carreira por um negócio Mais romântico, Falando de questões sentimentais, femininas Então a Alcione também vai Trocando um pouco, vai transformando A carreira dela durante um tempo Outros compositores Que a gente pode falar, de compositores de samba Ou intérpretes que vão surgir na época São figuras como o João Nogueira, por exemplo Que era o compositor oriundo do Meia Que fazia letras Fazia melodias também Gosto muito, e gosto sempre de destacar O cantor Roberto Ribeiro Que pra mim, do universo do samba É aquele que tem a voz mais projetada Já um compositor Enquanto o João Nogueira, vinculado à Portela O Roberto Ribeiro Vinculado ao Império Serrano E que deixou registros maravilhosos Também durante a década de 1970 São compositores que vão ter Uma relevância muito grande Dentro do universo da música brasileira E a gente às vezes esquece E até a gente deixa de falar Mas vale a pena ressaltar também Que o pessoal da MPB Que a gente não associa tão fortemente ao samba Deixou uma contribuição muito grande São compositores que a gente não associa Como sambistas, por não terem vinculação na escola Mas que deixaram Sambas lindos Eu falei anteriormente do Chico Buarque, mas eu poderia falar por exemplo Do João Bosco, um grande compositor Que tem uma presença forte no samba O Gilberto Gil tem grandes sambas tocados O Caetano Veloso Tem vários sambas muito bons também feitos Então existem várias pessoas Que a gente não associa Ao universo do samba a priori Mas que também deixaram uma contribuição relevante Durante essa época E que ajudaram Até a formatar a ideia de samba Mas que muitas vezes Foram criticados Por não ter uma presença tão forte Dentro das escolas efetivamente Inclusive há pessoas Que testam críticas aos compositores Como se eles tivessem aburguesado um pouco esse samba Como se a se apropriar desse samba A MPB tivesse Transformado esse samba Em algo um pouco mais elitizado E afastado ele Das camadas mais populares Que seria o seu lugar de pertencimento a priori E só pra fechar Também esse mosaico Musical Do samba nos anos 70 A gente também tem que citar Que no final dessa década Entra em evidência novamente O samba da malandragem Que tinha feito muito sucesso Ali nos anos 30 Com os compositores do Estácio, Noel Rosa Wilson Batista Ele volta agora Mas pela voz dos partideiros Como Bezerra da Silva e Dicró Que tinham letras que alternavam Humor, malandragem e crítica social Além do malandro Bizerra cantou sobre o cotidiano da favela Sobre a ascensão do narcotráfico E sobre a vida na prisão E também Uma figura muito importante que ele sempre mencionava Eram os caguetes, o Traíra Aqueles personagens que deduravam A rapaziada da malandragem E finalizando também A gente não pode esquecer O berço do samba que é a Bahia A gente citou um compositor antigo Que veio a gravar nos anos 70 Que foi o Batatinha Porém na década de 70 Novos nomes também estão surgindo Na Bahia, novos compositores Como o Ederaldo Gentil E o Edil Pacheco Se você quiser, confere os discos dele Por aí Gabriel, o que a gente vai ouvir nesse bloco?


