
ROTEIRO
VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes
VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”
BG - “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá) trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de fundo da voz do narrador... bem baixinha)
SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS
TIAGO
Narrador (rádio novela) – Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou TIAGO DE CARVALHO e o nosso dramaturgo deste mês é “JOSÉ DE ALENCAR”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim e pelas atrizes KARLA CALASANS e LÍLIAN ALENCAR, e grande elenco. Neste terceiro programa temos uma cena da peça: “AS ASAS DE UM ANJO”
BG. “O cheiro de Carolina” de Luiz Gonzaga começa a tocar e depois fica baixinho ao fundo da voz do narrador até começar a cena
Narrador (rádio novela) – Os casamentos eram sem dúvida dos assuntos mais comentados numa sociedade como a brasileira do séc. XIX. A ideia dos relacionamentos arranjados por algum interesse tornavam-se foco das comédias, das farsas ou dos dramas de costumes. Na peça: “As asas de um anjo” Alencar vai nos colocar sobre este tema explorando a centralidade antagônica da figura feminina. Esta está sempre entre o endeusamento da beleza e a submissão ao machismo da sociedade PATRIARCAL. E então, viver entre o casamento arranjado ou lutar pela relação amorosa com um vadio qualquer, era possível escolher? Vejamos o diálogo inicial entre a senhora Helena, uma alcoviteira, e a menina Carolina, uma jovem sonhadora, linda, um partidão!
SONOPLASTIA – UMA CAMPANHINHA
Um tom de sussurro e clandestinidade tomará toda peça
HELENA (LÍLIAN) – Carolina, Eu percebi!
CAROLINA (KARLA) - Mas... Por que ele não veio senhora Helena?
HELENA – Sabes por que me chamam de alcoviteira? Só por ser boa arranjadora de matrimônios. E é sobre isto mesmo que lhe quero falar. O Ribeiro mandou que eu viesse falar contigo...
CAROLINA - O quê?...
HELENA - Que deseja vê-la a sós.
CAROLINA - Como?
HELENA - Escute. Às nove horas, às nove horas, nem mais nem menos, às nove horas ele passará por aqui e lhe falará por entre a FECHADURA DA PORTA DOS FUNDOS.
CAROLINA - Para quê?
HELENA - Está apaixonado loucamente por você; quer falar-lhe; e não há senão este meio e será às nove horas...
CAROLINA - Podia ter vindo hoje com a senhora, como costuma. Era melhor.
HELENA - O amor não se contenta com estes olhares a furto menina, e esses apertos de mão às escondidas, às nove horas...
CAROLINA - Mas eu tenho medo. Meu pai pode descobrir; se ele soubesse!...
HELENA - Qual! É um instante! O Ribeiro bate três pancadas na PORTA DOS FUNDOS; é o sinal e...
SONOPLASTIA: som de vozes repetindo três vezes: “ às noves horas”
CAROLINA – Não! não! Diga a ele que não venha...
HELENA - Digo nada; não me acreditará, e vem de qualquer forma. Se você não falar com ele, ele nunca mais voltará.
CAROLINA - Então deixará de amar-me!...
HELENA - E de quem será a culpa? Além de que perderei uns réis...
CAROLINA - Mas ele me exige uma coisa impossível.
HELENA – Perderei meus réis de alcoviteira. E Carol, não há nada impossível para o amor. Pense bem, ele tem outras pretendentes
CAROLINA - Aí vem mãezinha!
HELENA – Não esqueça... pois
CAROLINA - Às nove horas já ouvi até vozes
SONOPLASTIA: som de vozes repetindo três vezes: “ às noves horas”
Narrador (rádio novela) – A menina Carolina negou ao pai e a mãe o desejo de ambos em casá-la com um primo CHAMADO Luís, ela que estava deslumbrada pelo tal vadio senhor Ribeiro, um galanteador, que como prometeu apareceu de uma vez por todas para anunciar seu amor e ver qual será a resposta da moça... Carolina vai se espantar com a chegada de supetão do rapaz...
SONOPLASTIA: colocar uma voz coletiva de espanto dizendo: “Ohhhhhhhhhhhhhh"
CAROLINA - Meu Deus SENHOR RIBEIRO!... Viestes mesmo
RIBEIRO (TIAGO) - Carolina... Não QUER FALAR COMIGO?
CAROLINA - Cale-se; podem NOS ouvir.
RIBEIRO - Por isso mesmo; não esperdicemos estes curtos momentos que estamos sós.
CAROLINA - Tenho medo.
