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Paola Antony

Macaxeira Acioli

Atualizado: 17 de nov. de 2022


Paola Antony – Olá a todas e a todos. Hoje estamos abrindo o Cumbuca ao som da banda paraibana Cabruêra. Isso porque nosso convidado de hoje é o percussionista paraibano/candango Macaxeira Acioli, que, num determinado momento de sua vida, integrou a Cabruêra.

Bem-vindos à Rádio Eixo. Eu sou Paola Antony e esse é o Cumbuca, programa que tem o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal – FAC.

Macaxeira Acioli nasceu em Campina Grande, Paraíba, um dos berços da cultura nordestina, e chegou a Brasília em 1995. Ficou entre lá e cá, integrando grupos e bandas muitos interessantes dessas duas cidades e atualmente, morando em Brasília, integra a Muntchako, grupo que faz um som dançante e bacanérrimo, misturando elementos eletrônicos com orgânicos.

Muntchako, além de Macaxeira Acioli na percussão e samples, conta com Samuel Mota (guitarra, synths e programações), Rodrigo Barata (bateria e samples). Rodrigo, por sinal, é um dos grandes agitadores culturais e musicais da cidade de Brasília.

Mas hoje o encontro é com Macaxeira Acioli.

Paola Antony – Macaxeira, bem-vindo ao Cumbuca, da Rádio Eixo. A gente está doido para saber de você. Quem é o artista Macaxeira Acioli?

Macaxeira Acioli – Ave Maria, quem souber morre (rsrsrs).

Está em reconstrução sempre, em trabalho. Que boas são essas alterações, essas alternâncias!

Paola Antony – Macaxeira, dando aqui uma xeretada em sua vida, vi que é percussionista e tem formação em cultura popular, é isso?

Macaxeira Acioli – Isso. Sou músico de formação. Eu me formei em música popular pela Universidade Federal da Paraíba e tenho a percussão, os tambores e toda essa energia como ferramenta de inclusão e trabalho.

Paola Antony – E a origem desse caminho, qual foi?

Macaxeira Acioli – Eu nasci em Campina Grande, na Paraíba, e lá é um dos berços da cultura nordestina. A gente tem o maior São João do mundo e toda essa figura do forró, do baião e das festividades juninas e eu cresci em meio a quadrilhas, eu dançava quadrilha e cheguei a participar de uns grupos percussivos de lá, mas, quando criança, sempre foi a dança da quadrilha. Engraçado que nunca tive contato com a música de forma direta. Na família tenho um tio que é maestro, mas nunca tive contato com ele, nunca tive de berço a música muito presente e o ensinamento de instrumentos.

Eu vim para Brasília em 1998, acompanhado de painho e mainha, que estavam de mudança de emprego e cheguei aqui de paraquedas e só depois que tive contato com o samba; minha escola é o samba. Na verdade, a música veio para mim pelos treinos, porque eu sempre joguei bola, sempre fui atleta e, depois dos treinos, acontecia uma batucadinha, a galera tomava um negocinho e sempre havia um tamborzinho que ia ficando ali do lado e eu fui puxando para o meu lado e, quando menos esperei, estava tocando nesse grupo e levando muito a sério, na risca, colocando o trem no trilho.

Paola Antony – Olha aí, e você tinha que idade?

Macaxeira Acioli – 16 anos. Precoce.

Paola Antony – Macaxeira, você acha que suas referências de infância e de família, ainda que não diretamente musicais, como você falou, colaboraram ou ainda colaboram para suas escolhas?

Macaxeira Acioli – Sim, fui criado com vovô assando milho na fogueira, na frente de casa. Toda essa festividade bate muito forte dentro de mim. Escutar Assisão, escutar Sivuca, Lula e todos os grandes medalhões do forró, e outras coisas também. Eu tinha um tio que era madeireiro e ele ia para o Norte, para o Pará, pegar madeira, e tio Aldo sempre trazia vários discos de lá. Eu escutei muita música instrumental brazuca naquela época. Mestre Vieira, muita lambada, muita guitarrada do Pará, e isso fez certamente parte da minha base de escuta, de vivência, mas não de tocar. Não me lembro de quando pequeno ter pegado em instrumento.