Vamos ouvir Paulinho da Viola Cantando Ruas que Sonhei Essa gravação é muito interessante Porque ela é o lado B Da grande e célebre composição do Paulinho da Viola Foi um rio que passou em minha vida E por isso ela fica um pouco esquecida Acabou não saindo em nenhum disco do Paulinho da Viola Que não fosse esse compacto em si Depois foi regravada mais pra frente na carreira Mas aquela gravação original Tinha uma gravação muito bonita Ela tá nesse disco, foi um rio que passou na minha vida No lado B. Seguimos ouvindo João Nogueira Cantando Baile Noel Em que ele faz toda uma referência Aos grandes bailes da Orquestra Tabajara Com o Jamelão cantando Toda a celebração desse samba mais antigo Vamos ouvir Roberto Ribeiro Cantando Triste de Aventura Essa música é uma música do Monarco com Mauro Diniz Pai e Filho, Monarco Compositor da Portela, da Velha Guarda da Portela Mauro Diniz, seu filho E vamos ouvir também Clara Nunes Cantando Peixe com Coco



[Palestrante 1]

Você está ouvindo o Tempo e o Som na sua Rádio Eixo Você acabou de ouvir aqui no Tempo e o Som, Clara Nunes, com a faixa Peixe com Coco Antes, Roberto Ribeiro, com Triste Desventura A segunda foi João Nogueira, Baile no Elite E a música que abriu o bloco, Paulinho da Viola, Ruas e Sonhei A gente abre esse último bloco ainda em meados dos anos 70 Quando vai aparecer uma tendência mais comercial do samba Caracterizada principalmente por uma percussão mais discreta Com o sumo batendo no tempo forte Com um arranjo formado por guitarra, baixo e bateria Com letras românticas, que aproximavam o samba do bolero, falando sobre o amor Todas essas características vão definir o que a imprensa vai chamar de sambão joia Ou sambão, que na época não tinha tanta simpatia da classe milagrosa E era considerado brega Essa perspectiva sobre o sambão joia e sobre o sambão Era uma perspectiva que vinha muito de um certo policiamento ideológico Que também existia durante a ditadura militar De fato, a canção de protesto vai ser extremamente relevante A gente vai ter uma manifestação política como algo muito relevante Mas, até certo ponto, um escapismo disso era visto muitas vezes Como uma alienação em relação ao que vivia politicamente o país nesse momento E, de fato, as letras, ao não tratarem de questões políticas De questões sociais, vai fazer com que esse sambão seja visto como algo mais pueril E, com isso, não sendo tão bem reputado pela imprensa e pela opinião pública de uma maneira geral Porém, dentro disso, a gente vai ter vários compositores que vão ser importantes no universo do samba Né, Thiago? Pois é, o nome sambão joia vem justamente daí Era como se, em plena ditadura, as letras desse samba considerassem que estava tudo bem E aí sim, dentro desse universo, a gente vai ter o Benito de Paula, o Wando, a GP, Luiz Ayrão, originais do samba O Benito, ele adorava tocar samba em piano e fez muito sucesso nos anos 70 Chegando a ter seu próprio programa de TV e a fazer turnês pela Europa e pelo Japão Os originais do samba, que contava com o Mussum, foi o principal grupo de samba dos anos 70 Era uma espécie de demônios da garoa carioca Com coreografias, aquele vocal em uníssono, que era todo mundo cantando juntos E músicas muito bem humoradas, os originais, depois, seriam uma das principais influências do grupo fundo de quintal E, inclusive, também o sambão joia vai ser uma das referências para o pagode dos anos 90, que a gente vai falar daqui a pouquinho E os originais do samba, que fica muito marcado por ter tido o Mussum entre seus integrantes, tocando reco-reco Vai ser um grupo que vai ter uma performance física, que você falou, da questão da dança e tudo, muito importante Já vai estar presente anteriormente, até no final da década de 60, você já consegue ver algumas coisas do pessoal dos originais do samba Vão ter um trabalho físico muito importante, vão aliar a dança e a música de uma maneira interessante E assim, fazendo uma crítica à crítica, a gente pode até entrar nessa reflexão A gente não pode reduzir a importância social e política de um grupo apenas à temática das suas letras A música vai além da canção em si, quer dizer, ao você ter cinco, seis homens negros dançando de maneira... Expressando sua