top of page

Amor com amor se paga - França Junior

Paola Antony

Atualizado: 16 de fev.



ROTEIRO


  • VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes

  • VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”

  • BG -  “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá)  trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de  fundo da voz do narrador...  bem baixinha)

  • SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS



LÍLIAN

Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou LÍLIAN ALENCAR e o nosso dramaturgo deste mês é “FRANÇA JÚNIOR”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim, pela atriz KARLA CALASANS, pelo ator TIAGO DE CARVALHO, e grande elenco. Neste primeiro programa temos uma cena da peça: “Amor com amor se paga”


BG “Ingênuo” de Pixinguinha começa a tocar depois baixinho o narrador começa a cena...


Narrador (rádio novela) – “Amor com amor se paga” é uma das comédias curtas mais tradicionais da obra de França Júnior. Na trama dois maridos e suas respectivas esposas se veem nas voltas com o possível adultério. A ingenuidade e a falta de coragem para a traição denota o que vamos ouvir agora. Neste primeiro momento Eduardo e sua nova paixão platônica Adelaide encontram o marido desta senhora:


SONOPLASTIA – UMA CAMPANHINHA


EDUARDO (TIAGO) – Prazer chamo-me Eduardo, o que faz o senhor aqui na minha casa e nesses trajes? Só de calções sem camisa, e descalso?


Sonoplastia – corno, corno, corno...

 

MIGUEL (KARLA) – Prazer, Miguel Carneiro, mas não tenho que lhe dar satisfações. E desejo que saiba que já estou aqui há bom tempo

EDUARDO (Para Adelaide) - Quem é este homem senhora Adelaide, e com estes trajes em minha casa? Eu trouxe a senhora aqui para realizarmos o amor físico; que o platônico já estava superado, e agora aparece este homem aqui, e nestes trajes?


Sonoplastia – corno, corno, corno...


ADELAIDE (LÍLIAN) (À parte) - Estou perdida ouvintes.

MIGUEL (Sentando-se no sofá) - Minha senhora Adelaide, tenha a bondade de dizer aqui a este senhor quem eu sou. Já que é tão curioso, e vou satisfazê-lo. Como te disse sou Miguel Carneiro, e apesar de estar intimamente convencido de que o senhor não passa de  um ideal para esta mulher romântica e mal amada. A Dona Adelaide, de quem eu sou o marido, o esposo, o cônjuge...


Sonoplastia – corno, corno, corno...


MIGUEL – (continua) Eu ainda assim o desafiaria para um duelo, como fazem os homens de brio, se não aprouvesse à fatalidade de algo muito interessante ter me trazido a esta sua casa. 

EDUARDO – Diga o que quer e saia?

MIGUEL – Vim aqui, expressamente, para dizer a ti, que nada devemos um ao outro.

EDUARDO (para os ouvintes)  - OUVINTES, este senhor me pega em minha casa quase beijando sua esposa, e me diz que nada devemos um ao outro, há algo de estranho...


Sonoplastia – enorme mugido de touro



EDUARDO - Senhor Miguel Carneiro, creia que...

MIGUEL - Sei de tudo. O senhor amou minha mulher, amou por pouco tempo, a convenceu de vir a sua casa e quando estava já para apalpar-lhe, eu entro só de ceroulas em sua sala...


Sonoplastia – enorme mugido de touro


EDUARDO - Mas... não diga isso...

MIGUEL – Senhor, é tudo isso puro platonismo, estou disto intimamente convencido. Pergunto: o senhor a tocou, a tocou, a tocou, buliu nela?

EDUARDO – Que loucura claro que não! Ouvintes um amante deve sempre negar, negar tudo...


Sonoplastia – enorme mugido de touro


MIGUEL - Ora, então na minha qualidade de marido, devo ser grato a tudo que fez pela minha minha mulher. 

ADELAIDE (À parte) – Ouvintes, o que quer ele fazer. Meu Deus! Será que vai me matar?

MIGUEL - Eu gosto de pagar os benefícios à boca do cofre. Pagarei o senhor com uma moeda que não será a pólvora, será...


Narrador (rádio novela) – Então, Adelaide se ajoelha  e clama aos céus e ao esposo...


MIGUEL – Levante-se mulher!

ADELAIDE – Não Miguel, me manterei ajoelhada a seus pés e se sinistras são as tuas intenções, antes de consumá-las, terás de passar por cima do meu cadáver.

MIGUEL – Se tranquilize, senhora; eu não lhe darei o gosto de mais uma emoção romanesca. Não tocarei num fio de cabelo deste boi!

EDUARDO – Me chamou de quê?


Sonoplastia – corno, corno, corno...


MIGUEL -  O chamei de Dom, senhor Eduardo, és um cavaleiro, e  quero dizer que te devo em matéria de amor uma reparação; vou te satisfazer já a minha dívida. 


