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Yago Quiñones Triana

Clandestino Marimba!

Programa Clandestino 147 – Marimba

 

Nota 1

Começa agora aqui na Rádio Esso mais um Programa Clandestino. Lembrando que o nosso Programa Clandestino, nessa temporada de 2024, é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal FAC-DF.

Esse nosso Programa Clandestino vai ser dedicado a um instrumento mágico, a um instrumento misterioso, a um instrumento diferenciado, a um instrumento com uma história difícil de reconstruir, um instrumento cheio de lendas e que marca algumas culturas do mundo. Dessa vez vamos dedicar o nosso Programa Clandestino ao importantíssimo instrumento, em aspas folclórico, da Marimba. Importantíssimo em Centro América e alguns países do Norte e Sulamérica, como a Colômbia e o Equador.

A Marimba, que é essa espécie de piano de madeira, também conhecido em ocidente, na cultura ocidental, um pouco erudita como Xilofone, também como Vibrafone, quando é utilizado o metal e não a madeira, e que foi muito comum na música clássica, um pouco também no jazz. Mas aqui vamos nos dedicar à sua versão em madeira, autóctone, que, ao que parece, veio da África. Embora haja outras teorias, pode aparecer também na Ásia, mas quase com toda certeza, ele veio da África. Veio ocupar aqueles espaços onde moravam, onde estavam os escravizados, os filhos dos escravizados, trazendo essa tecnologia. Porém, essa versão não é totalmente aceita, não é totalmente consensual, já que há também registros e há também teorias que falam que poderia ter sido um instrumento criado pelos próprios africanos escravizados, em algumas regiões, fabricado de forma espontânea e inclusive também feito pelos indígenas. Já que na região de Centro-América realmente a Marimba vai aparecer em regiões com altíssima população indígena e população relativamente isolada.

Isso traz um pouco mais de mistério a esse instrumento belíssimo, na Colômbia chamado de “Piano do Pacífico”, ou “Piano da Floresta”, porque tem essa sonoridade doce, essa sonoridade profunda, essa sonoridade complexa e misteriosa que o faz realmente um instrumento muito particular e um instrumento basicamente popular. Um instrumento tocado em regiões rurais e tocado, a maior parte das vezes, por músicos empíricos sem uma formação mais formal, mas que faz parte importante dessas culturas.

E a gente começou esse nosso Programa Clandestino precisamente escutando um pouquinho das possíveis origens da Marimba. Escutando o instrumento do Balafon, que é como se chama em algumas regiões de África Ocidental. É o que seria o parente próximo da Marimba, porque a Marimba é sempre feita de umas tábuas de madeira que são percutidas, é um instrumento de percussão, instrumento idiofone, já que todo ele emite som. Mas, muitas vezes, embaixo tem alguma caixa, algum corpo acústico que faz amplificar o som. Na África, muitas vezes são usadas cabaças, tem vários tipos de Marimba na África, de Balafon, e são também chamadas de várias formas, tem várias culturas e países que tocam Marimba, é um universo absoluto, e precisariamos, talvez, dois Programas para explorar toda a cultura do Balafon e das versões da Marimba africana, a Marimba originária.

Mas para não deixar de fora essa importantíssima raiz, a gente trouxe alguns exemplos da Marimba, do Balafon vindo da África. Por isso começamos o nosso Programa escutando o grupo Yara Bikan Balafon lá da Costa de Marfim e começaremos esse nosso primeiro bloco com outros exemplos lindos de Marimba da África, como Adama Abaté, que vai fazer uma interpretação do Balafon, especificamente da cultura Senoufo, uma cultura, uma etnia que ocupa a região de Burkina Faso, de Bali e Costa de Marfim. Faremos um pulo, chegaremos em América para já começar a escutar a Marimba centro-americana, iremos lá para Guatemala, escutar alguns exemplos de Marimba de Guatemala, onde realmente muda totalmente. Se na África o instrumento é tocado geralmente sentado e apoiado naquelas cabaças particulares secas pegadas da natureza, em Centro-América a Marimba vira um instrumento grande, às vezes realmente gigantesco de madeira, de madeira sólida e tem a característica de ser, eles dizem, o único instrumento coletivo, instrumento que pode ser tocado por duas, três até quatro pessoas ao mesmo tempo.

