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o Bote do Rapé - Machado de Assis

Paola Antony

ROTEIRO


  • VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes

  • VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”

  • BG -  “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá)  trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de  fundo da voz do narrador...  bem baixinha)

  • SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS


KARLA

Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou KARLA CALASANS e o nosso dramaturgo deste mês é “MACHADO DE ASSIS”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim, pelo ator TIAGO DE CARVALHO, pelo atriz LÍLIAN ALENCAR, e grande elenco. Neste quarto e último programa temos uma cena da peça: “O BOTE DE RAPÉ”. 


BG - “Ai meu nariz” com a turma do Balão Mágico, a música fica de fundo e o narrador inicia...


Narrador (rádio novela) – Nesta peça, OUVINTES, acreditem, com o título: “O bote de rapé”, um homem conversa com seu próprio nariz sobre o vicío do uso do rapé, o fumo. O homem se chama Tomé e sente falta do rapé que por alguma razão não o tem, ouçam:


SONOPLASTIA – UMA CAMPANHINHA


TOMÉ (TIAGO) 

Que zelo! Que lidar! 

Que correr! Que ir e vir! 

Quase, que me falta tempo de dormir. 

Verdade é que o sarau com o Dr. Coutinho 

Quer festejar domingo os anos do padrinho, 

É de primo-cartello, é um grande sarau de truz. 

Vai o Guedes, o Paca, o Rubirão, o Cruz 

A viúva do Silva, a família do Mata, 

Um banqueiro, um barão, creio que um diplomata. 

Dizem que há de gastar quatro contos de réis. 

Não duvido; uma ceia, os bolos, os pastéis, 

Gelados, e o chá... A coisa há de custar caro.

Isso no Brasil, se quer é muito raro.


Sonoplastia repete inúmeras vezes os mais diversos espirros...


O NARIZ (LÍLIAN) – 

Senhor, senhor, senhor, 

por favor me ouça senhor...

 

TOMÉ – 

O mal é que eu desde já 

sempre me preparo 

a despender está

e isso não é raro

terei algum dinheiro 

dinheiro dinheirinho

com isto contribuo 

com algum cobrinho...

O quê? O quê? Quem fala? 


O NARIZ -  (eco para o nariz)

Sou eu, sou eu senhor

Não é um chafariz 

Sou eu sou eu senhor 

sou eu o seu nariz;

peço a vossa mercê 

que agora me console,

e te peço um favor

senhor não me enrole 

insira aqui agora

um pouco de tabaco

Há três horas jejuo, 

e já me sinto fraco, 

Nervoso, impertinente, 

Já me sinto estúpido, -- 

Sou um nariz assim 

Quase que resoluto

Em suma sem raiz....

Quem fala é vosso nariz...


TOMÉ – 

Tu és um infeliz 

Que consola outro infeliz; 

Também eu tenho a bola 

um pouco transtornada, 

E gemo, grito, como tu, 

à espera de uma pitada. 


O NARIZ – 

O nariz sem rapé, 

O nariz sem o fumo, 

é como alma sem amor. 

É assim que o resumo


TOMÉ – 

Olha podes cheirar 

esta pequena flor. 


O NARIZ 

Flores; nunca! jamais! 

Pergunte se há pelo mundo 

Quem as goste de cheirar 

esse produto imundo. 

Um nariz que se preza 

odeia aromas tais. 

Gostamos é de gozar

Com as cavernas nasais. 

Quem primeiro aspirou 

aquele pó divino, 

Deixa as rosas e o mais 

Para as ventas do menino.

Só sabe a felicidade

De cheirar o que se é

Quem já cheirou de verdade

Um bocado de rapé! 



TOMÉ (consigo) 

Acho neste meu nariz 

toda a elevação, 

dignidade, critério, 

empenho e reflexão. 

Ele respeita a si mesmo

não desce a farejar essências, 

Perfume, Águas de toucador 

e outras minudências?