RIBEIRO - De quê? De mim?
CAROLINA - Não sei!
RIBEIRO - Tu não me amas, Carolina! Senão havias de ter confiança em mim; havias de se sentir feliz como eu.
CAROLINA - E o meu silêncio aqui não diz tudo? Claro que estou feliz, mas neste momento engano meu pai e minha mãe, para vir falar contigo...
RIBEIRO - Tu não sabes! O coração duvida sempre da ventura. Para acreditar em ti quero que repita eu te amo. Repete que me amas. Dize, DIZE, DIZE, DIZE sim?
CAROLINA - Para quê?
RIBEIRO - Eu te suplico!
CAROLINA - Já não lhe confessei tantas vezes que lhe...
RIBEIRO -- Assim não quero. Há de ser: eu te EU TE EU TE EU TE EU TE o que Carolina...
CAROLINA - Eu te amoOOOOOOOOO SEU TOLO.
RIBEIRO - Obrigado. Agora MEU CORAÇÃO SUSPIRA...
SONOPLASTIA: colocar uma voz coletiva suspirando um: “AAAAAaiiiiiiiiiiiiii”
CAROLINA - Agora adeus. Até amanhã. Vá se embora...
RIBEIRO - Não, Carolina. Não posso
CAROLINA - Mas é preciso.
RIBEIRO - Tu és minha. Vamos viver juntos.
CAROLINA - Sempre?
RIBEIRO - Sempre! sempre juntos!
CAROLINA - Como?
RIBEIRO - Vem comigo...
CAROLINA – Fugir?
RIBEIRO - Fugir não; acompanhar aquele que te adora.
CAROLINA - É impossível!
RIBEIRO - Vem, Carolina.
CAROLINA - Não! Não! Deixe-me!
RIBEIRO - Ah! É esta a prova do amor que me tem! Adeus! Esqueça-se de mim. Nunca mais nos tornaremos a ver.
CAROLINA - Mas não posso abandonar minha mãe! Não posso!
RIBEIRO - Eu acharei outras que me amem bastante para me fazerem esse pequeno sacrifício.
CAROLINA - Outras quaisquer, não uma de família como eu
RIBEIRO - Mas elas terão um coração.
CAROLINA - E eu não tenho?
RIBEIRO - Não parece.
CAROLINA - Antes não o tivesse.
RIBEIRO - Adeus.
CAROLINA - Até amanhã. Sim?
RIBEIRO - Para sempre. Adeus vou para os braços de outra
CAROLINA - Amanhã... Talvez.
SONOPLASTIA: colocar a música “Amanhã Talvez” com Joana no trechinho: “só mais uma vez amanhã talvez...”
RIBEIRO – Hoje ou nunca. Hoje contigo, amanhã com outra
CAROLINA - E minha mãe?
RIBEIRO - É uma separação de alguns dias.
CAROLINA - Mas ela me perdoará?
RIBEIRO - Vendo sua filha feliz...
CAROLINA - Que dirão minhas amigas?
RIBEIRO - Terão inveja de ti.
CAROLINA - Por quê?
RIBEIRO - Porque serás a mais bela moça do Brasil...
CAROLINA - Eu?
RIBEIRO - Sim! Tu não nasceste para viver escondida nesta casa, espiando pelas frestas da rótula, e cosendo para a Igreja. Estas mãos não foram feitas para o trabalho, mas para serem beijadas como as mãos de uma rainha. (Beija-lhe as mãos.) Estes cabelos não devem ser presos por laços de fitas, mas por flores de diamantes. (Tira os laços de fita e joga-os fora.) Só a cambraia e a seda podem roçar sem ofender-te essa pele acetinada.
CAROLINA - Mas eu sou pobre!
RIBEIRO - Tu és bonita, Carolina, e cheirosa, e Deus criou as mulheres belas para brilharem como as estrelas. Terás tudo isso, diamantes, joias, sedas, rendas, luxo e riqueza. Eu te prometo! Quando apareceres no teatro, deslumbrante e fascinadora, verás todos os homens se curvarem a teus pés; um murmúrio de admiração te acompanhará; e tu, altiva e orgulhosa, me dirás em um olhar e no pé do ouvido: Sou tua Ribeiro...
CAROLINA - Tua noiva?
