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Verso e Reverso - José de Alencar

Paola Antony

Atualizado: 16 de fev.

ROTEIRO


  • VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes

  • VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”

  • BG -  “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá)  trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de  fundo da voz do narrador...  bem baixinha)

  • SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS


TIAGO

Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou TIAGO DE CARVALHO e o nosso dramaturgo deste mês é “JOSÉ DE ALENCAR”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim e pelas atrizes KARLA CALASANS e  LÍLIAN ALENCAR, e grande elenco. Neste primeiro programa traremos uma cena da peça: “VERSO E REVERSO”.


BG - “Samba do Arnesto” com Adoniran Barbosa começa a tocar e depois vai ficando baixinho para o narrador começar a cena...


Narrador (rádio novela) – Nesse momento da peça “Verso e Reverso” algumas personagens da vida provinciana do Rio de Janeiro se veem defronte a um paulista que chegará todo encantado com a  cidade maravilhosa. Depois de 08 dias, o mesmo já não suportava mais a corte, seu nome: Ernesto/Arnesto. Ele termina por ser um analista da vida carioca. Vamos ouvi-lo em alguns diálogos, primeiramente Custódio um reclamão da política e do governo fala com Augusto um corretor e especulador da Bolsa de Valores, Ernesto os ouve de espreita. 


SONOPLASTIA – UMA CAMPANHINHA


CUSTODIO (LÍLIAN) -  Passou bem, Sr. Augusto? Que há de novo?... 

AUGUSTO (KARLA) -  Sr. Custódio, o Cambio 27 1/2; Juros 9 e 10 %; cotação oficial. Ações— as vendas estão animadas; Estrada de Ferro, dez, bastante procuradas. Tem Estrada de Ferro, sabia?... 

CUSTODIO -  Dizem que o ministério não está seguro?... 

AUGUSTO -  (rápido). Seguro Monstro— a economia brasileira vai estourar. Banco do Brasil —102; Hypothecario 205 — Mercado regular, poucas vendas. Mangaratiba, por favor não invista, meio frouxo; já no Gás e na navegação oscilam, invista com cuidado; a Rua do Cano e o comércio — tem baixa completa, só com desconto. 

CUSTODIO - (só para os ouvintes). Este homem é viciado na Bolsa de Valores, ele não fala mais a língua das gentes! Meu Deus! Então, senhor Augusto e não diz nada a respeito da política? 

AUGUSTO - Digo que tome o meu conselho: Investimento, investimento, investimento nas Estradas de Ferros, Estradas de Ferros, e largue o mais. Adeus: vou concluir uma operação importante com a moeda americana, este dólar, este dólar...


SONOPLASTIA: colocar o som do apito de uma locomotiva, trem umas três vezes


ERNESTO (TIAGO) -  Eis meu povo como se diverte um homem aqui na côrte no Rio de Janeiro, veja, estes dois malucos Custódio e Augusto, olhando para o tempo e sofrendo as loucuras por dinheiro e política! Os folhetinistas com os seus contos de mil e uma noites são os culpados de tudo que acontece! Enganaram-me, disseram-me que o Rio era uma Babilônia! Quem os lê e quem vê a realidade! Oh saudade de São Paulo... (crivo do roteirista)

CUSTODIO - Muito bom dia senhor Ernesto? O que estava a vociferar por aí!

ERNESTO - Viva, senhor Custódio! Ouvintes (crivo do roteirista), eis um sujeito que me conhece, mas que naturalmente nunca me viu. Vamos ver o que ele quer

CUSTODIO - Que há de novo? 

ERNESTO - O que há de novo? O senhor não leu os jornais? 

CUSTODIO - Passei apenas os olhos... (Senta-se.) 

ERNESTO - Pois eu nem isto. Aqui no Rio de Janeiro se preocupam mais com os jornais do que com a vida e com o trabalho, e eu não sou boletim de Imprensa

CUSTODIO - O senhor parece não estar gostando da vida carioca heim. Que calor que está fazendo heim. Creio que teremos mudança de tempo heim. O senhor não acha heim? 

ERNESTO - Heim é a....Calor, pouco trabalho, muita conversa. Oh saudade de São Paulo... (crivo do roteirista)


SONOPLASTIA: colocar um trechinho de “Sampa” de Caetano Veloso até “eu nada entendi...”


Narrador (rádio novela) – Após mais uma reclamação de Ernesto, este encontra Henrique um conhecido e o diálogo parece mais absurdo e fragmentado ainda...


HENRIQUE -  (KARLA). Senhor Ernesto! Oh! Quando chegaste?

