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A Capital Federal - Arthur Azevedo

Paola Antony



Roteiro

  • VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes

  • VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”

  • BG -  “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá)  trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de  fundo da voz do narrador...  bem baixinha)

  • SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS


LÍLIAN

Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou LÍLIAN ALENCAR e o nosso dramaturgo deste mês é “ARTHUR AZEVEDO”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim, pela atriz KARLA CALASANS, pelo ator TIAGO DE CARVALHO e grande elenco. Neste segundo programa temos uma cena da peça: “A CAPITAL FEDERAL”


BG – O morro não tem vez”, COM Alcione e Leci Brandão a música começa a  tocar mais baixinho, fica de fundo e o narrador inicia a cena...


Narrador (rádio novela) – A opereta cômica “A Capital Federal” é considerada a obra prima de maior alcance de Arthur Azevedo. Na perspectiva de dar um olhar crítico, realista e ao mesmo tempo bem humorado ao Rio de Janeiro dos últimos anos do séc. XIX, o dramaturgo tem um empenho em perguntar, o que será dessa cidade? A cena que vamos colocar aqui traz um recorte de duas personagens, Figueiredo apresentado como o próprio carioca da gema, e a MULHER NEGRA Benvinda. Vamos ao elementos hilariantes desta conversa. Figueiredo canta uma trovinha no formato de sambinha, ou ainda Semba:


SONOPLASTIA – UMA CAMPANHINHA

FIGUEIREDO (TIAGO)


As mulatas da Bahia 

Têm de certo a primazia 

No capítulo mulher; 

O sultão lá na Turquia 

Se as apanha um belo dia, 

De outro gênero não quer!


SALVE SALVE AS MULATAS DA BAHIA... SALVE SALVE AS DELÍCIAS DA BAHIA

SONOPLASTIA – COLOCAO SOM DE UM PANDEIRO TOCANDO

Narrador (rádio novela) – A mulata Benvinda responde num outro sembinha, ou seria sambinha:


BENVINDA (KARLA)

Tenho uma grande virtude: 

Sou franca, não vou mentir! 

Comigo só quem se ilude 

Só quem queira se iludir! 

Porque quando apanho um macho 

Tolo, besta e babão, 

É claro que aproveito, 

Finjo uma grande paixão!


SALVE SALVE AS MULATAS DA BAHIA, EU SOU UMA BELA MULATA , SOU MULATA DA BAHIA


SONOPLASTIA – COLOCA O SOM DE UMA BATERIA DE ESCOLA DE SAMBA


FIGUEIREDO – Oh Benvinda minha mulatinha, e esta batucada para ti? Já vejo que há de ser muito difícil fazer alguma coisa de ti! 

BENVINDA - Eu não tenho curpa que esse diabo... 

FIGUEIREDO (Atalhando.) - Tens culpa, sim! Em primeiro lugar, essa sua vestimenta é escandalosa! Esse seu chapéu é descomunal! 

BENVINDA - Foi o sinhô que escolheu ele! 

FIGUEIREDO - Escolhi mal! Depois, tu abusas do face-en-main

BENVINDA - Do... do quê? 

FIGUEIREDO - Disto, da luneta! Em francês chama-se face-en-main. Não é preciso estar a todo o instante assim mostrando sua gostosura. Basta que te sirvas disso lá uma vez por outra, e assim, olha, assim, com certo ar! E não sorrias a todo instante, como uma bailarina... A mulher que sorri sem cessar é como o pescador quando atira a rede: os homens vêm aos cardumes, como ainda agora! - E esse teu andar Benvinda? Como rebolas? Por que gingas tanto? Por que te remexes assim? 

BENVINDA (Chorosa.) - Oh! Meu Deus! Eu ando bem direitinha... não olho pra ninguém... se quer rebolo sinhô 


SONOPLASTIA – musiquinha da pantera cor de rosa


BENVINDA - Estes diabo é que implica comigo. Toda hora tem um que vem e diz: Vem cá, o mulatinha! Meu bem, minha mulatinha ouve aqui uma coisa! Mulatinha tá sozinha?

FIGUEIREDO - Pois não respondas! Vai olhando sempre para a frente! Não tires os olhos de um ponto fixo, como os acrobatas, que andam na corda bamba... Olha, eu te mostro... Faze de conta que eu sou tu e estou passando... Tu é um gaiato e me dizes uma gracinha quando eu passar por ti. Estou andando rebolando igual a você agora... Vamos, dize alguma coisa!... 

BENVINDA - Dizê o quê? 

FIGUEIREDO (À parte.) – Ouvintes, ela não compreendeu! (Alto.) Diz Qualquer coisa Benvinda! Adeus, meu bem! Aonde vai com tanta pressa! Olha o lenço caiu! Oh Gostosona!

BENVINDA - Ah! Bem! 

FIGUEIREDO - Vamos, outra vez. Já estou andando e passando na sua frente rebolando 

BENVINDA - Adeus, seu Figueiredo. 

FIGUEIREDO - Que Figueiredo, Que Figueiredo Benvinda! Eu agora sou Benvinda! Sou você, não entendeu? E a propósito: hei de arranjar-te um nome de guerra. 


BENVINDA - De guerra? Uê!... o Brasi tá em guerra?

