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Yago Quiñones Triana

Programa Clandestino - Mambo!

Programa Clandestino 137 – Mambo

 

Nota 1

Está começando, neste momento, mais um Programa Clandestino, música sem documentos, aqui na Rádio Eixo, músicas sem algoritmos. Lembrando que essa temporada do Programa Clandestino é realizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF, FAC-DF.

Dessa vez, vamos dedicar o nosso programa a um ritmo musical, a um gênero, a uma dança espetacular que, durante a metade do século passado, se tomou as casas de dança, se tomou as rádios e os teatros ao redor do mundo. É o Mambo, esse gênero musical que nasce lá em Cuba, mais um gênero musical, mais um ritmo musical, nascido naquela extremamente prolífica ilha do Caribe, que nos deu muitos ritmos, seria quase impossível aqui vir em enumerar todos os ritmos musicais nascidos lá, ritmos afro-latinos nascidos na ilha de Cuba. Pois bem, o mambo é mais um deles.

A gente começou escutando o importantíssimo Dámaso Pérez Prado, com a sua orquestra, tocando o famosíssimo também mambo número 5 ao vivo. Escolhemos uma gravação ao vivo para dar um pouquinho da sensação, para passar um pouquinho da sensação do que era a orquestra de Pérez Prado, que como veremos mais à frente, se caracterizava pela potência dos seus trompetes, dos seus sopros e pela força, pela potência também dos seus arranjos. Mas a música de Pérez Prado, o Mambo de Pérez Prado, é uma evolução do Mambo, digamos, mais tradicional, do Mambo, digamos, mais primordial, que nasce precisamente em Cuba. Mas do Mambo tem vários pais, tem, digamos. Várias pessoas, vários músicos que poderiam ser considerados como o pai do Mambo. É uma polêmica na qual a gente não vai entrar, porque tem muitos donos da verdade e tem cada um com seus argumentos, porém a gente pode analisar esses argumentos.

Tem quem diga que o pai do Mambo é precisamente Pérez Prado, e ele com certeza foi o encarregado de lhe dar um formato estável, de lhe dar um formato mais comercial, um formato que funcionava também fora de Cuba. Que funcionava na rádio, que funcionava nos grandes teatros, nas grandes apresentações. Mas não podemos esquecer a importantíssima figura do Arsenio Rodriguez que, ao que parece, foi um dos primeiros a introduzir no son cubano, que era tocado só com cordas, os tambores que eram naquele momento relegados aos cultos de origem africana, e ele mudou um pouco esse ritmo e lhe deu outra cara: aquela força dos tambores, que seria importantíssima para o Mambo, e também o som dos trompetes e dos saxofones, que são também muito importantes para o Mambo. Mas há quem diz também: peraí, na verdade, o criador da sonoridade do Mambo foi Cachao. Cachao Lopez, que junto com o seu irmão Israel Lopes, trabalhava na orquestra Arcaño, que foram os primeiros em realmente dar a sonoridade ao Mambo.

Polêmicas aparte, não importa realmente, talvez, saber quem foi o pai do Mambo, já que todos eles colaboraram conjuntamente. E a música é um fenômeno mais dinâmico, que não precisa dessas polêmicas, importantes, sim, para aprofundar o conhecimento, mas às vezes, vazias, quando alguém quer ser o dono da verdade. Vamos então começar esse primeiro bloco escutando precisamente algumas músicas desses grandíssimos artistas, lembrando, isso sim, que o Mambo no começo era a parte final de ritmo mais acelerado do Danzón cubano. Inclusive hoje em dia, como a gente viu no nosso programa sobre o Merengue, aquela segunda parte onde tem os arranjos mais complexos e onde tem as execuções talvez mais aceleradas, mais difíceis dos instrumentos, onde os dançarinos costumam fazer as suas figuras mais complexas, se chama também mambo. Então Mambo no começo, claramente uma palavra de origem africana, como Samba, como Cumbia, é a parte mais movimentada do Danzón, mas depois virou um gênero próprio.

Vamos escutar então o importantíssimo Arsenio Rodríguez com a música Mambo em la cueva, que no primeiro momento pôde não parecer um Mambo, já que eram os momentos iniciais, onde não tinha sido bem definido ainda o Mambo, e talvez seja uma das primeiras gravações com o nome Mambo no seu título. E continuaremos escutando, obviamente, a orquestra Arcaño, com o Cachao, com a música simplesmente chamada Mambo. E depois vamos lá para o México, porque México foi um lugar fundamental para a evolução do Mambo, para lá foi junto com o importantíssimo Benny Morey, que trabalharam numa época juntos, e lá o Mambo, junto com músicos muito importantes, muito relevantes, que ajudaram a construir essas grandes orquestras, tomou a forma de Big Band, tomou a forma de orquestra da mão de Benny Morey. Então vamos escutar do Benny Morey a música Barbaratini e do Pérez Prado a música Mambo número 8. Aqui, como sempre, no programa Clandestino da Rádio Eixo.