Paola Antony – Essa formação em música popular e a decisão de ser músico, foi por aqui que você decidiu, entre a moçada do samba, ou você tinha voltado já para a Paraíba? Eu pergunto isso, porque sua formação de músico foi lá, não foi?

Macaxeira Acioli – Foi aqui em Brasília. Eu participava de uma banda chamada Capital do Samba e dessa banda passei para o Grupo Moleque, que tinha certa notoriedade em Brasília. Sempre estava tocando, viajando e, quando entrei na universidade, eu sou também publicitário, durante toda a fase da universidade, tive contato com a música. Ela não estava em primeiro lugar, mas chegou um momento em que eu estava infeliz como publicitário, trabalhando nas agências, estava de saco cheio daquele mundo, chutei o balde, vou fazer o que meu corpo e minha alma estão pulsando, vou seguir a carreira de músico, e estou aí felizão, vamos nessa.

Paola Antony – Em Brasília, seu lance foi o samba e, na Paraíba, como você se envolveu com a cena de lá?

Macaxeira Acioli – Bem, voltei para a Paraíba e fiz o vestibular para música. Não contei para ninguém e, numa tarde, minha tia me liga, falando: "Valber [meu nome é Valber, kkkk], por acaso você fez vestibular para música?". Eu digo: "Eu fiz". E foi uma grande coincidência, porque eu nem tinha visto o resultado e me inscrevi no último dia, depois dessa ligação.

Enfim, caí no samba em Brasília, fiz alguns shows com GOG, que é uma grande figura do rap nacional, grande poeta e com a pegada black. Fui para a Paraíba estudar música popular na universidade federal e tocar em outros projetos, como Sonora Samba Groove, Totonho e os Cabra, Escurinho, com a Cabruêra, que é um grande nome da música nordestina, paraibana. Engraçado, sempre foi minha banda preferida e, em certo dia, recebo uma ligação: "E, aí, vamos gravar?". E, enfim, quando menos esperei, estava dentro da Cabruêra com quem dei vários giros por fora e por aqui também, no Brasil.

Paola Antony – Macaxeira, a mistura de sonoridades modernas com as referências de raiz que o Cabruêra e aquela geração musical fizeram, de alguma forma, é uma proposta que você leva adiante?

Macaxeira Acioli – É, acabei trazendo isso. O próprio Muntchako tem uma base da cultura popular, dos tambores, essa coisa do maracatu, do xote, xaxado e baião, essa “percussa” marcada, essa “percussa” raiz e do rock'n'roll.

Paola Antony – Aquela época foi massa, Paraíba-Pernambuco. e você veio fazer o que aqui de volta? O que aconteceu?

Macaxeira Acioli – Eu fiquei, acredito, um ano com eles e logo depois fui para Dublin, na Irlanda, e acabou que me encontrei e toquei com o Cabruêra, em Portugal.

Fui para lá com a intenção de abrir os horizontes, ter contato com uma nova língua e também trabalhar com música, claro. Levei meus tamborezinhos e uma mala cheia de cacarecos. Era pinico, caçarola de metal, panela, enfim, botei tudo numa trouxa, fui-me embora e foi muito massa. Eu fiquei um ano e meio na Irlanda e as coisas estavam acontecendo muito rápido. Gravei com alguns artistas de lá, irlandeses, fiz turnê com a Hypnotic Brass Ensemble, que é uma banda norte-americana, e tive a oportunidade de transitar em importantes festivais pela Europa com essa banda. Fiz mais de cinco turnês com eles, 17 países. Foi uma bagagem muito boa para conhecer o mercado de fora, esse mainstreaming, além de estar inserido na cultura de lá. Isso é imensurável.

