Programa Clandestino 156 – La Lupe
Nota 1
Está começando nesse momento mais um Programa Clandestino, música sem documentos, aqui como sempre na Rádio Eixo, música sem algoritmos.
Lembrando que o nosso Programa Clandestino, nessa sua temporada de 2024, é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal FAC-DF. E esse nosso Programa Clandestino vai ser dedicado à “La Yiyiyi”, à “la reina de latin soul”, à “the queen of the latin soul”, Lupe Victoria Jolie Raymond, mais conhecida como La Lupe, grandíssima cantora, atriz, nascida na ilha de Cuba em 1939. E que infelizmente foi morar num bairro de cima muito jovem, somente com 52 anos, no ano de 1992, lá na cidade de Nova York.
A gente começou escutando um clássico de La Lupe, a música “Puro Teatro”, que ganhou visibilidade, ganhou reconhecimento muito tempo depois, por aparecer num filme de Pedro Almodóvar, “Mujeres al Borde de um Ataque de Nervios”, como aliás tinha acontecido também com Chavela Vargas, que por causa do Almodóvar ficou conhecida na Europa. Mas, La Lupe não digamos que precisou de Pedro Almodóvar para ser conhecida, talvez esse conhecimento póstumo na Europa foi importante, mas nos anos do seu sucesso artístico e comercial, ela era talvez a artista latina mais conhecida, mais reconhecida nos Estados Unidos. Ganhava uns cachês surpreendentes, tinha uma vida de riqueza, uma vida de luxo que, porém, não a acompanhou até o final dos seus dias. Aliás, ela morre não digamos esquecida, mas com certeza com pouco reconhecimento e com certeza sem o sucesso comercial, sem uma atividade artística como a que conheceu na sua juventude.
La Lupe, que nasceu em Cuba, como a gente já falou, no ano de 1939, se caracterizou desde muito jovem pela sua atitude no palco, pela sua atitude extremamente histriônica. Ela era conhecida porque, quando estava no cenário, puxava os seus cabelos, tirava a roupa, tirava os sapatos, os jogava longe, no público. Batia, entre aspas, nos seus músicos, dançava, gritava, com uma capacidade histriônica extremamente importante que a levou a ser reconhecida por isso, e que levou a que o público pedisse sempre mais dessa sua forma, desse seu jeito de se apresentar, que era extremamente pessoal e único. Além da voz, que é uma voz extremamente profunda, extremamente original, extremamente potente, e que fez com que ela conseguisse interpretar vários ritmos afro-caribenhos, vários ritmos afro-cubanos, bolero e salsa, entre outros, com uma grandíssima capacidade e uma originalidade muito especial.
Por problemas de censura, pois parece que a Revolução Cubana não gostava muito dessa atitude solta e extremamente extrovertida. Havia uma espécie de controle sobre a produção artística por parte da Revolução, que tinha alguns parâmetros, então ela não ficou muito satisfeita com esses parâmetros e decidiu sair da sua ilha de Cuba, ir para o México por um curto período, e depois ela chegou aos Estados Unidos, especificamente a Nova York. Onde estava nascendo a “coisa latina”, onde estava nascendo um movimento de imigrantes latinos que começou a importantíssima produção cultural conhecida como “salsa”.
Então chegou em Nova York na hora certa e começou a gravar com ninguém menos que o grande Mongo Santa María, com quem gravou o famoso álbum “Mongo Presenta La Lupe”. Aquele álbum que representou um grande sucesso comercial, um sucesso comercial muito importante e que a tornou verdadeiramente reconhecida como a mais importante artista feminina latina do momento. Disco de 1963 e que ouviremos justamente abrindo nosso primeiro bloco do Programa Clandestino, com a música “Besito Pa Ti”.
E neste nosso primeiro bloco ouviremos algumas músicas que nas letras demonstram um pouco do que era a personalidade histriônica e extrovertida da Lupe, muito querida pelo público, mas também muito criticada, ela foi muitas vezes criticada. Muitas vezes foi acusada de se apresentar bêbada ou drogada. Mas tudo parece mentira, têm muitos documentos, registros em documentários, em trabalhos investigativos que mostram que pessoas próximas da Lupe comentam nunca a ter visto consumindo drogas. Parece ser simplesmente a sua proposta artística.
