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Yago Quiñones Triana

Programa Clandestino 148 – Bandas Pelayeras!


 

Nota 1

Começa agora aqui na Rádio Eixo, música sem algoritmos, mais um Programa Clandestino, música sem documentos. Lembrando que em 2024, o nosso Programa Clandestino será e é um projeto realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, FAC-DF.

E a gente começou escutando uma música tradicional, uma música mítica, uma música que não passa mais de moda. Praticamente um hino, como é a música Maria Varilla, tocada dessa vez pela banda, pelo grupo instrumental, Banda 19 de março de Laguneta, que é uma das bandas que a gente vai escutar nesse nosso programa, porque o nosso Programa Clandestino de hoje é dedicado a um formato particular. É dedicado a um formato muito específico, muito mágico também, muito especial, que é o das bandas pelayeras nascidas, ou que tem o seu epicentro precisamente na pequena cidade de São Pelayo, mas que estão difundidas por toda a região da Sabana, por toda a região sabanera do norte da Colômbia, e que tem uma história extremamente particular.

Como vocês poderão ter notado nessa primeira música, Maria Varilla, estamos falando praticamente de um tipo musical, de um formato musical um pouco parecido com o que seria aqui no Brasil as fanfarras, que são instrumentos de vento, de sopro, misturados com instrumentos de percussão, que é um formato tocado muito na rua, tocado muito nas festividades, é um ritmo que os músicos interpretam caminhando, às vezes dançando na rua junto com os dançantes. Esse ritmo, esse formato de banda pelayera funciona na Colômbia mais ou menos do mesmo jeito como aqui no Brasil, e é uma interpretação de um formato que na verdade é europeu, que são aquelas bandas musicais que usam esses mesmos instrumentos e que tem os seus arranjos e as suas melodias criadas para um conjunto de instrumentos para ser tocado na rua e criar uma música dançante, uma música festiva, acompanhados por alguma percussão.

A banda pelayera tem uma formação praticamente tradicional que tem alguns instrumentos de sopro que são o clarinete muito característico, o trompete, o trombone, o trombone e barítono talvez, ou então o bombardino e a tuba que aquele grandão que faz a parte do baixo acompanhado por um bombo que é uma espécie de zabumba menor com som mais alto, a caixa e os pratos. Essa é a formação tradicional da banda pelayera. Vocês podem ver que é feito tudo com instrumentos de origem europeia, mas que tocam, como foi evidente talvez para todos vocês, músicas tradicionais da região caribe. Tocam basicamente porros e fandangos, que são ritmos de matriz europeia em alguns casos, mas que tem claramente nas melodiasu e na tradição que fez surgir essa formação musical, uma parte importante influência da Cumbia, e do que já acontecia nessa região com as gaitas e com ritmos tradicionais associados com as culturas locais que já estavam ali.

É a banda pelayera, então, essa formação alegre, essa formação muito festeira, muito canavalesca, que interpreta com instrumentos europeus, ritmos europeus algumas vezes, mas melodias e músicas que nasceram na região norte da Colônia. Uma belíssima mistura então que alegra muitas festividades daquela região e que traz muita alegria, faz todo mundo dançar, um ritmo tradicional reconhecido em toda a região e a qual a gente vai dedicar esse nosso Programa Clandestino aqui, como sempre, na Rádio Eixo.

 

Nota 2

Continuamos nosso Programa Clandestino, dedicando a banda pelayera, as bandas pelayeras, essas composições bem interessante que tem uma história realmente fascinante, porque os instrumentos vindos da Europa chegam naquela região muito próxima do mar Caribe, muito próxima do rio Magdalena, que foi o rio pelo qual entrou toda a modernização, que entrou toda a cultura europeia no centro da Colômbia, e por ali chegavam esses instrumentos de origem europeia, que em muitos casos eram pensados para tocar formações europeias, clássicas, eruditas. Se pensavam que esses instrumentos teriam que interpretar as músicas tradicionais da Europa, músicas mais paradas, digamos, mais calmas, mais tranquilas, menos festeiras. Mas esse povo da região norte da Colômbia, que é muito criativo, para vocês têm uma ideia, eles conseguem fazer orquestras interpretando, interpretando uma folha de uma árvore, acho que a folha do limoeiro. Eles pegam a folha do limoeiro e assopram e criam uma espécie de trompete, um natural e espontâneo. Então, esse povo muito espontâneo, esse povo muito criativo, esse povo que consegue se adaptar facilmente, muito desafiador, pegou esses instrumentos, essa formação clássica europeia, e botou dentro a melodia, botou dentro o sentir da Cumbia, o sentir dos ritmos afro-latinos e criaram essa formação totalmente original, que toca ritmos de porro e fandango, e botou para dançar todo mundo e criou realmente um formato totalmente diferente ao que era pensado pela elite branca, ao que eles queriam e pensavam  que os instrumentos deveriam ser utilizados.