cultura, tocando seus instrumentos publicamente, você já tem ali um manifesto político importante Por mais que a canção em si não tragam letras que vão fazer críticas sociais de fato Então, entender que aquilo que se passa como mensagem é apenas aquilo que a letra diz É reduzir um pouco essa manifestação cultural, apenas a uma faceta da sua forma de comunicação Muito bem colocado, Gabriel Ainda ali no final dos anos 70, mais especificamente na sede do bloco de carnaval Cacique de Ramos, que ficava justamente no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro A roda de samba depois da pelada estava ficando cada vez melhor Era uma reunião informal, num fundo de quintal, em volta de uma mesa E que o repertório basicamente passeava ali pelo samba de partido alto Um dos diferenciais dessa roda de samba no Cacique de Ramos era a instrumentação utilizada Ao arranjo tradicional de samba, com cavaquinho, violão, pandeiro Foram adicionados o repique de mão, o banjo e o tam-tam no lugar do surdo Essa instrumentação imprimiu uma dinâmica peculiar ao ritmo do samba E daí que foi surgindo a base para o estilo que ficaria conhecido como pagode O Cacique era um dos pagodes do Rio, ou seja, a festa, que era o local que eles tocavam Se divertiam O Cacique era um dos pagodes, mas também rolavam outros Com a Velha Guarda da Portela, no Terreirão da Tia Doca e também o Pagode do Arlindinho Inclusive, todo esse pagode que vai acontecer vai alimentar uma parte do repertório Dos cantores da década de 1970 que a gente mencionou Talvez a Beth Carvalho tenha sido a primeira, de fato, a olhar para esse pessoal A dar uma valorização a esse grupo do fundo de quintal, o pessoal do Cacique de Rambo e tudo mais Mas eles vão ganhar uma relevância cada vez maior dentro da música brasileira Quer dizer, a gente não pode simplesmente desprezar isso como se fosse um samba menor E de fato, quando a gente olha para os dias de hoje A gente vê que dali surgiram boa parte dos grandes nomes do samba Que a gente encontra na nossa música brasileira nos dias atuais E é uma renovação interessante Agora, sobre o termo pagode É sempre um negócio muito interessante, porque é um termo que vai se ressignificando de acordo com o tempo Então, inicialmente, pagode significa quase que um samba de partido alto Um samba que é feito no quintal de uma casa, num sobrado, coisa desse tipo Depois, com o tempo, esse pagode vai começar a significar outra coisa Ele vai ser uma utilização, um samba um pouco mais informal Um samba que não tem tantas preocupações sociais e coisa desse tipo Posteriormente, esse pagode vai começar a significar Uma influência da música estrangeira dentro da música brasileira Então, um samba que é feito meio pop Feito para vender, com uma forma de cantar Usando muitos recursos vocais, influências da música pop americana e tudo mais E nos dias de hoje, o que a gente vê é que esse pagode quase que se emancipou do samba Se tornou algo novo, com cantores que projetam bastante a voz Fazem muita referência à música pop Utilizam uma instrumentação muito híbrida Entre o que é tradicional e o que é estrangeirismo na música brasileira Então, é um termo que vai se ressignificando de acordo com o tempo Então, quando a gente vai ler em toda a bibliografia que existe sobre o samba A gente vai ver que o pagode, a gente tem que estar sempre atento em relação a isso A gente vai ver que o pagode, numa época, quer dizer uma coisa E em outra, quer dizer outra coisa totalmente diferente Mas nesse caso, começa ali uma semente Daquilo que é uma emancipação desse termo pagode De um genérico de samba, para um samba com uma característica peculiar Em relação em torno de si Foi justamente desse pagode dos anos 70 que surge lá no cacique de Ramos Que vai produzir seu primeiro grande grupo, que é o fundo de quintal Que inclusive vai ser o principal representante do pagode Do fundo de quintal, quando ele começa a se separar ali Que vão surgir os principais sambistas que a gente vai ter na década de 80 e 90 Então, Almir Guineto era do fundo de quintal Ele grava o primeiro disco, sai no segundo Mas ele é substituído pelo Arlindo Cruz Além deles, tem também o Jorge Aragão Era integrante original do fundo de quintal Depois