Vamos começar ouvindo um bolero, uma música espetacular, como o é “Que eu te pedi”, um bolero lindo. E outras músicas, como a gravada, lá em Cuba, “Com el Diablo em el cuerpo” que demonstra um pouco essa tese, de qual seria a proposta artística, histriônica de La Lupe, que supostamente teria o diabo no corpo, a música. Depois a música “La Borracha”, onde ela vai falar que quer sair para beber, está procurando companheiros para beber. Mas, ao que parece, foi tudo mentira, parece que ele era, na verdade, uma pessoa muito calma, muito reservada. E vamos fechar com a música “La Tirana”, um título que virou como uma espécie de codinome, uma espécie de sobrenome da própria Lupe, que também era conhecida como La Tirana. Comecemos então este nosso Programa Clandestino dedicado a uma grande, a grande La Lupe, a rainha da música latina, A Rainha d latin soul.
Nota 2
Continuamos nosso Programa Clandestino dedicado à importantíssima cantora cubana e latina La Lupe. Lupe gravou em 1963 aquele importantíssimo disco com Mongo Santamaria, mais rapidamente foi notada por outro grande, importante intérprete, importante músico e arranjador que é o Tito Puente, quem já desconfiava que aquela voz, aquela forma de se apresentar, que aquele talento de La Lupe poderia ter um grande sucesso. Devemos lembrar que naquela época em Nova York, o mercado latino, o mercado de música latina, junto com a Salsa, era praticamente controlado por uma gravadora só, a Fania Records, que tinha outras gravadoras menores, outras gravadoras que ela controlava, como a gravadora Tico, onde Tito Puente e Lupe começam a gravar vários discos.
E ela rapidamente alcançou uma fama extremamente importante. Rapidamente foi identificada como a artista latina, representante, digamos, do povo latino que naquela época, e ganhava cada vez mais importância. Ela é convidada para programas de televisão, onde faz suas apresentações muito importantes, recebendo o favor do público, mas também críticas do público conservador. E começa a ganhar muito dinheiro. Se diz que ela teria comprado a mansão de Rudolfo Valentino, ela morou na mansão de Rodolfo Valentino, o que demonstra a importância, o enorme sucesso comercial, que ela teve.
Mas devemos também lembrar que a música latina era controlada por um único selo discográfico, a Fania, e que ela foi, digamos, entre aspas, abandonada. O Tito Puente encontra outra figura, outra estrela feminina, muito importante, que seria Célia Cruz, que começou um pouco mais tarde. E, ao que parece, embora seja difícil de demonstrar com absoluta certeza, a Fania Records, como projeto comercial, queria apenas uma estrela feminina. Lembremos que a Salsa, a música latina em geral, a indústria musical, ainda hoje, era basicamente controlada por homens, e a grande orquestra Fania All Stars era praticamente um grande grupo de homens com apenas uma mulher, que seria Celia Cruz. E aquelas duas grandes estrelas, La Lupe e Celia Cruz, não poderiam coexistir.
O que podemos ter certeza é que realmente, quando Célia Cruz começa a gravar e vira a estrela feminina da Fania Records, La Lupe começa a gravar cada vez menos álbuns, seus álbuns não são distribuídos. A Fania decide investir em uma única estrela feminina, que seria Celia Cruz, que claramente também é uma cantora excepcional, mas isso não significa que tenhamos que escolher, isso não significa que La Lupe deva perder todo o seu apoio. Com certeza a carreira dela começou a declinar a partir do momento em que Celia Cruz se tornou a grande artista da Fania Records.
Vamos continuar então ouvindo mais algumas músicas da grande Lupe, aqui no nosso Programa Clandestino, e vamos começar a ouvir algumas músicas que vão mostrar um pouco desse sentido da Lupe, que foi uma artista, uma grande cantora, com uma capacidade histriônica extremamente importante, mas também nas letras ele gostava, adorava cantar alguns boleros que falavam de desamor. Alguns boleros extremamente dramáticos, extremamente intensos. Continuemos então ouvindo o segundo bloco, alguns boleros muito importantes, onde ela misturou um pouco da tradição do bolero caribenho, do bolero afro-caribenho, mas com algumas influências, alguns sons da música norte-americana, alguns instrumentos, alguns arranjos que lembram um pouco o rock. O nosso segundo bloco vai tocar alguns boleros que são sobre essas histórias de amor, “Como acostumbro” que é sobre um desamor terrível, e vai abrir o nosso bloco. Depois a música “Lo que pasó, pasó” que também é sobre um amor não correspondido. Fechando com “El Malo” ruim, onde ela também acusará seu amor de ser uma pessoa ruim, de ser o vilão da história e com a música “La Lupe se há enamorado” onde ela falha sobre o sofrer por amor, e fazer drama, sofrer dramas por amor. É o Programa Clandestino dedicado à grande La Lupe, aqui, como sempre, na Rádio Eixo.