Os instrumentos são muito grandes, de uma madeira nobre e vocês poderão notar a diferença no som, escutaremos alguns exemplos de Marimba vinda lá para Guatemala, escutaremos a música Ferrocarril de Los Altos pelo grupo Marimba Maderas Chapinas. E um interessantíssimo mix, uma mistura de vários ritmos tocado pela belíssima Orquestra Marimba Contemporânea Femenina de Sololá. Como vocês podem imaginar, é um grupo, uma orquestra praticamente, formada somente por mulheres e que vão fazer essa mistura de músicas, onde vocês podem notar já a influência da Cumbia e outros ritmos, já que o instrumento da Marimba é extremamente versátil e dá pra praticar praticamente qualquer melodia, junto com o acompanhamento que se quiser. Vamos então na África, África Ocidental, pra Mali, Burkina Faso, e faremos um pulo, chegaremos em Centro-América, território indígena, território miscigenado, com a Marimba muito maior, escutando um pouco de Marimba centro-americana, de Marimba americana, de Marimba indígena, mas vinda da África, aqui, como sempre, no Programa Clandestino da Rádio Eixo.

 

Nota 2  

Continuamos nosso Programa Clandestino, viajando pelo mundo, vindo da África, chegamos em Guatemala, e vamos para Honduras, vamos continuar nossa viagem em Nicarágua, onde a Marimba é um instrumento extremamente icônico. Devo lembrar que praticamente em todos os países de Centro-América, a Marimba é símbolo nacional, reconhecido também como patrimônio cultural dessas nações, mas em Nicarágua esse símbolo adquire uma forma extremamente particular, já que, como vocês podem notar, a Marimba de Nicarágua, pelas suas características, tem uma sonoridade que realmente é particular e bem diferente. É a Marimba de arco, chamada assim porque a Marimba, como vocês podem ter imaginado já, é um instrumento grande, um instrumento pesado, especialmente em alguns países da América, realmente é um instrumento difícil de carregar, mas ele precisa daquele tamanho pela sua sonoridade. E para resolver isso, tempo atrás, em Nicarágua inventaram de botar um arco ao redor do instrumento, e o intérprete da Marimba, ele veste praticamente a Marimba, coloca nas costas aquele arco, e consegue se apoiar nele, botar nos joelhos, botar nas pernas, e consegue interpretar sem muita mais parafernália, sem muita mais infraestrutura, e para carregá-la é do mesmo jeito, ajudado pelo arco

É a característica da Marimba de arco, própria da Nicarágua, diferenciada. Eles também usam embaixo uma caixa acústica, que é chamada de jicarita, é feita de madeira, tem uns furos pequenos que são cobertos com uma membrana natural, que vai dar essa sonoridade, às vezes talvez, quase estridente, que gera muitos harmônicos, é uma sonoridade praticamente metálica, que dá essa característica diferencial. É a Marimba do Nicarágua e da qual vamos escutar a seguir alguns exemplos. Vou pedir para vocês prestar muita atenção nessa sonoridade metálica, nessa diferença da Marimba da Nicarágua, Marimba de arco, Marimba particular. É como sempre aqui o Programa Clindestino da Rádio Eixo.

 

Nota 3

Continuamos no nosso Programa Clandestino, viajando junto com a Marimba, viajando por Centro-América com o piano de madeira, piano autóctone, o piano dos indígenas, mas vindo da África. E vamos agora para a Costa Rica, escutar alguns exemplos de Marimba da Costa Rica, que também por lá é um instrumento extremamente particular, um símbolo pátrio. Em todos os casos que a gente está falando, é um instrumento construído de forma artesanal, são artesãos que fazem a Marimba, é tudo feito à mão, tudo feito de forma tradicional. Sem marca, só a assinatura do luthier, e na maior parte das vezes realizada também nas regiões rurais, e por isso que a Marimba acompanha muitas vezes as festas populares, as festas tradicionais, como instrumento extremamente versátil, dá para tocar qualquer melodia. Então as músicas tradicionais, as músicas folclóricas, entre aspas, desses países, podem ser tocadas come ele.

E é um instrumento também que permite o acompanhamento fácil de outros instrumentos. E aí vira muito fácil misturar e vira um instrumento que acompanha muitas festas populares, extremamente bom para dançar e para curtir as verbenas, as festas nas pequenas cidades no interior desses países de América Central. Vamos então voar virtualmente para a Costa Rica, escutar alguns exemplos de Marimba da Costa Rica, que vai ser, mais que outra coisa, a interpretação na Marimba de ritmos tradicionais, de músicas tradicionais desse país, onde a Marimba é um símbolo pátrio, é um símbolo nacional. E faremos um tour geográfico um pouco, subindo lá para o sul do México, aquela região especialíssima, extremamente particular, também misteriosa um pouco, com uma população indígena altíssima, que é o Chapas lá no sul do México, onde a Marimba também é extremamente fundamental, tem uma história extremamente forte. E dali escutaremos também algumas músicas tradicionais que são interpretadas por esses grupos, que praticamente são orquestras, onde a Marimba ocupa o lugar mais importante, lembremos que pode ser tocada por três ou inclusive quatro pessoas. E aí, especial destaque para o grupo que vamos escutar, chamado Marimberas Orquestra, com a música Danzón Nereidas, que é mais um grupo de mulheres, mais uma orquestra composta só por mulheres, que toca sua Marimba e faz a sua orquestra e interpreta esses ritmos que são extremamente tradicionais lá no Chiapas. Vamos continuar então nosso Programa Viajando por Centroamérica, viajando pelo Mundo com a Marimba, aqui no Programa Clandestino da Radio Eixo.