vai construir também uma carreira solo de respeito E também nesse universo, não era do fundo de quintal Mas também participavam fortemente desse universo do pagode Quem? Zeca Pagodinho, que vem se destacando A Jovelina Pérola Negra, né? Interessante quando a gente pega esses nomes que você citou Tanto a gente tá falando do Almir Guineto, do Arlindo Cruz, Jorge Aragão Zeca Pagodinho e Jovelina Hoje em dia são tidos como nomes do samba Porque o termo pagode justamente se ressignificou Então, nesse momento, naquele momento específico Aquilo que era feito por eles era tido como pagode Então, até por conta disso, o nome Zeca Pagodinho Que se associava a esse samba um pouco mais informal Que era feito nos fundos de quintal Vale destacar também o grande compositor Sombrinha Que fez uma grande parceria com o Arlindo Cruz E que, junto com o Arlindo Cruz, deixou várias composições para a música brasileira É isso aí, né? E quando o Gabriel comenta que teve essa ressignificação do termo pagode Ele está se referindo justamente àquela galera dos anos 90 Que surgiu só para contrariar a raça negra, os travessos, o molejo Exaltasamba, a negritude de Júnior era um pagode mais romântico ainda Um pagode comercial Era uma tentativa de tomar o pagode dos anos 70 como referência Mas com uma pegada um pouco mais pop Sintonizada com o que pediu o mercado Então o estilo, a coreografia e os vocais, também em uníssono Remetiam aos grupos vocais dos Estados Unidos na época Alguns grupos desse pagode de 90 vão substituir Parte dos instrumentos tradicionais de percussão Por bateria, baixo, teclado Eles tinham letras bem passionais, emotivas Transitando também entre o samba e o brega E esse pagode dos anos 90 também explodiu comercialmente Fez muito sucesso nas rádios Também tendo muitos shows para os seus artistas Até mais ou menos 1995 É interessante que nessa época a gente vai ter Uma grande transformação dentro da música brasileira A gente está falando da década de 80 Acho que o pessoal que ouve já sabe Que a gente vai ter o rock cada vez presente com mais força Vai ser uma época também que a gente vai ter uma presença maior E uma ressignificação do termo sertanejo Originalmente aquele sertanejo que significava caipira Vai deixar de significar caipira Vai começar a vir as duplas sertanejas Trazendo uma certa popificação do sertanejo também Assim como o sertanejo vai se tornando mais pop O pagode também vai se tornando mais pop E sempre a tentativa vai ser de trazer mais visibilidade ao samba Através de uma certa amálgama com outros ritmos que acontecem Por exemplo uma paradinha funk Uma escola de samba Essa tentativa de você trazer uma influência de ritmos Que não seriam esperados originalmente no universo do samba Para o universo do samba Como acontece dentro do carnaval carioca no ano de 97 Com a paradinha funk Dá viradouro, né? É isso aí então, pessoal Lembrando que você está ouvindo o programa O Tempo e o Som Que é produzido com apoio e recursos do Fundo de Apoio à Cultura, FAC Que é um programa de incentivo à cultura aqui no Governo do Distrito Federal Eu sou o Tiago Meu interlocutor e parceiro aí é o Gabriel Carneiro Muito obrigado, minha gente É sempre um prazer falar com vocês Sempre um prazer falar com você, meu amigo Tiago E agora vamos chegando nesse nosso último bloco Vamos ouvir Beth Carvalho cantando Força da Imaginação Vamos ouvir o Fundo de Quintal cantando Mapa da Mina Em nome de um dos discos do Fundo de Quintal E faço destaque aí a grande participação do violonista Zé Menezes Na introdução da música Tocando violão tenor Zé Menezes que era uma pessoa que já tinha feito parceria com um garoto lá atrás Era um músico muito importante Teve uma presença importante também dentro da Globo Sistema Globo de televisões Fez várias aberturas de novela A música dos Trapalhões, por exemplo, é a autoria do Zé Menezes E ele faz a introdução de um solo lindo de violão tenor Na música Mapa da Mina E por fim, os originais do samba Cantando Esperanças Perdidas Grande música também Talvez o maior desses grupos vocais de samba que a gente tem na música brasileira


Esse foi o Tempo e o Som, com Tiago Santos e Gabriel Carneiro.

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