O NARIZ 

Senhor, Senhor, Vamos, a uma pitada! 

Um instante, infeliz! (à parte) 


TOMÉ 

Vou dormir para ver se aquieto 

ESTE meu pobre nariz. (Dorme algum tempo e acorda) 


Sonoplastia som de tic tac e ronco


Narrador (rádio novela) – Tomé dorme por algumas horas e acorda assustado, com a voz do nariz ao lado... e para mais espanto da platéia, e dos ouvintes, posso dizer o seguinte, tem mais um loucura, que a poucos se confessa, o danado do  relógio, também entra na conversa


O NARIZ 

Safa senhor Tomé! 

Que sonho é esse; ah! 

Vamos ver se tu acorda

Seu nariz pede um folgar, um cheirar

E Que horas são essas

Ah muito eu  já acordo

Que horas te são dadas 

Por Esse maldito relógio? 


O RELÓGIO (KARLA) (batendo)  Uma, duas. 


TOMÉ 

Duas? DUAS? 

E a minha bela Elisa 

a andar por essas ruas. 

Coitada! COITADA

COM ESTE ABSURDO CALOR

AQUI NÃO PASSA NADA

...

Que diacho É ISSO? 

Também saiu com tanta pressa!

Será que perdeu a carruagem

Deve isso ser bobagem 

Pareceu-me, não sei; 

é ela, é ela, sim... 

com este passo apressado ... 

És tu, O MINHA Elisa? 

Elisa está voltando

O MEU CORAÇÃO de ti PRECISA


O NARIZ

SOU EU  SOU EU TOMÉ

NÃO TEM ELISA NENHUMA

PRECISO EU DE RAPÉ

NÃO DE UM SÃO TOMÉ

PRECISO EU DE RAPÉ

NÃO DE UM SÃO TOMÉ


BG - Retorna a música “Tengo um grano en la nariz” com Los Payasos


KARLA

E então caro ouvinte, vocês tiveram o prazer de ouvir a canção do nosso grupo infantil dos anos 1980, o Balão Mágico cantando “O meu nariz”, versão de uma sátira espanhola “Tengo un grano en la nariz”... Certa vez o poeta e crítico José Miguel Wisnik trouxe a ideia de que se não bastasse Machado de Assis já ter feito tudo que fez na literatura brasileira, ele ainda conseguia nos seus contos antecipar elementos da literatura moderna como a narrativa fantástica e os elementos do teatro do absurdo. E devem estar se perguntando o que ocorreu com Tomé, seu Nariz e sua amada Elisa, nesta comédia de versos absurda? Leiam, leiammmmmmmmm


LÍLIAN

A ironia, o humor, a comicidade eram as formas de Machado de Assis penetrar o que ele acreditava ser o mais profundo da alma humana pelas mazelas da alma humana, pelos incorrigíveis erros desta criatura chamada ser humano, o nosso autor nunca foi o mais otimista com a raça humana, ao contrário sua obra beirava o niilismo. Hoje pode-se dizer que ultrapassou as fronteiras tem sua obra traduzida em inúmeros lugares e continua encantado o mundo com sua escrita.


TIAGO


Machado faleceu em 1908 e se tornou o maior gênio da literatura brasileira, pelo menos até o fim do séc XIX e início do XX. O seu teatro era uma continuação das crônicas da vida carioca e por não menos um mergulho no modo de ser da sociedade brasileira e como ela se formava já no início do séc. XX. Machado nunca abriu mão de expor a loucura das paixões e obssessões humanas e de desvelar o homem universal, por meio do homem particular que ele bem conhecia.


KARLA

E assim encerramos o  QUARTO E último episódio da nossa série: “O Teatro de Machado de Assis”  No próximo mês  teremos o teatro de QORPO SANTO. Agradecemos a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.


LÍLIAN

O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES  DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL  e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e 

OS QUATRO ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”

VOZ DA RÁDIO – PAOLA – A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA

BG – Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa



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