Nota 1
Começa agora na Rádio Eixo mais o Programa Clandestino. Lembrando que o nosso Programa Clandestino aqui da Rádio Eixo é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal FAC-DF.
E dessa vez, o nosso Programa Clandestino vai dedicar o seu espaço a um grandíssimo músico, compositor, multi-instrumentista, figura relevante, artista imortal da música jazz, da música norte-americana, do jazz latino também e do fusion jazz. É o grandíssimo John Francis Pastorius III, mais conhecido simplesmente como Jaco Pastorius. Conhecido também, globalmente, por todos os seus colegas, um consenso absoluto, considerado no meio e pela crítica como um dos maiores músicos e, talvez, o baixista, o mais importante da nossa era. Aliás, como ele mesmo se apresentava, cheio de autoconfiança, como o maior baixista do mundo.
O Jaco Pastorius, que influenciou todo o seu tempo, influenciou a música jazz, influenciou o Rock, influenciou outros ritmos, influenciou outros músicos, é enorme a lista de músicos que tem reconhecido, músicos importantíssimos, famosos, influentes também, por sua vez, que tem reconhecido a influência gigantesca desse músico, também conhecido como o Jimi Hendrix do baixo. Isto é, um alienígena, um extraterrestre, que veio passar algum tempo com os mortais, simplesmente para mostrar o que era uma pessoa de outro planeta tocando um instrumento específico. O Jaco Pastorius, que teve uma vida difícil, os últimos dias, os últimos tempos da sua biografia realmente são tristes, desgarradores. Inclusive, os motivos, a história da sua morte é extremamente triste. Morreu muito jovem, passou a ter uma carreira extraordinária, uma carreira fantástica, mas realmente extremamente curta. Ele morreu somente 35 anos e no ano de 1987, sendo que a sua carreira realmente gravando discos tinha começado somente no ano 74. Os discos assinados por ele diretamente são pouquíssimos. O Jaco Pastorius, que é um disco de 1976, o disco com o grupo, a Big Band, World of Mouth, o disco Invitation, gravado no Japão, e muitas participações com grupos importantíssimos, entre eles Weather Report, que é um dos grupos que se considera como os criadores do Jazz Fusion.
Então, uma lista de sucessos, um currículo realmente impressionante, que faz de Jaco Pastorius uma estrela fulgurante, uma estrela fugaz da música. E tudo isso porque o Jaco Pastorius se caracterizou pela rebeldia e pelo tratamento heterodoxo do seu instrumento. Ele começou tocando bateria quando era muito criança. O pai dele também era baterista, já tinha a música, já acontecia na sua casa, ele tocava bateria, era um grande baterista, mas depois de um incidente esportivo, ele quebrou o pulso e ganha uma lesão de por vida que lhe impede de tocar bateria. Aí passa para o baixo, mas inconforme com a pouca visibilidade, com a pouca relevância que tem em geral, na sua opinião, os baixistas, ele decide revolucionar o instrumento. A primeira coisa que faz é tirar os trastes do seu baixo para começar a tocar um pouco no estilo do contrabaixo, que é um instrumento que ele também queria começar a tocar, muito influenciado pelo lendário Charles Mingus. Mas ele que morava na Florida e a umidade rachou o seu contrabaixo, aí deve voltar ao seu baixo. Inconformado com a estrutura do baixo, ele tira os trastes e cria aquele seu famosíssimo baixo fretless, que significa, em inglês, sem trastes.
Aliás, o famoso baixo dele, o bass of doom, como ele chamava esse queridíssimo instrumento, era na verdade um instrumento bem barato que ele tinha comprado por pouco dinheiro e que acompanhou ele praticamente até o final dos seus dias. É o Jaco Pastores então, um músico diferente do qual vamos escutar algumas músicas. A gente começou escutando precisamente a música Invitation, do disco Invitation, gravado lá no Japão no ano de 1983 e vamos continuar escutando algumas outras músicas, começando por aquele seu primeiro disco chamado Jaco Pastorius, com a música Donna Lee e Use to be Cha cha. Esse primeiro disco que ele grava muito jovem e já tinha uma line-up, um personal, uma banda extraordinária, com grandíssimos artistas que o acompanharam, aliás, ao longo da sua vida. Vamos começar então nosso Programa Clandestino, escutando algumas músicas do grandíssimo, do saudoso, do incomparável, do maior tocador de baixo, o maior baixista do mundo, como ele mesmo gostava de declarar, Jaco Pastorius.
