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Yago Quiñones Triana

"La chamana", Chavela Vargas, no Clandestino

Programa Clandestino – Chavela Vargas


A seguir oferecemos a transcrição das falas explicativas do programa dedicado à cantora Chavela Vargas

 

Nota 1

Começa nesse momento na Rádio Eixo o Programa Clandestino, música sem documentos. E dessa vez, vamos dedicar o nosso Programa Clandestino a uma das artistas mais intensas, mais profundas da cultura hispana. Uma mulher que marcou um antes e um depois da música em espanhol, do bolero, da ranchera e da música espanhol em geral. Trata-se de Maria Isabel Anita Carmen de Jesus Vargas Lizano, mais conhecida como Chavela Vargas.

Ela, que nasceu em Costa Rica, mas criou a sua carreira em México de sair fugindo, fugindo da sua família, fugindo do entorno patriarcal e machista e repressor que não deixava ela ser livre. Fugiu para México muito jovem e lá começou a encontrar o seu caminho. Chavela Vargas, que é um símbolo de libertação, que é um símbolo de liberdade sexual, que é um símbolo de luta contra o preconceito, de luta contra homofobia, de luta contra a repressão sexual, foi reconhecida não somente pela sua incrível voz, pela sua interpretação totalmente sentimental, totalmente profunda e inesquecível das suas músicas. Mas, precisamente, também por ter a coragem, desde muito jovem, de reconhecer a sua orientação sexual, se apresentar como mulher lésbica, inclusive aparecendo nos cenários com uma indumentária mais masculina e reconhecendo também a sua sexualidade.

Pois bem, ela também é reconhecida, é lembrada pela sua condição, pela sua dependência ao álcool, que também foi sempre uma situação com a qual lutou durante algum tempo da sua vida e que fazia parte um pouco da sua personagem pública, da sua figura de ser uma mulher da noite, de ser uma mulher que não ficava em casa, que preferia ir pro boteco e beber todas, amanhecer com os amigos, indo atrás do último trago, indo atrás do último copo, sendo livre dessa forma.

E marcou realmente a história da música em espanhol, marcou a muitos artistas famosos, e será sempre lembrada pela profundidade das suas apresentações, as suas apresentações ao vivo. Há quem diga que parecia mais um ritual, que parecia mais um encontro na intensidade da sua música com o público que, em êxtase, começava a chorar e acompanhava ela até o final. Então ela levou o bolero, que é o ritmo caribenho, que conquistou todo o continente latino-americano, e a ranchera, que é um ritmo mais mexicano, mas os dois compartilham aquele sentimento profundo, aqueles temas um pouco dor de cotovelo, muitas vezes temas profundos, sentimento de amor e desamor, levou realmente a outro nível, a outro patamar.

Chavela Vargas é uma artista que sai totalmente da curva. Ninguém consegue ficar indiferente diante da intensidade e da profundidade das suas interpretações. E já estávamos devendo um programa para essa grandíssima artista aqui no nosso Programa Clandestino, então, vamos continuar escutando algumas seleções dos seus maiores sucessos, falando da sua vida e da sua carreira. É, como sempre, o Programa Clandestino, aqui da Rádio Eixo.

 

Nota 2

Vamos dando continuidade à nossa homenagem à grandíssima Chavela Vargas, também conhecida como La Llorona, também conhecida como La Chamana. Como já falamos, a sua infância foi realmente muito difícil, foi desprezada pela sua família por causa da sua masculinidade, por causa do seu espírito rebelde e livre, que não queria ser enquadrada na feminilidade comum, na feminilidade heteronormativa.

