
ROTEIRO
VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes
VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”
BG - “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá) trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de fundo da voz do narrador... bem baixinha)
SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS
TIAGO
Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou TIAGO DE CARVALHO e o nosso dramaturgo deste mês é “ARTHUR AZEVEDO”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim, pela atriz KARLA CALASANS, pela atriz LÍLIAN ALENCAR e grande elenco. Neste primeiro programa temos uma cena da peça: “A JOIA”
BG – “BRASIL” DE CAZUZA, a música começa a tocar mais baixinho, fica de fundo e o narrador inicia a cena...
Narrador (rádio novela) – O drama satírico “A joia” nos traz a história de uma prostituta Valentina, que com seus clientes ricos entre fazendeiros, banqueiros e aristocratas se acostuma a dar golpes financeiros e fazer seu patrimônio. Joias são, então, uma paixão da jovem senhora que se junta a uma joalheira para aplicar um pequeno desvio de dinheiro num homem tolo, encantado pelo amor fácil. Vamos ouvir esta conversa entre Valentina e a Joalheira
SONOPLASTIA – UMA CAMPANHINHA
Valentina (KARLA) (Dirigindo-se à porta por onde saiu Carvalho.) – Ah Carvalho, saístes daqui agora e tu queres fazer-te de esperto... Oh! mais esperta sou eu!
A Joalheira (LÍLIAN) (Pondo a cabeça fora da porta.) – Sra Valentina, posso entrar?
Valentina - Decerto.
A Joalheira – Tolo aquele Carvalho, Valentina! Chamar-me de judia e tratante! Eu tudo ouvi por trás daquela cortina!
Valentina -Viu que o maldito sovina diz que não valem...
A Joalheira - Vi... vi.... Quem lhe dera que valesse tanto quanto os meus brilhantes! Mas olhem que estes amantes...
Valentina - Todos eles são como esse! Já homens eu não descubro. Ora, imagine que há meses, e isso se dá muitas vezes, em que as despesas não cubro!
A Joalheira - Também me queixo um bocado, pois o negócio vai mal, tudo o que vendo é fiado e não recebo um real! Mas vamos; em que ficamos? Olhe: tentá-la não quero...
Valentina - Uma idéia tenho; espero que há de aprová-la.
A Joalheira - Vejamos...
Valentina - Disse ele que, se comprar por quatro contos a joia, dá-me dois contos, e foi à casa o dinheiro buscar.
Sonoplastia – vozes dizem “que idiota”....
A Joalheira - Sei tudo e não peço bis, graças àquela cortina. Saiba, Dona Valentina, que és uma primorosa atriz! Sei o que quer: que lhe entregue a jóia por quatro agora, para receber da senhora os outros dois: pois sossegue: estou por tudo, na ESPERANÇA de que os seis contos eu receba pois.
Valentina - Mas ele que não conceba a menor desconfiança!
A Joalheira - E os dois contos? Onde estão?
Valentina - Darei quando os tiver.
A Joalheira - Como assim?
Valentina - Quando o fazendeiro me der...
Narrador – A joalheira está tramando o golpe junto com Valentina, mas não tem qualquer confiança nela...
A Joalheira - Isso não!
Valentina - Dúvida de mim?
A Joalheira - De tudo! Ai, minha rica senhora, não me dizia inda agora que este tempo anda bicudo? Desculpe... que quer? Sou franca...
Valentina - ‘Stá bem. ‘Stá bem! Não insisto: é justo. Sabe o que é isto? Estes papéis?
A Joalheira - Olé! São cheques do banco!
Sonoplastia – som de tourada e gritos de olé, olé
Valentina - Que horas tem?
A Joalheira - É meia hora.
Valentina - Pois vou buscar o dinheiro. Quando vier o fazendeiro...
A Joalheira - Vá descansada a senhora: julguei que só me daria quando lhe desse O Sujeito. Há de encontrar tudo feito, quando voltar com a quantia.
Valentina - Posso fazer um bom gancho...
A Joalheira - Quatro contos arrecada; mas se está contrariada, todo o negócio desmancho: tento, ou não tento?...