 

Nota 4

Vamos chegando no nosso último bloco do Programa Clandestino dedicado à Marimba, fazendo um pulo geográfico, mas também um pulo um pouco de conceito, porque esse nosso último bloco vai começar com o interessantíssimo grupo Son Rompe Pera, que são do México e que evidentemente pegam um pouco da tradição da Marimba de Chiapas, da tradição mexicana, que já flertava com a Cumbia, mas eles pegam diretamente a Cumbia, a Cumbia contemporânea, e formam esse grupo interessantíssimo, que mistura sons novos, mas mantém a Marimba como um centro melódico e mantém a Cumbia como um centro rítmico da sua proposta. Eles trazem uma música que o título já é toda uma tese, que é em inglês, brincando, Cumbia is the New Punk, onde demonstra realmente essa adesão deles ao ritmo da Cumbia, mas com uma proposta desafiadora, muito punk.

Mas nesse último bloco também vamos fazer, realmente agora sim, um puro geográfico, vamos chegar lá em Suramérica para escutar alguns exemplos de Marimba na Colômbia, já que devemos lembrar que já dedicamos o nosso Programa Clandestino à música do Pacífico da Colômbia, onde um dos instrumentos mais importantes é a Marimba. Mas vamos trazer talvez uns experimentos diferentes, e alguns autores que não tinham aparecido nesse nosso primeiro Programa. No Pacífico colombiano e equatoriano a Marimba se constrói com uma madeira da região, que é a Marimba de Chonta, se diz que a construção desse instrumento é um evento praticamente mágico, se diz que a madeira deve ser cortada numa noite com uma lua cheia e outras lendas ao redor desse instrumento. Talvez essa prática pode ter se perdido nesses nossos dias, mas mantém o misticismo. Que tem aquela mágica e cor desse instrumento que lá na Colômbia, vocês poderão perceber, em uma sonoridade diferente. Um instrumento talvez mais rústico, com menos elaboração, com menos trabalho na madeira, mas sendo uma madeira realmente selvática, da floresta, mantém essa sonoridade aquática. Escutando a Marimba praticamente somos transportados a essas regiões de floresta muito úmidas, e isso se nota muito na sonoridade na Marimba.

Escutaremos então alguns representantes muito importantes, desse instrumento que se faz, que se toca na Colômbia e no Equador. Começaremos então, depois de Som Rompe Pera lá do México, escutando um dos maiores mestres da Marimba na Colômbia e mundial, que é o mestre Gualajo e seu grupo, com a música Pátacore, e depois continuaremos escutando a música Quítate de mi escalera do grupo tradicional, porém contemporâneo, o grupo Socavón. Para continuar escutando a música Amanecer do grupo Herência e Timbiquí, onde ainda se mantém a importância da Marimba. E continuaremos escutando Que me duele da importantíssima cantora Nidia Góngora, que já apareceu várias vezes no nosso Programa, com essa mistura com sons mais eletrônicos, mais contemporâneos. E fecharemos com duas experimentações extremamente interessantes. Uma delas é La Cumbia de la Mar, do grupo Curupira, ao qual já dedicamos um nosso Programa, que tem a característica de misturar instrumentos de várias tradições regionais da Colômbia. Eles vão misturar então o som das gaitas, que é lá da Cumbia, da música de gaita do norte da Colômbia, com o instrumento da Marimba, que é da região do Pacífico. E fecharemos com outra experimentação extremamente parecida que os colegas lá do grupo La Revuelta fizeram, essa mistura de gaita com Marimba, e a se música chama Sobre las águas del Parnaiba, já que faz referência, inclusive, a uma viagem que eles estavão fazendo aqui no Brasil.

Então, é o nosso Programa Clandestino, fechando, escutando um pouco da tradição da Marimba lá na Colômbia, no Equador, e também algumas experimentações, algumas abordagens recentes e contemporâneas a esse instrumento, o instrumento mágico da Marimba, vindo da África, adotado pelos indígenas, lá em Centro-América, e que faz a parte importantíssima da identidade negra, sul-américa, no Equador e na Colômbia. É o nosso Programa Clandestino de Marimba, aqui, como sempre, na Rádio Eixo.

 

 

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