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  • Paola Antony

Nathália Lima


Nathália iniciou seus estudos musicais na adolescência e teve como primeiro palco o Clube da Bossa Nova de Brasília.

Mais adiante, depois de 3 anos cantando em shows pela cidade, foi surpreendida com o convite para gravar com as cantoras Cely Curado, Márcia Tauil e Sandra Duailibe o CD Elas Cantam Menescal, que conta com a direção e participação do próprio Roberto Menescal.

Mais um pouco e ela passou também a se dedicar às composições próprias, o que lhe rendeu conquistas, como estar entre os classificados do Festival de Música da Rádio Nacional FM Brasília, com O Berro (semifinal, 2014), Romaria e Reis, parceria com Luciana Viana (final, 2015) e Festa do Destino, parceria com Letícia Fialho, que foi vencedora nas categorias Melhor música com letra e Melhor arranjo (2017). Além disso, Barracão, música de autoria da cantora, foi classificada para a 47ª edição do renomado Festival Nacional da Canção – Fenac (2017).

Nathália Lima tem um CD solo lançado, Flor do Tempo, que conta com a direção musical e arranjos de Túlio Borges, além da participação de grandes nomes da música brasileira, como o pianista Leandro Braga, o violonista Rafael dos Anjos, o flautista e saxofonista Eduardo Neves e os cantores Renato Braz e Simone Guimarães. Esse trabalho pode ser encontrado nas principais plataformas digitais e iremos ouvi-lo no Cumbuca de hoje, além das questões que Nathália trouxe para o encontro e que giram em torno do feminino na música, no palco, na composição.

Nathália Lima – Cara, eu sempre percebi essa coisa da mulher, parece que é só uma casca, tem de ser uma coisa bonita para enfeitar, né? É mais aceita como cantora, digamos assim, porque está ali enfeitando o palco, mas só se for bonita, porque, se for feia, tem de ser muito, muito melhor. Tem de ser uma cantora muito melhor se for gorda, se não tiver o padrão de beleza, digamos assim. Eu vejo isso também com as instrumentistas, é a mesma conversinha. Se você não tiver no padrãozinho, não tiver bonitinha, dificilmente consegue um espaço. Você tem de fazer muito mais do que um homem faria. Homem, sendo feio, gordo, magro, preto, branco, né? A mulher, só por ser mulher, tem esse muro a mais para transpor.

Para mim não foi diferente. Lógico que tenho meus privilégios. Não vou dizer que foi um caminho difícil. Nasci numa família bem de vida, assim, mais ou mesmos, não sou rica, mas também não sou pobre, nunca passei dificuldade e tenho esse imenso privilégio de ter nascido em uma família musical. Meu pai e minha mãe têm isso na veia. Meu pai já foi cantor de calouros na época do rádio e minha mãe cantava também, adorava Beatles. Minha mãe, por um lado, música internacional, e meu pai, música brasileira. Música caipira eu ouvi muito com meu pai. MPB, lado B, eu ouvi muito com meu pai.

Paola Antony – Nathália, como você lida com essas questões no palco? A questão de ser ou não ser padrão.

Nathália Lima – Eu nunca fui uma mulher magra e tenho meus momentos na vida em que estou maior. Isso me faz sofrer. Pode ser que ninguém esteja percebendo, mas para mim é assim, quando eu estou muito gorda, penso: cara, eu não vou conseguir fazer projeto, eu não vou conseguir fazer show, não consigo me colocar no palco assim, sabe? É como se eu estivesse devendo para o meu público alguma coisa. Então, a gente tem de fazer terapia, trabalhar a cabeça para não pirar, senão a gente vai virar dona de casa mesmo, porque o mundo lá fora exige muito, ainda mais do artista que está botando a cara, o corpo, o coração, tudo, as vísceras para fora quando está se apresentando. Eu sinto que preciso me proteger muito. Além disso, há essa questão espiritual, digamos assim, porque a gente fica muito exposta a todo tipo de olhar, a todo tipo de público. Hoje em dia, com os haters, com essa coisa que se criou com a internet, que as pessoas acham que podem falar o que querem — e podem, e falam —, se você não estiver com a cabeça legal, embarca naquilo, naquela fumaça.

Eu fui mãe em 2018. Meu filho fez 2 anos agora em novembro e, depois que fui mãe, perdi o tesão de cantar em público, de fazer show, produzir, sabe? Eu falei: cara, estou cansada. Vou cuidar do meu filho, vou cuidar de mim. Eu entrei nessa e teve um momento em que pensei: acho que nunca mais vou fazer uma foto, nunca mais vou gravar um CD, por causa dessas coisas. Toda vez você tem de arrumar uma roupa bonita para fazer um show, gasta com isso e às vezes o valor que você recebe não dá para custear essas coisas, é maquiagem, cabelo, não sei o quê. É muito difícil se libertar disso, porque a estética é muito importante para nossa sociedade, ela vem em primeiro plano. É a capa do meu trabalho, sou eu e, se eu não estiver legal, se a cabeça não estiver legal, eu me sinto uma mentirosa.

Paola Antony – Sobre esse seu disco lindo, Nathália, vamos falar sobre ele, como foi que você chegou nele? Como foi o processo de criação e realização?

Nathália Lima – Foi assim, eu estava, como sempre, em meus momentos de altos e baixos. Eu estava assim, ai, será que eu vou conseguir gravar um disco um dia? Porque eu tinha inscrito um projeto no FAC, o Fundo de Apoio à Cultura do DF, e não consegui, o projeto não passou. Então, comecei a pensar, eu nunca vou conseguir. O Túlio Borges, que é um artista incrível, completo, não é só músico, não é só compositor, não é só letrista, ele é um artista muito completo, foi num show meu e falou, acho até que despretensiosamente: "E, aí, quando é que você vai gravar?". Eu falei: "Cara, eu não sei, eu acho que não vou, não". Ele respondeu: "Não, bora gravar, você está com um trabalho muito legal de composição". Eu disse: "Cara, se você me ajudar, eu vou". Ele disse: "Claro, vamos conversar", e me provocou de novo e, quando surgiu uma oportunidade, eu inscrevi o projeto de novo no FAC e ele foi o diretor musical, o que para mim é uma grande honra, porque o considero um dos melhores de Brasília.

A gente gravou no estúdio do Valerinho Xavier, o Feedback Studio, na Asa Norte. Valerinho também gravou com a gente várias instrumentações do disco. A gente teve a participação de outros músicos, tanto do cenário local, como de São Paulo e Rio. Também o Pedro Vasconcelos no cavaquinho, sempre presente, um músico maravilhoso, que tem uma personalidade muito única, um cavaquinho sofisticado. Houve a participação daqui de Brasília do Caio Vitor, que toca comigo a vida toda, desde que eu comecei a cantar em 2009, um violonista muito bom, arranjador também. O próprio Túlio participou, cantei uma música dele, O tempo da Vida, que é uma parceria dele com Climério Ferreira, enfim, participação de gente pra caramba que eu nem estou lembrando agora. Para mim esse é um presente que dou e recebo, porque realmente é um embrulho de coisas lindas e pessoas lindas que agregaram.



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