ERNESTO - Cheguei há oito dias! Mas Adeus! Como vais, Henrique? E já estou indo embora para minha terra da garoa...

HENRIQUE - Calma calma homem, eu estou perfeitamente bem, e tu? Alegro-me muito em ver-te por aqui.

ERNESTO - Eu se quer esperava ter o prazer de te encontrar. 

HENRIQUE – Que mau humor meu filho, você está no Rio de Janeiro. Não entendi se o senhor gostou ou não de ver-me, mas ok Desembarcaste hoje mesmo? 

ERNESTO - Não, já disse há oito dias. É surrrdo! Esses cariocas ou são surdos, ou só ouvem o que querem...

HENRIQUE - Como deixaste S. Paulo? 

ERNESTO - No mesmo estado, oras, trabalhando. Oh que saudade de São Paulo... (crivo do roteirista)


SONOPLASTIA: colocar um trechinho de “São Paulo São Paulo” de Premeditando o breque... até “a vida é grana em São Paulo”


HENRIQUE - É verdade; aproveito a ocasião para pedir-te um pequeno obséquio... 

ERNESTO - Deixa eu ser gentil com este fluminense. Estou às tuas ordens, o que queres? 

HENRIQUE - Chegaste há pouco, e naturalmente deves ter curiosidade de ver o que se passa nos nossos teatros; aceita este bilhete, vem deste artista e pode mudar tua visão sobre o Rio de Janeiro...


SONOPLASTIA: colocar um trechinho de Samba do avião, até a parte “Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara...


ERNESTO - Ora, meu amigo, obrigadíssimo. Até que enfim uma gentileza 

HENRIQUE - Onde estás hospedado? 

ERNESTO - Num hotel em Botafogo. 

HENRIQUE – Sei, então Adeus. Havemos de nos ver no teatro, e melhore este humor sobre a capital federal, o Rio é uma maravilha Arnesto...

ERNESTO - Sim; vamos nos ver lá, tomara que a última vez, tomara que nunca mais. Meu Deus, Meu Deus, nunca compreenderei este cariocas. Oh que Saudades de São Paulo...


BG - “Samba do Arnesto” agora com os Demônios da Garoa e fica como parte de fundo das narrações seguintes 


KARLA

A comédia ilógica, mas moralmente lógica “Verso e Reverso” de 1864, aqui com franca adaptação revela a veia cômica numa certa imitação de Martins Pena. Alencar brinca e satiriza a vida na corte de DOM Pedro II. Ernesto é um paulista com “réiva” como os paulistas do Samba do Arnesto, sucesso de Adoniran Barbosa que ouvimos ao fundo. Esses perdem logo o encanto ao chegar no Rio, só veem desordem, folia e ali se inicia a mais famosa disputa entre povos no Brasil: Paulistas ou Cariocas? A ideia é: no Rio de Janeiro os homens desfrutam a vida, e em  São Paulo é que se trabalha de verdade. E como ficará esta disputa, caros ouvintes leiammm, leiaammmmm


TIAGO

José de Alencar é o famoso escritor de Iracema e do Guarani, mas não se espantem, foi um dos dramaturgos mais importantes do Brasil no séc. XIX. José Martiniano de Alencar Júnior nasceu no sítio Alagadiço Novo, Mecejana, Ceará, num 1 de maio de 1829. Era filho de José Martiniano de Alencar, senador do império, e de Ana Josefina. Em 1838 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Com 10 anos, Alencar ingressou no Colégio de Instrução Elementar. Durante a noite, presenciava os encontros políticos de seu pai. Sua casa foi onde tramou-se a maioridade de D. Pedro II, decretada em 1840.  


LÍLIAN

Com 14 anos, Alencar foi para São Paulo, onde terminou o secundário e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Conta-se que teria sido uma das crianças a brincar na corte com D. Pedro II. Romancista, dramaturgo, homem de jornal, um político experimentado pelas raízes familiares, membro do partido conservador, ao longo desta série e deste mês, vamos desvendar um pouco mais do seu teatro e também percorrer a História do Brasil e da Cultura Brasileira do séc. XIX.


KARLA

E assim encerramos o primeiro episódio da nossa série: o Teatro de JOSÉ DE ALENCAR. Na próxima semana teremos a segunda cena, com a peça “O DEMÔNIO FAMILIAR”. Agradecemos a paciência da querida  e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA. 


TIAGO

O  programa EIXOENCENA é  parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA  realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e

OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”


VOZ DA RÁDIO – PAOLA – “ A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA”

BG - Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa.




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