
ROTEIRO
VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes
VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”
BG - “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá) trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de fundo da voz do narrador... bem baixinha)
SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS
KARLA
Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou KARLA CALASANS e o nosso dramaturgo deste mês é “FRANÇA JÚNIOR”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim, pela atriz LÍLIAN ALENCAR, pelo ator TIAGO DE CARVALHO, e grande elenco. Neste SEGUNDO programa temos uma cena da peça: “MALDITA PARENTELA”
BG: “O orvalho vem caindo” de Noel Rosa começa a tocar e depois o narrador começa a cena...
Narrador (rádio novela) – “Maldita Parentela” é uma comédia em que França Júnior homenageou o teatro de Martins Pena e trouxe os elementos de seu teatro crítico aos costumes. Neste instante da peça Marianinha, apaixonada por um rapaz pobre, que nem uma folha de jornal tinha para usar como cobertor e dormir chamado Aurélio, se vê obrigada a fazer sala para Guimarães, este sim ,rapaz rico a quem seu pai lhe vendera por dote. Guimarães se vende como um puta homem, ideal, mas no fundo um brutamontes, vamos ouvir este diálogo:
SONOPLASTIA: UMA CAMPANHINHA
GUIMARÃES (TIAGO) – Marianinha, Marianinha... Que diabo eu posso dizer para a senhora? O dia de hoje tem sido excelente para mim, vou muito bem, minha senhora.
MARIANINHA (LÍLIAN) – Verdade Sr. Guimarães?
GUIMARÃES - É verdade. Mais que a verdade!
MARIANINHA – Ouvintes este senhor é um exibido!
SONOPLASTIA: colocar muitas vaias muitas vaias...
MARIANINHA – Um chato!
SONOPLASTIA: colocar vaias muitas vaias...
MARIANINHA – Um pulha!
SONOPLASTIA: colocar vaias muitas vaias...
MARIANINHA – Acha que vai me conquistar demonstrando suas riquezas!
SONOPLASTIA: colocar vozes dizendo “não vai não, não vai não e risos....”
MARIANINHA – Diga senhor Guimarães, o porquê de estar tão bem? Tudo tão bem, de o senhor estar tão bem assim...
GUIMARÃES - Vendi de manhã no meu armazém, minha senhora, três barricas de linguiças paios, sacas de feijão, todas as leguminosas de minhas fazendas, cada vez mais rico estou e tenho agora o prazer de estar ao seu lado.
MARIANINHA - Que amabilidade! (irônica)
GUIMARÃES - Ah! eu não sou homem de etiquetas, a senhora sabe digo o que sinto. Ouvintes, acho que esta senhora não me leva muito a sério...
SONOPLASTIA: colocar vozes dizendo “leva sim, leva sim”, debochado risos
GUIMARÃES - Fiz um bom negócio e aproveito para me vangloriar com a menina, que é uma pessoa a quem amo com todas aquelas forças do macho que sou. Também se não gostasse da senhora, te dizia nas ventas; eu para isso sou bom.
MARIANINHA - O senhor gosta da franqueza?
GUIMARÃES - É a alma do negócio.
MARIANINHA(irônica) – Ouvintes, O Senhor Guimarães é um espírito altamente poético; UM GENTLEMAN! Para o Guimarães E os seus negócios? Jamais saem de sua cabeça, mesmo ao lado da mulher a quem ama?
GUIMARÃES - Se eu não pensar no negócio ao pé da senhora, quando é que hei de pensar então? Além disso o casamento é um verdadeiro negócio.
MARIANINHA - Ah?! O Casamento é um negócio???? (imita Guimarães)
SONOPLASTIA: coloca a marcha nupicial
GUIMARÃES - Sim, senhora; é uma sociedade sujeita a perdas e lucros e que tem por capital “o amorrrrrrrrrrrrrrrrrrr”. Quando o capital se esgota, dissolve-se a firma social, e cada um trata de procurar o seu rumo.
MARIANINHA - Pois já que o senhor gosta da franqueza, há de permitir- me que lhe diga que a nossa relação, o tal processo de compra e venda, negócio, bussinesssssss, negociata, arranjo comercial, acordo internacional, isto tudo aí.... sabe?
GUIMARÃES – A senhora é uma máquina de dinheiro ficarei mais rico ainda, mas diga?
MARIANINHA - É impossível.
GUIMARÃES – Não entendi senhora?!
MARIANINHA - É impossível. (imitação do Guimarães)
GUIMARÃES – Não entendi senhora?!
MARIANINHA - É impossível. O senhor é moco, não ouve bem? Não entende bem?
GUIMARÃES – Não entendi senhora?! O que é impossível?
MARIANINHA - É impossível nosso casamento, vou soletrar ca – sa – men – to...
GUIMARÃES - Impossível?! Por quê?
MARIANINHA - Já dei o meu capital a outra sociedade. Minha grana, meus dividendos, minhas ações na bolsa de valores, minha bufunfa, minha grana, meu d’argent, meu money, minha fortuna, minhas moedas...