Nota 3
Depois que a cantora cubana La Lupe, a quem dedicamos este Programa Clandestino é, entre aspas, cortada pelas grandes gravadoras, cortada pelo monopólio das gravadoras liderado pela Fania Records, sua carreira começa realmente a se declinar, sua carreira começa a perder muito fôlego, e lembremos que ela levou uma vida de riquezas, uma vida de luxos e caprichos difícil de manter. Ela começa a perder um pouco da importância, acaba cheia de divisões, com problemas conjugais também, acaba indo para Porto Rico, tentando fazer algumas turnês, tentando gravar um novo disco, tentando recuperar alguma parte de sua fama, parte de seu reconhecimento, e finalmente torna nos Estados Unidos. No nosso terceiro bloco vamos ouvir uma seleção de outros tipos de música, porque até agora demos uma importância maior talvez aos boleros, a música mais dramática, mais profunda, mas La Lupe gravava outros tipos de música, ela era muito eclética, ela gravava outro tipo de ritmos latinos e nesse nosso bloco vamos ouvir algumas salsas, umas músicas bem mais alegres, mas que também vão falar dessa importância, vão falar daquela figura feminina extremamente importante, referência absoluta nas décadas de 60 e 70 da música latina.
Vamos começar então ouvindo música “Dueña del Cantar”, que vai falar justamente sobre isso, que ela foi a rainha do canto. Ouviremos também uma homenagem muito importante ao Cubano, Benny Moré, a quem presta uma importante homenagem. E outras músicas como Toitica, Tuya, La Reina, Menu de Chivo, e Sonerita. Toda a música mais popular, onde ela vai demonstrar toda a sua capacidade vocal e vai explorar esses ritmos afro-caribenhos. No Programa Clandestino dedicado ao grande La Lupe, aqui, como sempre, no Programa Clandestino, da Rádio Eixo.
Nota 4
Chegando ao nosso último bloco do Programa Clandestino dedicado à obra, a biografia da importantíssima cantora cubana La Lupe. La Lupe, depois de ir para Porto Rico, tenta reconstruir sua carreira em Porto Rico, volta para os Estados Unidos, onde tenta fazer um grande retorno, fazendo uma grande festa com grandes autoridades, com grandes nomes, grandes estrelas da música latina que, percebendo ou sabendo que estava em uma situação extremamente precária, tentam ajudar ela. Ela sofre vários problemas de saúde, ela sofre de uma da qual nunca vai se recuperar, e no final da vida ela vai encontrar na fé, ela entra numa igreja evangélica procurando, talvez, pela fé, procurar resposta.
A verdade é que talvez ela não tenha tido o reconhecimento que deveria ter, mas não morreu, marcada abandonada. No seu funeral apareceram várias figuras extraordinárias, o que realmente aconteceu é que ela abandonou os palcos, abraçou a sua nova fé, abandonou tudo o que eram os palcos, toda a sua vida anterior, e por isso passou a ter uma vida mais modesta, mais privada. Algumas cantoras, como por exemplo Ile, a quem dedicamos um Programa, ela afirma explicitamente que La Lupe é uma grande inspiração para ela. Quando as pessoas ouvem sua música, ficam completamente sintonizadas. Na cidade de Nova Iorque existe até uma rua que leva o nome La Lupe Way. Então, simplesmente, talvez ela não tenha tido uma carreira de sucesso ao longo de toda a sua vida, e a parte final da sua biografia, talvez fique um pouco triste com essas dificuldades artísticas.
Vamos fechar este Programa Clandestino com uma seleção de músicas muito particulares que demonstram toda a capacidade eclética da Lupe para interpretar diferentes ritmos. Ela também cantou em inglês nessa época, querendo atingir um público talvez um pouco maior, ela cantava aquele sotaque espanhol extremamente marcado, o que dá um toque diferencial. Vamos ouvir algumas dessas músicas, como uma versão maravilhosa da música Fever. Depois escutaremos “Esta es mi vida”, “That it’s the way is gonna be”, “Se Acabó”. Todas músicas, que ela canta em inglês, mas sem esconder, ou querer dissimular o seu sotaque latino muito forte.
E vamos fechar com a música que tem a ver com a outra fé de La Lupe, aquela que professou durante muitos anos, que era uma fé de matriz afro-cubana e que, como vocês sabem, está extremamente relacionada com a música, os cultos afro-cubanos, os cultos africanos que acontecem em Cuba estão extremamente relacionados com a música, tem vários ritmos associados que ela gravou. Vamos então terminar esse nosso Programa Clandestino, ouvindo algumas músicas que ela gravou antes de abraçar um evangelismo. E isso para mostrar que a vida da Lupe foi uma vida cheia de altos e baixos, cheia de contradições, uma vida verdadeiramente intensa, que deixou a sua marca. La Yiyiyi, como era conhecida, de Cuba, uma grande estrela da música latina, totalmente válida hoje, aqui no Programa Clandestino do Rádio Eixo.
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