 

Nota 2

O Mambo nasce em Cuba e no México, junto com Pérez Prado, tomou seu formato mais reconhecido de orquestra e dali vai chegar em Nova Iorque, onde alguns músicos importantíssimos emigrados à cidade, como Mauro Bauza por exemplo, Machito vão pegar esse ritmo cubano, esse ritmo de origem afro-cubano, e vão misturar com o que estava acontecendo nesse momento nos Estados Unidos, porque que era a época das Big Bang, era a época do jazz, estamos falando metade do século passado, 1940, 1950. Ees chegam lá e percebem que aquele formato, aqueles instrumentos de Big Band, muito comercial no momento, lhes faltava um pouco de sabor latino, faltava um pouco de mandragem, digamos. E Mauro Bauza, grandíssimo gênio, vai misturar essas duas componentes e vai criar uma linha e de interpretação da música, que vai dar pé a muitos outros ritmos, que vai chegar numa importância lá na cidade de Nova Iorque, e dali ao redor do mundo, virando praticamente uma febre internacional.

Então Machito, junto com Mauro Bauza, criam a orquestra Machito and His Afro Cubans, que naquele momento era extremamente importante, era extremamente corajoso, desafiador, botar o nome de Afro Cubans para um grupo, já que estamos numa época muito complicada, muito difícil da história norte-americana, do racismo e outros problemas associados. Mas eles botam esse nome ao seu grupo e começa a acontecer um fenômeno extremamente interessante, lá na cidade de Nova Iorque, no Teatro Palladium, onde começa a se criar essas festas, os finais de semana, essas festas entre aspas, latinas, mais de uma forma extremamente interessante, já que segundo as testemunhas da época (talvez romantizando um pouco o que aconteceu naquela época), juntava vários tipos de imigrantes diferentes. Não eram só os imigrantes, chamados latinos, mas chegava também imigrantes de outros lugares do mundo e se juntavam para dançar essa música, naquele momento extremamente inovadora, naquele momento com uma sonoridade extremamente diferente e cativante.

O Mambo era uma música muito elegante nas suas performances, nos seus arranjos, mas era naquele momento basicamente uma música para dançar. As pessoas se juntavam lá e os dançarinos iam lá no Palladium e em outros lugares, mas o teatro Palladium era o lugar, era o berço do Mambo. Os dançarinos, os casais de dançarinos, às vezes eram mais famosos, mais importantes do que as próprias orquestras. Faziam concursos, era muito importante. A dança era parte fundamental do ritual do Mambo e naquela época surgem umas superestrelas que inclusive disputavam entre eles.

Vamos escutar então, dessa fase de ouro, dessa idade dourada, do Mambo, algumas músicas. Começando por Machito and His Afro Cubans com a música Mambo Inferno. Para continuar com dois “Titos” que não podiam se ver, parece que a disputa entre as duas orquestras era tão terrível, que eles não conseguiam se encontrar na rua. É o Tito Rodrigues and His Orchestra com a música Harlem Night e Tito Puente, famosíssimo Tito Puente, com a música Mambo Gozón. Essas duas orquestras estavam em disputa e tocavam lá no Palladium junto com Machito. E era uma época que realmente quem lembra diz que jamais voltará. E depois teremos outros artistas que pegaram esse legado e continuaram fazendo o Mambo já ao redor do mundo, já levando para outros países, saindo um pouco de Nova Iorque e levando para outros países latinos, como o Noro Morales, que escutaremos a música Maria Cervantes, Edmundo Ross, Ole mambo, Kiko Mendive com com a música Baião com Mambo e a La Plata Sextette com a música MIshugia Mambo. É, como sempre, o programa Clandestino aqui na Rádio Eixo, dessa vez, escutando um pouco de Mambo.