Nota 2
Continuamos nosso Programa Clandestino dedicado ao Jaco Pastorius, escutando algumas das suas composições, algumas das suas participações e lembrando, tentando aqui explicar um pouco dos motivos da sua grandeza, dos motivos de ser praticamente o maior baixista do mundo, não só considerado assim por ele mesmo, mas por quase todas as pessoas que tiveram a sorte de tocar junto com ele. Entre elas, por exemplo, a importante canta-autora Joni Mitchell, a qual tem várias entrevistas na qual ela comenta que tinha alguns problemas criativos, tinha alguns problemas com seus músicos, pois ela não estava satisfeita com as linhas de baixo simples, comuns digamos, que faziam os seus músicos, e alguém lhe recomendou de procurar algum baixista de jazz, mas ela não fazia jazz, não estava interessada, a música dela era mais folk. Então alguém aconselhou ela procurar aquele doido lá da Florida, assim como era conhecido quando era muito jovem, aquele baixista que faz as coisas lá incompreensíveis dele. E ela foi atrás e realmente criaram uma dupla muito interessante, na qual ele deu exatamente o que ela estava procurando, umas linhas de baixo um pouco mais complexas, um pouco fora do comum. E ela, com as suas letras, criaram uma dupla que realmente foi memorável na história da música.
O Jaco Pastorius, que entre outras características diferentes que tinha, aparte do fato de ser, evidentemente, uma pessoa superdotada do ponto de vista musical, tem outras características, como uma espécie de deformação do seu dedo polegar. Têm várias fotos, existem várias fotos famosas por aí, onde aparece ele com o seu dedo polegar, que consegue dobrar ele de uma forma realmente bem bizarra. E há quem diga que as coisas que ele conseguia fazer podiam ser explicadas somente por causa dessa sua deformação, digamos entre aspas, do dedo polegar. Sendo verdade ou não, a verdade é que o Jacos Pastorius modificou a história do baixo da música, porque ele não se limitou a fazer do baixo um instrumento de acompanhamento, mas introduziu uma capacidade melódica extraordinária no instrumento e também na harmonia. Ele não se limitava simplesmente a acompanhar, a fazer uma base rítmica para os instrumentos mais melódicos, mas trouxe o baixo para o primeiro plano, trouxe o baixo como um instrumento também melódico, como instrumento protagonista. E protagonista também quem tocava o baixo, que nesse caso era o Jacos Pastorius, que além de ser um grandíssimo músico, era também carismático, e no cenário, no palco também se apresentava de uma forma original, era bem protagonista, e com isso todas as atenções, todos os olhares iam para onde ele estava. Vamos, então, continuar o nosso Programa Clandestino escutando algumas músicas do grandíssimo Jaco Pastorius aqui, como sempre, na Rádio Eixo, no Programa Clandestino.
Nota 3
Vamos dando continuidade ao nosso Programa especial de jazz, de Jazz fusão, com o grandíssimo Jaco Pastorius, escutando um pouco das suas músicas, lembrando um pouco da sua biografia, da sua vida. Quando ele era um músico relativamente conhecido, quando ainda não era uma grande estrela, o grande artista que todo mundo começaria a conhecer um pouco tempo depois, ele já se apresentava como o maior baixista da história da humanidade, o maior baixista do mundo. Ele foi se apresentar, depois de um show, foi se apresentar ao grandíssimo Joe Zawinul, que era o diretor do importantíssimo grupo Weather Report, que achou tão engraçado, achou tão diferente essa apresentação, essa forma de se apresentar desse músico jovem, relativamente desconhecido, com seu grandíssimo carisma, que pediu para ele enviar algumas gravações, algumas fitas não utilizadas no seu disco Jaco Pastorius. Zawinul ficou realmente impressionado e como tempo depois apareceria uma vaga, digamos, no Weather Report, chamaram ele e criaram uma das formações mais interessantes daquela banda Weather Report, na qual estava também um percussionista importantíssimo peruano, Alex Acuña. Com o Weather Report, realmente o Jaco Pastorius chega um pouco no ápice da sua carreira. Há quem diz que ele botava talco no cenário, botava talco no palco e saía lá descalço e dançava junto com seu baixo nas apresentações que eles faziam com o Weather Report, pelo mundo todo e com as quais ficaram reconhecidos, apresentações que ficaram na memória de muitas pessoas, não só pelo grupo, mas pelas apresentações, pelas performances do Jaco Pastorius, dançando um palco, fazendo solos impressionantes, solos incríveis com seu baixo. Vamos continuar então nosso Programa Clandestino escutando um pouco da produção musical do Jaco Pastorius.
Nota 4
Depois do sucesso de algum de seus discos, do sucesso do seu disco Jaco Pastorius, depois que apareceu com o importantíssimo Weather Report, a gravadora Warner convida ele pra trabalhar junto com eles, dando toda a liberdade artística ao Jaco Pastorius, que cria um projeto bem desafiador, um projeto bem importante, ambicioso, que ele vai chamar o Word of Mouth, que era simplesmente uma grandíssima big band de jazz, com as composições e os arranjos do próprio Jaco Pastorius, com uma formação incrível, com uns artistas incríveis, será praticamente um dream team do jazz, ao serviço do grandíssimo fenômeno do Jaco Pastorius.