Narrador (rádio novela) – Neste instante o tal Miguel resignado por pegar sua mulher Adelaide flertando em adultério e “otras cositas mas” com seu Eduardo, vai até a cortina do teatro,  hahaahaha, ou seja a cortina da sala da casa do amante de sua mulher Adelaide e  tira de lá uma outra mulher, bela, exuberante, uma tal senhora Emília... Olhem o espanto de Eduardo


EDUARDO: EMÍLIA!!!

EMÍLIA (LÍLIAN) - Não me condenes meu amado esposo Eduardo. Sobre tua cabeça pesa um crime talvez, eu apenas cometi uma leviandade.

MIGUEL - Fique descansada; sobre nossas cabeças não pesa absolutamente coisa alguma. Talvez tentativas de chifres. Pode abraçar sua mulher, e eu abraçarei a minha.

EDUARDO - E por que artes veio o senhor ter a esta casa?

MIGUEL - Enquanto o senhor fazia a corte à minha metade, eu tentava pegar a sua metade. 


Sonoplastia – cornos, cornos, cornos...


MIGUEL - Mas já lhe disse que pode ficar tranqüilo; o divino Platão velava por nós. Sua mulher pode explicar o que aqui me trouxe.

EDUARDO – Emília, fala antes que eu morra!

EMÍLIA – Só me abraça homem, sou tua...

MIGUEL – E tu Adelaide vai ficar parada?

ADELAIDE (Abraçando Miguel) – Sou tua Miguel!

MIGUEL (Para Eduardo) – É velho Eduardo, Amor com amor se paga. Já vê que nada devemos um ao outro; dei o troco na mesma moeda.


Narrador (rádio novela) – Neste momento estra o escravo Vicente mucamo de Eduardo...


VICENTE (LÍLIAN) - O carro está aí. (À parte) Olé! Dois cornos juntos é guerra de chifres. Era para levar a dama do outro senhor Sinhozinho Eduardo?

EDUARDO – Cala a boca malandro...

MIGUEL – Senhor Eduardo, há de permitir que o aproveite e que vai deixar minha mulher em casa, e como não posso ir a pé para a casa nestes trajes, posso ir em sua carruagem?

EDUARDO - Com muito prazer senhor! 

MIGUEL (Despedindo-se) - É verdade, o prazer é meu, sinto que minha mulher seria bastante feliz em sua companhia

EDUARDO - Eduardo Coutinho, seu humilde criado tem a dizer que a recíproca é verdadeira.

MIGUEL - Pois, então Senhor Eduardo, lá estou às suas ordens. Creio que já sabe mesmo onde moro. 

EDUARDO - Da mesma forma. Para que não tenha mais o incômodo de entrar pelo quintal, pela janela, a porta da minha casa dá para a Rua da Ajuda, venha a casa é toda sua.

MIGUEL – Só a casa senhor, precisamos conter nossos ímpetos do desejo a mulher do próximo...

EDUARDO – Se eu soubesse que concordaria tanto com o senhor, já teria convidado antes sua esposa para este platonismo

VICENTE (À parte) - Os diabos me carreguem, se compreendo esta embrulhada de chifres


Sonoplastia – enorme mugido de touro

BG “Ingênuo” de Pixinguinha volta a tocar


LÍLIAN


A futilidade da vida matrimonial e os costumes do falso cavalheirismo são os elementos centrais desta peça: “Amor com amor se paga”.  França Júnior construiu um teatro que era um deboche da sociedade e ao mesmo tempo um texto de romantismo tolo, em declínio, apontando para um olhar mais claro sobre nossa realidade. E será que estes casais voltaram a se encontrar ou a se trocar? Leiam ouvintes, leiam...


KARLA


A música ao fundo desde o início da cena é o “Ingênuo” de Pixinguinha, essa ingenuidade, esse caráter naif da vida brasileira, sempre escondeu as relações maquiadas, a vida triste das mulheres submissas e ao mesmo tempo era a representação deste riso trágico brasileiro, preferimos talvez rir das nossas próprias misérias.


TIAGO


A vida e a trajetória de França Júnior, nos foi trazida por meio de um outro importante escritor do teatro nacional, Arthur Azevedo. Ele nos diz que o dramaturgo baiano, JOAQUIM JOSÉ DE FRANÇA JÚNIOR,  criado no Rio de Janeiro, se formou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo, tinha sido advogado, exercido funções públicas e se dedicado principalmente ao teatro e à pintura. França Júnior constrói suas peças entre o modelo da comédia de Martins Pena, e a entrada do Brasil no Teatro Realista. 


LÍLIAN


E assim encerramos o  primeiro  episódio da nossa série: “O Teatro de França Júnior”  Na próxima  semana  teremos a segunda cena, com a peça: “Maldita Parentela”. Agradecemos a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.


KARLA


O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES  DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL  e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e 

OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”


VOZ DA RÁDIO – PAOLA – A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA


BG – Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa



Comments


bottom of page