Assim, foi rejeitada, foi largada na casa dos seus tios que fizeram trabalhar ela desde muito criança e ela foi cultivando aquela sua raiva pela sociedade, foi criando coragem também e ela sabia que tinha que sair da sua natal Costa Rica e o lugar, o destino natural, digamos entre aspas, era o México. Porque o México, ainda hoje, mas na época o México era uma potência cultural, digamos, especialmente por meio do cinema e, por meio do cinema, então da música. E os grandes artistas da música e do cinema mexicano chegavam em toda a região e ela admirava muito os grandes cantores, as grandes estrelas do cinema musical mexicano. Mas ela tinha certeza, ela sempre falou isso, ela tinha certeza que ela tinha que cantar e que praticamente ela já sabia cantar. Não precisava de nenhum curso, nenhuma orientação técnica. De forma espontânea, instintiva, ela sabia que já estava pronta para cantar.

Assim, sem nada, sem malas praticamente, levando quase nada, chega no México e começa uma difícil carreira onde ela tenta cantar, tenta se fazer conhecida, começa a conhecer alguns amigos, esses amigos que acompanharam ela durante a vida toda e começa a criar um nome, começa a criar uma fama com a grandíssima dificuldade, porém, de ser censurada em um país como o México que talvez não era muito diferente da Costa Rica em questão de preconceito. E ela inclusive incursionando em um gênero muito masculino como é aquele da Rancheras, teve que se enfrentar esse preconceito pela sua orientação sexual. Começou a ser conhecida, mas ela conseguia só cantar em pequenos bares em pequenos botecos e pequenos teatros, jamais nos grandes cenários da música mexicana, onde era praticamente censurada, onde não era reconhecida.

Ela começava a fazer algumas interessantes amizades, entre elas, a importante amizade com o grande compositor José Alfredo Jiménez. Amizade que hoje está sendo questionada por alguns biógrafos que falam que é tudo mentira, que ela inventou tudo. Outros falam que é real, isso não é importante, o importante é que ela cantou muitas músicas desse grandíssimo autor e começou a ficar cada vez mais reconhecidas. Porém, com essa dificuldade de não conseguir se apresentar, por exemplo, na televisão, onde tinha a Televisa, que seria uma versão mexicana da nossa Globo, talvez ainda pior, talvez ainda mais monopolizadora, ali ganhou o veto dos diretores, e então ela não aparecia na televisão, não aparecia nos grandes cenários. Mas começa a conquistar o público, especialmente nas suas apresentações ao vivo, porque realmente tem um caráter bem particular. Vamos continuar então escutando uma seleção de músicas dessa grandíssima artista que mudou para sempre a história da música em espanhol, do bolero e da ranchera. É como sempre, programa clandestino, aqui na Rádio Eixo.

 

Nota 3

Continuamos o Programa Clandestino, da Rádio Eixo, o Programa Clandestino, música sem documentos, falando um pouquinho, fazendo uma rápida resenha da biografia e da obra da grandíssima Chabela Vargas.

Ainda conseguindo algum sucesso relativo, lutando contra a censura, contra o preconceito no México, a Chavela Vargas começa a se perder realmente no álcool, esse foi um problema sério de saúde na sua vida, começa a se perder e acaba afastada dos cenários, acaba se isolando e durante quase 20 anos ela vai morar numa pequena cidade, entregue ao álcool e a maior parte das pessoas achavam que simplesmente a Chavela Vargas tinha morrido. Até que, como acontece em outros casos com outros autores, uma história parecida com aquela do belíssimo filme Sugarman. Ela na verdade não está estava morrendo, estava viva, alguém, entre aspas, descobre ela, uma amiga, e tenta que ela volte aos cenários. Ela volta aos cenários, controlando o álcool, aparentemente, pois ela percebeu que isso poderia ser seu fim. Inclusive, alguns seus amigos tinham já morrido por causa disso.