Paola Antony – Macaxeira, independentemente das bandas, ao longo desse tempo, como você desenvolveu sua pesquisa pessoal, de perceber sua música, como você foi evoluindo?

Macaxeira Acioli – Eu acho que o Muntchako já foi um grande desenvolvimento. Eu nunca me imaginei tocando num grupo instrumental. A base do Muntchako é instrumental e ela é somada, misturada, ao eletrônico, e eu também nunca tinha tocado música eletrônica dessa forma. Tive um encontro com a música instrumental de um lado e a eletrônica do outro, que é uma música dura, exata, programada, ela tem de ser processada antes e acabei entrando nesse universo da música eletrônica e certamente isso está no degradê da transformação.

Paola Antony – Qual a proposta do Muntchako?

Macaxeira Acioli – Paola, acho que é balançar a bundinha, visse? Balançar a bundinha na pista, essa é a intenção do Muntchako. Desde que a gente iniciou, sempre teve muito cuidado com o corpo da galera, remexer. É quebrar um pouco essa ideia de que música instrumental tem de ser curtida numa cadeira branca, sentado. Não que a gente tenha inventado a roda, muito pelo contrário, a música instrumental, sobretudo a brazuca, é muito dançante, a guitarrada é uma música instrumental lá do norte, se você botar, não tem jeito, você pode ficar parado, mas o dedinho está batendo ali, no copo. A gente sempre teve isso como norte e, claro, misturar. Quando o Muntchako começou, a ideia era a gente fazer um estudo de música africana, mas, já no primeiro encontro, saiu disso. No segundo, a gente já estava vindo com txatxatxa e um remelexo lá do Peru, lá da costa, misturado com coco, com baião, que misturou com funk da periferia, que bate com o tango lá da Argentina. A gente sempre quis misturar muito e de forma muito progressiva.

Paola Antony – Além do Muntchako e, diante desse cenário pandêmico, está rolando alguma outra coisa para você?

Macaxeira Acioli – A pandemia destravou vários processos. Eu nunca soube o que era um "rec" na minha vida, nunca soube me gravar e hoje a gente tem de fazer tudo no estilo "faça você mesmo". Hoje eu estou conseguindo gravar meu som aqui em casa, meus tambores, entender como é essa engenharia de som; é outra descoberta. A primeira foi o contato com a música eletrônica e agora o fazer música eletrônica. Logo eu vou soltar esses sons, algumas coisas já estão prontas e também tem batido muito a questão visual, pois hoje eu já estou brincando com alguns vídeos, enfim, tirando as coisas da cabeça.

Paola Antony – Como é o nome desse seu projeto?

Macaxeira Acioli – Uaracachaba.

Paola Antony – Macaxeira, muito história, hein? Muito massa ouvi-lo. Muito inspiradora sua trajetória. Superbacana seu trabalho. Obrigada por esse encontro, sucesso para você!

Fica por aqui o Cumbuca de hoje, que recebeu Macaxeira Acioli, essa figura ótima e talentosa, que integra, com outros grandes artistas, esse painel musical tão diverso e rico que temos no Distrito Federal. Espero que você tenha gostado desse encontro no Cumbuca, da Rádio Eixo. Lembrando que os programas estreiam sempre às sextas-feiras e que são reprisados ao longo da semana, em diferentes horários. Confira em nossas redes sociais, Facebook e Instagram, ou em nosso site.

O Cumbuca tem os trabalhos técnicos de Santana Sam e o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal – FAC.

Eu sou Paola Antony.

Macaxeira, valeu demais!

Muito obrigada a você que nos acompanhou nesse Cumbuca. Um grande abraço e até semana que vem.


A entrevista completa de Macaxeira Acioli para o Cumbuca está em áudio, com uma seleção musical que percorre sua carreira e que pode ser conferida no SoundCloud da Rádio Eixo.


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