Eles vão fazer, então, uma série de turnês, vão para vários lugares do mundo tocar, sendo extremamente conhecidos, ganhando vários prêmios, mas no ano de 1982, numa turnê precisamente com esse grupo, começaram a aparecer os primeiros sintomas de um transtorno mental do Jaco Pastorius, que começaria a indicar o declínio da sua carreira e dos seus relacionamentos, não só profissionais, mas também pessoais. Ele tinha sido diagnosticado, tempo atrás, um quadro de transtorno bipolar, mas realmente a situação era muito mais complexa. E nessa turnê de 1982, já começaram a aparecer alguns episódios de transtorno mental, alguns comportamentos realmente bem estranhos, que não só começaram a estragar o ambiente dentro do grupo, mas também as relações dele e as relações profissionais também. O que parece um surto que ficou famoso nessa turnê, foi quando eles chegaram lá na bahia de Hiroshima. Ele entrou no mar com o seu baixo, com o seu case, e simplesmente o jogou no mar. Depois, aquele famosíssimo baixo que a gente já falou, foi recuperado, mas a partir dali, realmente a saúde mental do Jaco Pastorius ficou comprometida e a sua participação profissional começou a ficar sempre questionada. E a esses problemas, digamos, de saúde mental, o Jaco Pastorius acrescentou, como aconteceu muitas outras vezes, uma série de abusos de substâncias, álcool e outras drogas que inclusive não eram comuns na sua biografia.
O Pat Metheny, em uma entrevista declara que eles no começo, quando trabalhavam juntos, no começo da carreira, eram inclusive muito amigos, porque o Pat Metheny e o Jaco Pastorius eram, digamos, entre aspas, caretas, eles sempre foram muito bem comportados, sem nenhum abuso, mas a partir desses anos começaram a aparecer uns importantes abusos de substâncias, o que só piora a sua situação, seu quadro psicológico. Começa a ser um pouco o declínio dessa grandíssima carreira, dessa grandíssima biografia do Jaco Pastorius.
Nota 5
E vamos chegando no nosso último bloco, na nossa última parte do nosso Programa Clandestino. E também na última parte, na última fase da vida do importantíssimo Jaco Pastorius, que realmente passou os seus últimos anos de vida numa situação extremamente precária, com muitos problemas profissionais, sendo cancelado por muitos dos seus colegas e pelas casas discográficas, virando um profissional que não era confiável, além de uma pessoa com problemas psicológicos que não foram nunca bem tratados e uma pessoa que abusava de sustâncias, de drogas ilícitas, álcool e outras sustâncias.
O Jaco Pastorius começa a se insolar e acaba finalmente morando na rua. As pessoas que encontravam ele no parque onde ele morava, falam que ele ficava lá jogando basquete com algumas pessoas que também talvez seriam moradores de rua. Ficava lá no parque com seu baixo que, inclusive, no final ele também é roubado, é perdido, vai ser só recuperado um tempo depois por Robert Trujillo, o baixista de Metálica, que vai achar o baixo que estava numa casa de revenda, vai comprar ele e devolver pra sua família. O Robert Trujillo que tinha como um dos seus grandes heróis, o Jaco Pastorius, que inclusive financiou e produziu um documentário pra lembrar da vida do Jaco Pastorius. Ele então, sendo reconhecido como um grandíssimo músico, como o maior baixista da história, morava na rua, tocava praticamente em qualquer lugar, tem um trecho bem melancólico, bem triste da sua biografia em que aparece em um vídeo que fizeram, um vídeo educativo que foi feito por uma universidade no qual o entrevistador lhe pergunta qual é a sua opinião dele ter sido considerado um dos maiores baixistas, ser reconhecido como uma influência por todos os maiores baixistas do mundo, e o Jaco Pastorius simplesmente responde, me arruma uma tocada, me contrata pra tocar. Essa se junta com outras histórias realmente um pouco deprimentes dessa última fase da sua vida, totalmente descontrolado, sem lar, sem praticamente sem amigos, morando sozinho na rua, sem uma família e com uma existência totalmente desestruturada. E nessa vida complicada, evidentemente acaba por ter muitos problemas com a lei, com a polícia, ele é preso por roubar um carro, ele é preso por vários outros motivos e acaba sendo realmente um personagem que todo mundo queria evitar. E o final dessa vida, o final dessa vida complicada, sem um tratamento adequado, sem a ajuda adequada, acaba de forma triste, como talvez não tinha outra forma de acabar.
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