Tanto é assim que obviamente, como quase sempre acontece, no começo nessas cidades teve uma grande esposa negativa das pessoas, das grandes famílias importantes. Famílias que acreditavam que os seus filhos teriam que aprender os ritmos eruditos da Europa e não gostavam dessa mistura, não gostavam dessa bagunça, como se diz muitas vezes, de tocar essa música dançante, de tocar essa música tropical, de tocar essa música, entre aspas, para eles, popular, que não era pensada, não foi pensada para tocar esses instrumentos cultos. Mas, como sempre, o povo prevalece, o sentido do povo, o sentido da terra prevalece e as bandas pelayeras se consolidam e criam essa importante tradição que chega até os nossos dias.

É importante lembrar que ao falar em bandas pelayeras, o festival mais importante de música pelayera, é o Festival Nacional de Porro, que se realiza em San Pelayo, mas em toda a região tem esse tipo de banda, tem esse tipo de agrupação que toca algumas músicas tradicionais, tem algumas composições que todas as bandas tocam, tem uns clássicos que são tocados por todas as bandas, e a gente vai continuar escutando algumas músicas dessas bandas tradicionais muito famosas, que muitas vezes têm um nome da data de fundação, por exemplo, Banda 20 de Julho de Repelón, Banda 19 de Março de Laguneta, ou trazem o nome de uma data importante ou o nome da cidade onde foram fundadas. Trazem esse nome, inclusive escrito no bumbo, aquele tambor. É, como sempre, o nosso Programa Clandestino, dessa vez canavalesco, desta vez festeiro, de música de rua, essa espécie de fanfarra, que é a banda pelayera, aqui como sempre no Programa Clandestino da Radio Eixo.

 

Nota 3

Continuamos nosso Clandestino pelayero, nosso Clandestino dedicado às bandas pelayeras, que como vocês poderão ter notado já amplamente, são um formato de rua, um formato para tocar nas festas, para tocar ao ar livre, às vezes, inclusive, as gravações, os registros, não pegam certamente tudo, toda a força, toda a energia dessas bandas, em que os instrumentos de sopro, vocês poderão ter notado já, se acompanham, fazem um diálogo muito interessante, e também com os instrumentos de percussão. Mas, às vezes, parece que é uma formação um pouco espontânea, tem quem diz que, na verdade, são bandas desafinadas, que não tocam direito. Devemos lembrar que essas bandas tocam as músicas criadas, claramente, por músicos profissionais, as composições são criadas, claramente, por músicos profissionais, mas nem sempre a formação desses músicos, se faz dentro dos cânones da formação musical formal. Esses grupos se encontra em pequenas cidades, pequenos povoados, onde a transmissão, a herança do conhecimento tradicional é passada de pais para filhos em algumas escolas, mas esses músicos muitas vezes não são músicos totalmente profissionais, não vivem 100% da música, realizam outras atividades muitas vezes, e não são músicos totalmente formados na tradição ocidental, digamos formal.

Isso faz com que a banda seja uma banda um pouco mais espontânea, às vezes inclusive eles menos falam que a teoria musical, a teoria acerca da música e das partituras é importante, mas que o sentido das pessoas é muito mais importante, tocando de uma forma muito mais espontânea. Devemos lembrar também, é importante, que eles tocam muitas vezes também na rua e nos festivais tomando um rum, tomando uma cerveja junto, e isso faz parte um pouco do formato, essa espontaneidade. Existe uma partitura, mas não segue sempre essa partitura, não se segue essa formalidade a pé da letra. Às vezes é muito mais espontâneo, e as músicas começam a ser tocadas, às vezes não tem um fim determinado, e os músicos vão tocando, alguns param de tocar, às vezes chega outro, começam algumas improvisações, e esse é exatamente o espírito, exatamente o sentido dessa música.

Por isso, a gente traz aqui as improvisações dessas músicas, mas realmente quando se vivencia esse formato de forma completa e de forma profunda, é ao vivo, lá nas ruas, se é possível, lá nas ruas desses pequenos povoados, dessas pequenas cidades, especialmente São Pelayo, no Festival do Porro especialmente, que é a data comemorativa central desse ritmo, dessa formação, é ali que a gente pode perceber qual é o espírito das bandas pelayeras, e qual é a forma realmente de entender esse gênero musical e esse formato.