SONOPLASTIA: coloca som de caixa registradora e moedas caindo
GUIMARÃES – Como assim já deu o seu capital?! Não é isto o que seu pai tem me dito!
MARIANINHA - Mas é o que te digo agora.
GUIMARÃES - Ora, a menina está caçoando, debochando de mim. E se o Senhor seu pai vai obrigar a senhora, já comprei seu dote, comprei a senhora...
MARIANINHA – Posso até casar por obrigação com o senhor, mas o meu coração nunca te pertencerá.
Narrador (rádio novela) – Neste momento, o senhor Aurélio, o pobretão, que havia combinado de ver a menina, percebe que dentro da casa da mesma há uma conversa entre ela e o senhor Guimarães, ele se encosta na porta e põe o ouvido para ouvir a conversa
GUIMARÃES – Senhora Marianinha serás minha e pronto, venha cá...
MARIANINHA – Não sou sua mercadoria meu senhor
GUIMARÃES - Venha cá mulher...
MARIANINHA – Vou até aquela porta e grito, seu brutamontes...
Narrador (rádio novela) – Ao abri a porta o senhor Aurélio que ouvia a conversa cai aos pés de Marianinha
SONOPLASTIA: coloca um som de queda de uma pessoa pode ser de escada...
MARIANINHA – Levante-se meu querido Aurélio, Dê-me o seu braço, Sou sua.
GUIMARÃES – Quem é este homem? Não importa! Negócio desfeito. Esta mulher não me serve. Vou me embora, procurarei outros mercados onde possa negociar uma que valha a pena.
MARIANINHA – Aurélio. Por que está tão triste hoje?
AURÉLIO (TIAGO) - A tristeza tem-me sido companheira fiel desde o berço e há de guiar me talvez até ao túmulo. No horizonte negro que se estendia diante dos meus olhos vi luzir uma estrela de bonança. Quando seus raios principiaram a aquecer-me, o astro empalideceu e disse ao coração do pobre órfão: - Louco, que ousaste sonhar a felicidade, volta ao martírio e segue teu destino.
MARIANINHA - O teu destino é o meu; expele de teu rosto as nuvens sombrias da tristeza e pensa nesse amor que será a nossa ventura.
AURÉLIO - Esse amor é impossível, Marianinha. Sem nome, sem família e sem fortuna, vejo-me repelido por teu pai e a consciência diz-me, nas horas em que a esperança vem acalentar-me, que devo fugir quanto antes desta casa.
MARIANINHA - Mas minha mãe te adora, Aurélio.
AURÉLIO - O coração de uma mãe é sempre generoso! MARIANINHA - Eu te juro que serei tua.
AURÉLIO - Não jures; entre a opulência que te espera, embora amargurada, e a pobreza feliz, teu pai escolherá aquela e os teus votos serão impotentes diante de tão funesta ambição.
MARIANINHA - Tu não me conheces.
AURÉLIO - Conheço-te. És um anjo! Se a sorte te ligar a esse homem não te encriminarei por isso. Vou me curvar submisso ante o meu destino e seguirei meu caminho.
BG: “O orvalho vem caindo” de Noel Rosa começa a tocar e depois o narrador começa a cena...
KARLA
A continuidade desta comédia precisa ser encarada a partir de dois elementos típicos da dramaturgia de França Júnior: a grande confusão da vida social se reproduz na vida urbana do Brasil do séc. XIX. E o amor? O amor só pode ser encarado diante de uma realidade tragicômica e risível... Essa comédia bufa nos leva a uma pergunta: Aurélio e Marianinha vão conseguir ficar juntos? Leiam, leiam...
TIAGO
A canção ao fundo é um dos nossos típicos samba canção e do brilhante Noel Rosa. O poeta da vila, um dos nossos mais proeminentes compositores, em “O orvalho vem caindo” nos conta a história do desamparado pelo frio e fome, como a situação de Aurélio, “a sopa dele não tinha nem osso nem tem sal” como traz a letra da música, um deboche sobre a condição social do Brasil.
LÍLIAN
Este samba de Noel, ainda nos traz os elementos frutos dos primeiros carnavais do país. As famílias que passavam o ano entre os conflitos passionais, econômicos, de status social, eram uma parentela maldita, como nos diz França Júnior, tinham na história do Entrudo a brincadeira para sair às ruas e jogar ovos, tomates e bolas de cheiro nas outras pessoas, uma diversão típica dos mais pobres e dos disfarces dos mais ricos.
KARLA
O Entrudo surgiu antes dos grandes cordões e das grandes sociedades carnavalecas, e o carnaval já começava com a crítica e sátira sobre o rico e sobre o pobre e sobre a miséria humana de corpo e alma.
LÍLIAN
E assim encerramos o segundo episódio da nossa série: O Teatro de França Júnior Na próxima semana teremos a terceira cena, com a peça: “AS DOUTORAS”. Agradecemos a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.
TIAGO
O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e
OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”
VOZ DA RÁDIO – PAOLA – A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA
BG – Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa
Para ouvir acesse o link: https://soundcloud.com/radioeixo/franca-jr-pgr-02-maldita-parentela?in=radioeixo/sets/eixoencena
Comments