Valentina - Espere-o. Claro que tentará...
A Joalheira - Vá descansada.
Sonoplasta coloca o som de uma multidão dizendo : xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!
Narrador – Voltam Valentina e a joalheira e deu certo então o golpe no tal Carvalho...
Valentina – Então, o tolo caiu?!
A Joalheira – Os homens sempre caem!
Valentina – Caem por que amam né?
A Joalheira – Caem por que são tolos!
Valentina – Somos mulheres, somos joias!
A Joalheira – Somos um produto fino hahahahahaha
Valentina – E disso não nos negamos! Hahahahaaha... volto novamente para continuar o negócio
Narrador – Entra finalmente só a Joalheira e faz um monólogo em versos
A joalheira
Ouvintes queridos, esta Valentina acha que as mulheres são mais espertas, no Brasil mulheres enganam os homens e vice-versa, e mulheres enganam mulheres... Sobre a joia
É barato; mas o lucro imediato é bem bom, Graças a Deus! Daqui a dez dias talvez a jóia não seja dela: por cinco me há de vendê-la; por sete a vendo outra vez. Enganei a tola hahahahaha
Alvos brilhantes, peregrina joia, De vendedor não julgueis ser a tramoia. Este elogio que vos teço a sós, só entre nós eu e vcs ouvintes, somos enganadores! Ninguém nos ouve nem nos vê; portanto não é suspeito o cândido louvor. Sinto nos olhos da saudade o pranto, sinto no peito a languidez do amor! Também sou uma enganada, pois nunca fui amada.
Já esta joia, durante o tempo em que foste minha, prenda formosa, prenda sem rival, todos os dias à minh’alma vinha lástima prévia... Adivinhava o mal! Adivinhava e enfeitarias breve o corpo impuro que te apeteceu; foi rara joia de valor que teve melhor destino que o destino teu. Ai, se eu te visse envelhecida, gasta... toda arranhada... não fazia mal... Mas nas orelhas de uma esposa casta... prenda formosa, prenda sem rival!
BG – “BRASIL” DE CAZUZA, a música começa a tocar mais baixinho, fica de fundo e o narrador inicia a cena...
Narrador - É possível observar que entre a joalheira e a prostituta arma-se um golpe pesado, mas todos golpeiam todos, todos tentam se dar bem sobre todos, que loucura... e a canção de Cazuza que acusa este Brasil do “se dar bem sobre o outro”, e qual o final desta trama? Leiam ouvintes leiam...
KARLA
Artur Azevedo é o senhor Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, jornalista e teatrólogo, nasceu em São Luís, MA, ao lado do irmão Aluísio Azevedo, este o escritor do famoso romance “O Cortiço”. Arthur foi o grande nome do teatro das duas últimas décadas do final do séc. XIX e do início do XX no Brasil, parte do grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, criou a cadeira nº 29, que tem como patrono Martins Pena. A homenagem a Martins Pena se deu, pois mais que qualquer coisa Arthur Azevedo se considerava um homem de teatro...
LÍLIAN
Arthur foi um dos grandes defensores brasileiros da abolição da escravatura, em seus ardorosos artigos de jornal, em cenas de revistas dramáticas e em peças dramáticas. Escreveu obras como O Liberato e A família Salazar, esta escrita em colaboração com Urbano Duarte, proibida pela censura imperial e publicada mais tarde em volume, com o título de O escravocrata. Teria o dramaturgo escrito mais de quatro mil artigos sobre eventos artísticos, principalmente sobre teatro... Falaremos mais sobre ele, seu tempo, elementos culturais do Brasil da época de Arthur nos próximos programas.
TIAGO
E assim encerramos o primeiro episódio da nossa série: “O Teatro de ARTHUR AZEVEDO” Na próxima semana teremos a segunda cena, com a peça: “A CAPITAL FEDERAL”. Agradecemos a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.
KARLA
O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e
OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”
VOZ DA RÁDIO – PAOLA – A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA
BG – Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa
Para ouvir esse episódio acesse o link:https://soundcloud.com/radioeixo/arthur-azevedo-a-joia?in=radioeixo/sets/eixoencena
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