 

Nota 3

Como já falamos aqui no nosso Programa Clandestino dedicado ao gênero do Mambo, o Mambo foi uma raiz, o Mambo foi uma matriz de muitos outros ritmos. Há quem diga que o Mambo foi a pedra inicial para construir o que hoje se conhece como gênero da Salsa, Salsa na verdade não existe, é uma série de gêneros que se tocam e formam misturas. Mas o que se conhece como a Salsa é aquela evolução dos ritmos cubanos que pegaram o formato de orquestra, que viraram mais populares, começaram a ser dançados, talvez sem o Mambo ela não teria existido. Mas também com a colaboração de Mauro Bauza e muitos outros músicos de origem cubana e origem caribenha, surgiu aquela mistura com o jazz norte-americano e deu início talvez também ao que seria conhecido como Latin Jazz. Então o Mambo realmente teve uma importância fundamental.

Mas temos que dizer que aquela época dourada do mambo, aquela época do Palladium, gerou uma febre praticamente nacional, aquela época passou de moda, talvez, dizem alguns, pela dificuldade de montar aquelas orquestras gigantescas, pela concorrência talvez do rock'n'roll, que claramente era um ritmo extremamente dançante, extremamente juvenil, e as pessoas que dançavam o Mambo simplesmente ficaram mais velhas e foram substituídas pelo rock'n'roll. Mas o mambo é uma matriz muito importante que permanece viva nas nossas músicas e que deu pé a muitos outros ritmos e a muitos artistas bem reconhecidos.

Então, falando um pouco daquela relação fundamental do Mambo com o que a gente conhece como Salsa, vamos escutar precisamente algumas músicas que demonstram essa importância do mambo como misturado com a salsa e como matriz também do que é conhecido como Latin Jazz. Vamos escutar então a Rafael Cortijo e Ismael Rivera com a música A lo loco twist. Ricardo, Richie, Rey, e Bobby Cruz com a música Mambo Jazz, que já no título não é tudo uma tese, é uma demonstração do que a gente está falando. Eddie Palmeiri, já em ritmo realmente de Latin Jazz puro, com a música Azúcar, e Mongo Santamaria com a música Mambo Mongo, tudo já no âmbito do Latin Jazz, também como os Lebron Roders com a música Mi Mambo, e o próprio Mauro Bauza, o importantíssimo Mauro Bauza, com a música Mambo. Escutaremos também a Cachao, que depois de muitos anos, ele depois do tramontar do Mambo, ele foi um pouco esquecido, mas foi entre aspas redescoberto, e gravou muitos discos e foi reconhecido, graças também ao empenho de Andy Garcia para tentar recuperar um pouco essa memória dele, escutaremos a música Goza Mi Mambo Cubano. E uma gravação muito mais recente, do importantíssimo pianista Cubano, Bebo Valdés, que faz uma música do título Cachao Criador do Mambo, que já também é bem explícito no título. É uma homenagem que faz o Bebo Valdéz a Cachao, que ele deve considerar como o pai do Mambo. Então, nosso programa clandestino, escutando um pouco de Mambo, de Latin Jazz, um pouco da evolução dessa importante música, aqui no programa clandestino, da Radio Eixo.

 

Nota 4

Como temos tentado demonstrar aqui no Programa Clandestino da Rádio Eixo, o Mambo não foi só um ritmo afro-latino que virou febre em algum momento, mas é um ritmo com muita influência fora da ilha de Cuba, fora do México e também fora dos Estados Unidos, pra fechar esse nosso programa vamos escutar algumas gravações que demonstram essa expansão do Mambo, essa globalização do Mambo naquele momento, na sua idade de ouro lá nos anos 40, 50 do século passado, mas também até os nossos dias. Vamos então escutar a música mambo italiano de Dean Martin, que vocês talvez já tenham escutado, que é um pouco uma versão já mais estilizada, mais europeizada do Mambo, que foi muito popular ainda. Perry Como com a música Papa Lopes Mambo, que ali realmente era a febre do mambo. Era a pasteurização do mambo e era utilizar o Mambo em tudo que era comercial. Escutaremos também a importantíssima Yma Sumac, que é reconhecidíssima cantora pela sua capacidade de atingir nos tons altíssimos com a sua voz, com a música Gopher Mambo. E Xavier Cugat, também com a música Mambo Gitano, ele que elevou um pouco o mambo na Espanha. E o grupo Cubaníssimo, com a música mambo UK, que realmente é uma música já mais recente e demonstra como o mambo mantém um pouco a sua vigência. E fecharemos com Fruko y sus Tesos fazendo uma versão do mambo número 8, que é também conhecido como Lupita, e é também uma gravação recente e demonstra que o Mambo se mantém vigente, se mantém presente, continua sendo gravado e continua sendo curtido pelos públicos. É o Programa Clandestino, Clandestino de Mambo aqui, como sempre, na Rádio Eixo.

 

 

 

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