Vamos continuar então escutando um pouco mais de gravações dessas bandas pelayeras, tentando imaginar um pouco o ambiente, o contexto, as pessoas dançando junto, eles caminhando de ruas no calor, tomando uma talvez, parando para descansar e curtindo junto com o povo nas festas populares no norte da Colômbia. E como sempre, um Programa Clandestino, na Rádio Eixo.

 

Nota 4

Como já falamos nesse nosso Programa Clandestino dedicado às bandas pelayeras, a gente está escutando algumas gravações das bandas pelayeras, mas na verdade esse formato é pensado, esse formato é sentido, esse formato é concebido para ser tocado na rua, para ser tocado junto com as pessoas, junto com o público. É um formato muito bem definido, onde a música começa mas não tem muito uma hora para terminar e que realmente junta as pessoas nas ruas e essa é a sua naturalidade e esse é o seu espírito.

Isso acontece por toda a região da sabana do norte da Colômbia, mas como já falamos é no Festival Nacional do Porro onde tudo isso chega no seu ápice e no seu apogeu. Esse Festival Nacional de Porro realizado na cidade de Sao Pelayo tem o seu ponto inicial, um dos seus pontos mais importantes na alvorada, que seria no primeiro dia, na primeira noite na verdade, no qual as bandas todas se juntam e começam a tocar. Ainda antes de raiar o sol, começam a tocar todas as bandas juntas, começam a tocar o mesmo tema musical que é aquele Maria Varilla, a primeira música que a gente escutou, que é praticamente o hino, o hino das bandas pelayeras. As bandas vão se juntando, aquele dia à noite dá para escutar nas casas as bandas começando a afinar os instrumentos, se juntando, e começam a tocar uma após outra pela rua da cidade.

Vão se juntando, cada vez mais bandas, vão tocando juntas, sempre a mesma música, vão pegando as pessoas, todo mundo vai se juntando, vai começando a cantar, vai junto com as bandas, e elas todas se congregam na praça central da cidade de San Pelayo, e vão começando a fazer, a girar ao redor da praça, tocando sempre a mesma música, e depois, uma a uma, vão subindo no palco, e continuam sempre tocando essa mesma música, Maria Varilla, que há quem diz, que é uma homenagem a uma lendária mulher que dançava muito bem. Parece que todo mundo estava fascinado, apaixonado por ela, e é uma homenagem a essa importante mulher tradicional nos começos históricos desse ritmo.

E esse festival começa então dessa forma realmente muito poética, a pequena cidade se enche de visitantes, todo mundo ao ritmo do porro durante dois, três dias. É um festival competitivo, onde as bandas apresentam ritmos tradicionais, e algumas composições também são apresentadas, cada uma das bandas disputa por um prêmio, mas durante esses três dias só se escuta música de banda pelayera, só se escuta porro e fandango nessa cidade. Todo mundo se encontra, os músicos ficam nas praças, talvez pedindo um gole de rum, pedindo um gole de cerveja para tocar mais uma música, é uma festa de três dias que não acaba mais. Esse é o importantíssimo Festival Nacional de Porro, que tem sido muito importante para consolidar essa tradição, para garantir que a tradição continua de avô para pai e para filho e que teremos bandas pelayeras para o futuro. Isso porque é importante lembrar que, como sempre, há muita concorrência de outros ritmos mais modernos. E às vezes alguns jovens acham chato, acham pouco interessante interpretar essas músicas, entre aspas, segundo alguns, velhas e que estão passando de moda. E é muito importante o apoio institucional, o apoio do governo, como tem acontecido relativamente bem para formar novos músicos, para formar novas bandas, para ter crianças aprendendo a tocar, e entendendo a importância desse ritmo, entendendo a importância da história dessa formação, desse formato regional, da região norte da Colômbia. Isso no Festival Nacional de Porro se demonstra muito bem e nos traz essa relativa tranquilidade de que pelo menos até agora o porro vai continuar, o fandango vai continuar e as bandas pelayeras, vão continuar tocando, alegrando os festivais, alegrando toda essa região e demonstrando essa importantíssima mistura de ritmos europeus, de alguns instrumentos europeus também e da tradição regional da Cumbia e outros ritmos tradicionais e nativos. É como sempre o Programa Clandestino, dessa vez pelayero, dessa vez escutando bandas pelayeras, alegres, como sempre na Rádio Eixo.

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