FIGUEIREDO – Afffffffffff! Que Guerra Benvinda?! Sim, um nome de guerra. É como se diz. Benvinda é nome de preta velha. Mas não se trata agora disso. Vou passar de novo. Não te esqueças de que eu sou tu. Já compreendeste?

BENVINDA - Já, sim sinhô. 

FIGUEIREDO - Ora muito bem! – Pela terceira vez Lá vou eu. Já estou rebolando...

BENVINDA - Ouve uma coisa, mulata! Vem cá, meu coração!... 

FIGUEIREDO Até que enfim tu acertastes que cantada safada heim?! - Viste? Não dei o troco! Não te olhei sorrindo. Fiz um olhar de mãe de família! E diante disso, o mais atrevido se desarma! - Vamos! Anda um bocadinho até ali! Quero ver se aprendeste alguma coisa! 

BENVINDA - Sim sinhô. (Anda.). Já vou rebolar, ou melhor, andar, estou andando...

FIGUEIREDO - Que o quê! Não é nada disso! Não é preciso fazer projeções do holofote para todos os lados! Assim, olha... Um movimento gracioso e quase imperceptível dos quadris... 

BENVINDA (Rindo.) - Que home danado! Sinhô óia o tamanho da minha bunda, como não remelexer ela...


SONOPLASTIA – Mulata assanhada com Elza Soares

 

FIGUEIREDO – Deixe de assanhamento mulata! É preciso também corrigir o teu modo de falar, mas a seu tempo trataremos desse ponto, que é essencial. Por enquanto o melhor que tens a fazer é abrir a boca o menor número de vezes possível, para não dizeres home em vez de homem e quejandas parvoíces... Não há elegância sem boa prosódia - Aonde ias tu?

BENVINDA – QUEIJO DE PARVO QUÊ SINHÔ

FIGUEIREDO – quejandas de parvoíces, o mesmo que conversa de tolo, diga aondes ias?

BENVINDA - Ia na Rua do Ouvidô. 

FIGUEIREDO– Ainda vai me matar de raiva mulata é Ouvidorr... Ouvidorr... Não faças economia nos erres, porque apesar da carestia geral, eles não aumentarão de preço. E sibila bem os esses - Assim... Bom. Vai e até logo! Mas vê lá: nada de olhadelas, nada de respostas! Vai! 

BENVINDA – (dá uma risada escandalosa) Inté logo. 

FIGUEIREDO – Infarrrrrrrteeeeiii agora, Que inté logo! Até logo é que é! Olha, em vez de inté logo, dize: Au revoir! Tem muita graça de vez em quando uma palavra ou uma expressão francesa.

BENVINDA – Vô avoá! 

FIGUEIREDO – Meu DEussssssssssssssssssssssssss! Vai Benvinda, vai...  Olha esta mulata andando! Não te mexa tanto, rapariga! Não rebola, Ai! Isso! Agora foi demais! Ai! (Benvinda desaparece.) De quantas tenho laçado, nenhuma me deu tanto trabalho! Não pode estar ao pé de gente! 


BG – “O morro não tem vez”, COM Alcione e Leci Brandão”, a música começa a  tocar mais baixinho, fica de fundo e o narrador inicia a cena...


Narrador - Arthur Azevedo quis em “A Capital Federal” não só demonstrar o fuzuê, a loucura e o cosmopolitismo do Rio de Janeiro do início do séc XX, como também contou a história de uma família tradicional mineira do interior e sua adequação àquela sociedade modelo do Brasil. A gente começa a se perguntar sobre o destino desse Figueiredo, quem era de verdade? E esta jovem negra e bela, Benvinda, abusada por esse cafajeste machista e elitista? O que aconteceu com eles e com esta trama? Leiammmmmm


KARLA

Estamos em plena República nascendo no Brasil, quando Arthur Azevedo escreve: “A capital federal”, temos os laços de uma aristocracia decadente, ainda com arbítrios sobre a população afro récem livre com a abolição. Ao fundo ouvimos: “O morro não tem vez”, a ironia desta contradição É QUE Figueiredo o homem branco ainda se achava dono de escravos, e a Benvinda representando a negritude pedia passagem para o morro e a favela, que teriam vez a partir da luta e da naturalidade da gente negra do Brasil...


TIAGO

A  peça nos traz também um retrato político do Brasil e da antiga Capital Federal, o Rio de Janeiro. O contraste entre os costumes do velho regime e o nascedouro de uma cidade híbrida entre o francês dos saloons e a batucada do morro, ISTO fará desta peça um texto central da nossa literatura dramática.


LÍLIAN

Vale finalmente lembrar de que a época de Arthur Azevedo tinha em colaboração com seu teatro a crônica de Machado de Assis e de João do Rio, este último que escreveu a cenografia das ruas do Rio de Janeiro, as atitudes de um povo singular que ali nascia, e que retratou a dimensão e papel de nosso carnaval.


KARLA

E assim encerramos o  SEGUNDO  episódio da nossa série: “O Teatro de ARTHUR AZEVEDO”  Na próxima  semana  teremos a terceira cena, com a peça: “AMOR POR ANEXINS”. Agradecemos a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.


LÍLIAN

O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES  DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL  e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e 

OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”

VOZ DA RÁDIO – PAOLA – A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA

BG – Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa


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