Volta aos cenários de uma forma um pouco tímida no começo, mas é descoberta por grandes artistas, grandes pessoas, e começa a ter uma vida realmente mais coerente com a sua condição de grandíssima intérprete e cantora latino-americana. Ela vai para a Espanha, onde tem um sucesso absoluto. Ali conhece o Pedro Almodovar, o qual, como muitos outros, fica totalmente enfeitiçado por La Chamana. Faz algumas participações nos seus filmes, também conhece o Miguel Bosé, e toda a cultura espanhola a reconhece, vira realmente uma grandíssima artista no final. Consegue se apresentar nos grandes cenários, tem vários shows lá na Espanha, em Madrid que são memoráveis e ante um grandíssimo público que começa a reconhecer finalmente a grandeza da Chavela Vargas. E ela um pouco consegue demonstrar que era possívelm até demorando pouquinho, demorando uns 40 anos, ela jamais negou a sexualidade e jamais mudou a sua personalidade e se manteve com esse seu caráter alegre, mas também muito forte também às vezes que pode parecer arrogante e muito orgulhoso e, no final das contas, conseguiu conquistar o público conseguiu demonstrar que o seu estilo artístico era aquele que estava certo. Jamais se vendeu, jamais mudou o seu estilo que foi finalmente reconhecido. Vamos continuar escutando um pouco das interpretações da Chavela Vargas, desses boleros, dessas rancheras, falando um pouquinho da sua vida. Aqui, como sempre, na Rádio Eixo.

 

Nota 4

Vamos continuar no Programa Clandestino dedicado a la Chamana, a la Llorona, à grandíssima Chavela Vargas, depois de uma longa estadia na Espanha se apresentando, sendo finalmente reconhecida, ela volta para o México já com alguns problemas de saúde, há quem diga que já sabia que estava próximo o momento final. E ela vai se mudar para o bairro de cima, mas com a sua carreira totalmente reconhecida, pelo menos no final da sua vida, uma vida bem conturbada, uma vida de aventuras, uma vida de muita festa, de muita rebeldia, de muito tequila, de muitas amizades memoráveis, em teoria, segundo os filhos biógrafos, ela teria tido um caso, inclusive com a Frida Kahlo, amiguíssima de Pedro Almodóvar, de Miguel Bosé, também de Joaquin Sabina, o grande grande compositor espanhol, que inclusive fez uma música sobre ela, Por el Boulevard de los sueños rotos. Enfim, tem vários diretores, o Werner Herzog também fez ela participar em alguns filmes.

Parece que era uma figura extremamente magnética, tem toda uma fileira de grandíssimos artistas, músicos, produtores, diretores de cine em geral, artistas que ficaram fascinados com sua figura e criaram uma importante amizade com ela. Uma pessoa realmente radiante, as entrevistas da Chavela Vargas são realmente uma experiência única. Ela demonstra tuda uma sua filosofia de vida extremamente interessante, onde fala sobre a morte, onde fala sobre amor, sobre a dor, sobre a condição humana realmente de uma forma bem particular, sempre com brilho nos olhos e trazendo umas frases e ensinamentos muito interessantes.

Enfim, uma pessoa que viveu a vida em profundidade, viveu a vida de forma intensa, jamais se dobrando o poder, jamais se deixando condicionar, jamais se adaptando ao que queria a sociedade, ao que queria a sociedade bem-pensante, sendo sempre honesta, sempre fiel a si mesma. Por isso, e pela sua voz marcante, pela sua interpretação única e apaixonada, pela sua forma de ser artista, sempre se mantendo fiel à sua proposta, é uma figura que realmente marcou a história da música em espanhol.

A Chavela Vargas, essa figura grandiosa, essa figura marcante, enfeitou dessa vez o nosso Programa Clandestino, o qual queremos fazer essa homenagem ao orgulho e à vontade de viver, à vontade de ser livre. De ter asas e voar com essas asas próprias, se enfrentando às regras e às tradições do pensamento conservador e do universo musical também e artístico. É a grandíssima Chavela Vargas, a Llorona, a Chamana, aqui no programa Clandestino, Música Sem Documentos. Como sempre, na Rádio Eixo.

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