RIBEIRO - Tudo, minha noiva, minha amante. Depois iremos esconder a nossa felicidade e o nosso amor num retiro delicioso. Oh! se soubesses como a vida é doce no meio do luxo, em companhia de alguns amigos, junto daqueles que se ama, e à roda de uma mesa carregada de luzes e de flores!... O vinho espuma nos copos
SONOPLASTIA: colocar o som de uma champagne estourando
RIBEIRO CONTINUA - e os olhares queimam como fogo;
SONOPLASTIA: colocar o som de fogos de artifício
RIBEIRO CONTINUA - os lábios que se tocam, esgotam ávidos o cálice de champagne como se fossem beijos em gotas que caíssem de outros lábios... Tudo fascina; tudo embriaga; esquece-se o mundo e suas misérias. Por fim as luzes empalidecem, as cabeças se reclinam; e a alma, a vida, tudo se resume em um sonho e o sangue ferve nas veias;
SONOPLASTIA: colocar a canção “O meu sangue ferve por vc” com Magal, no trechinho: “oh eu te amo, oh eu te amo meu amor... o meu sangue ferve por vc”
CAROLINA - Mas o sonho passa...
RIBEIRO - Para voltar no dia seguinte, no outro e sempre.
CAROLINA - Eu também tenho meus sonhos; mas não acredito neles.
RIBEIRO - E que sonhas tu, minha Carolina?
CAROLINA - Vais zombar de mim!
RIBEIRO - Não; conta-me.
CAROLINA - Sonho com o mundo que não conheço! Com esses prazeres que nunca senti na carne. Como deve ser bonito um baile! Como há de ser feliz a mulher que todos olham, que todos admiram! Em que um homem a toca! Mas isto não é para mim.
RIBEIRO - Tu verás!... Vem! A felicidade nos chama.
CAROLINA - Espera.
RIBEIRO - Que queres fazer?
CAROLINA - Rezar! Pedir perdão a Deus.
RIBEIRO - Pedir perdão de quê? O amor não é um crime.
CAROLINA - Meu Deus!... E minha mãe?
RIBEIRO - Vem, Carolina. VAMOS FUGIR...
SONOPLASTIA: colocar a música “Vamos Fugir” com o Skank, no trechinho inicial da letra até “tô cansado de esperar que vc me carregue”
Narrador (rádio novela) – Com a chegada do primo Luís tudo atrapalha esta cena apaixonada e vacilante de amor e fuga, tesão e vacilo, entre esses pombinhos...
RIBEIRO – VOU ME EMBORA ESTÁ CHEGANDO O DONO DA MÃO DE CAROLINA, DESGRAÇADO LUIS, SOU LOUCO POR ESTA CAROLINA, E O CHEIRO DESTA CAROLINA....
BG “O cheiro de Carolina” de Luiz Gonzaga começa a tocar e fica baixinho nas narrações seguintes
LÍLIAN
Apresentada ao Conservatório Dramático no início de 1858, esta peça em quatro atos foi levada ao palco em 30 de maio DESTE ANO e publicada em volume em 1860. Após apenas três encenações, foi retirada de cartaz, por ordem policial, em 21 de junho, por apresentar "pensamento e mesmo lances considerados imorais". Censura, ouvintes, o que houve foi censura, pois nada de imoral tinha a peça, a não ser os desejos da menina Carolina em ser amada e desfrutar a vida, em fugir e se aventurar. A PEÇA nem chegava perto do enredo luxurioso de uma “Dama das Camélias”, mas Qual o fim de Carolina? Leiam leiammmmmm
KARLA
Uma das cenas mais cotidianas da vida brasileira da segunda metade do séc. XIX era a leitura dos folhetins que vinham nos jornais. O ledor, quase sempre um jovem bem formado que juntava as famílias ao seu redor, os mantinha atentos diante daquela narrativa romântica que iria contar e quase sempre a trama de um casal apaixonado que em algum momento após muita luta por este amor, alcançaria a beleza deste sentimento inominável e idealista e às vezes um pitadinha de erotismo. Afinal, como nos lembra Luiz Gonzaga no seu xote, pano de fundo desta cena, quando uma mulher cheira deliciosamente, com o seu odor di femina, não há quem resista ao cheiro de Carolina...
TIAGO
E assim encerramos o TERCEIRO episódio na nossa série: o Teatro de JOSÉ DE ALENCAR. Na próxima semana teremos a QUARTA E ÚLTIMA cena, com a peça “O JESUÍTA”. Agradecemos a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.
LÍLIAN
O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e
OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”
VOZ DA RÁDIO – PAOLA – “ A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA”
BG Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa
Para ouvir acesse o link: https://soundcloud.com/radioeixo/jose-de-alencar-pgr-03-as-asas-de-um-anjo?in=radioeixo/sets/eixoencena
Comentarios