top of page

Hoje avental, amanhã luva - Machado de Assis

Paola Antony

ROTEIRO


  • VINHETA DE ABERTURA – campanhinha toca três vezes

  • VOZ DE ABERTURA – PAOLA – “A RÁDIO EIXO APRESENTA EIXOENCENA”

  • BG -  “Mambembe” Chico Buarque (versão Chico e Roberta Sá)  trilha sonora de fundo. Rubrica para o sonoplasta (Colocar o som da música tal como pano de  fundo da voz do narrador...  bem baixinha)

  • SONOPLASTIA – DUAS CAMPANHINHAS


KARLA

Narrador (rádio novela) – Olá ouvintes, este é o programa EIXOENCENA. Uma série de Rádio-Teatro que fará ao longo deste ano, uma homenagem ao Teatro Brasileiro do séc. XIX e ao Teatro de Brasília. Eu sou KARLA CALASANS e o nosso dramaturgo deste mês é “MACHADO DE ASSIS”. O elenco do programa EIXOENCENA é formado por mim, pela atriz LÍLIAN ALENCAR, pelo ator TIAGO DE CARVALHO, e grande elenco. Neste primeiro programa temos uma cena da peça: “HOJE AVENTAL, AMANHÃ LUVA”


BG – “Perfídia” toca na voz de Nat King Cole a música começa a  tocar mais baixinho, fica de fundo e o narrador inicia a cena...

Narrador (rádio novela) – “Hoje avental amanhã luva” traz como tema central    o sentimento ruim que uma mulher, a senhora Rosinha, tinha por um senhor chamado Durval, pois no passado esse a cortejou por seus predicados, e o maior deles: A BELEZA. Porém a moça era pobre, e de classe inferior, e o mesmo preferiu uma senhora chamada Sofia, mas ao mesmo tempo queria se aproveitar de Rosinha, ouçamos o diálogo entre Durval e Rosinha no início da peça :


SONOPLASTIA – UMA CAMPANHINHA


DURVAL (TIAGO) Onde está a Sra. Sofia de Melo?... Não vejo ninguém! Depois de dois anos estou retornando aqui e como está este lugar? Quem sabe se em vez da palavra dos cumprimentos deverei trazer a palavra dos epitáfios, está morto isso aqui! Por outro lado tem crescido isto em opulência!... mas... (vendo Rosinha) Oh! Ali está dormindo Rosinha! Vou me aproximar! Cá está a criadinha. Dorme como um anjo, bela demais depois de dois anos!... Ouvintes, será para mim um excelente passatempo... será ela adepta de Epicuro? Vejamos se a  acordo... vou dar-lhe um enorme beijo na testa... por enquanto na testa...


SONOPLASTIA – som de um beijo longo


ROSINHA (LÍLIAN) -  (acordando e bocejando) Ah! Que é isto? Que discaramento quem ME BEIJOU? (levanta-se) Ah, só poderia ser o Sr. Durval? Não há maior discarado na face do Brasil. Há  dois anos que tinha desaparecido... Não o esperava. 

DURVAL -  Sim, sou eu, minha menina. Cadê tua senhora e patroa?

ROSINHA -  Está ainda no quarto. Aqui levanta-se cedo a criada. Vou dizer-lhe que V. Senhoria. aqui está. Mas, espere; diga-me duas coisas. Primeiro que beijo safado foi este, te dei permissão?

DURVAL – Beijei, porque estavas linda dormindo. Diga a segunda coisa, minha pequena. Estou à tua disposição. (à parte) Ouvintes, não é má  coisinha essa Rosinha, que pitel!

ROSINHA – O senhor  levou dois anos sem aqui pôr os pés: por que diabo volta agora sem mais nem menos?


SONOPLASTIA – som de um relógio indicando longo tempo


DURVAL -  Tu és curiosinha né? Pois  sabe que venho para... para mostrar a Sofia, sua patroa que estou ainda o mesmo.

ROSINHA -  Está mesmo? Moralmente, não, parece-me um safado.

DURVAL -  É boa! Tenho então alguma ruga que indique decadência física?

ROSINHA -  Do físico... não há nada que dizer, até parece um bonitão..

DURVAL -  E minha moral continua íntegra. Estou também no mesmo. Cresce com os anos o meu amor; e o amor é como o vinho do Porto: quanto mais velho, melhor. Mas tu! Tens mudado muito, mas como mudam as flores em botão: ficando    mais bela, fogosa, estás uma maravilha.

ROSINHA – Ouvintes este senhor Durval é muito safado. O senhor é um discarado, Sr. Durval, mas sempre amável.

DURVAL -  Costumes da mocidade. (quer dar-lhe um beijo)


Narrador (rádio novela) – Pela segunda vez Durval vai beijar Rosinha, mas agora a moça está acordada.


ROSINHA -  (fugindo e com severidade) Queres de novo me dar mais um beijo senhor Durval? Vou já correr. Sr. Durval? Sr. Durval?...

DURVAL -  E então! Foges agora! Em outros tempos não era difícil te dar umas beijocas. Ora vamos! Não tens uma amabilidade para este camarada que de  tão longe volta? E há tanto tempo?

ROSINHA -  Não quero graças com o senhor, está de veraS um safado. Agora é outro cantar, outra prosa, por aqui, não sou mulher fácil! Há dois anos eu era uma  tola inexperiente... mas hoje!

DURVAL -  Está bem. Mas...


ROSINHA – O senhor tem a intenção de prolongar sua estadia ou ficar aqui no Rio?

DURVAL (sentando-se) Ficarei no RJ como o Corcovado, ficarei no Rio de Janeiro e enraizado como ele. Já me doíam as saudades desta boa cidade. A roça, não há coisa pior! Passei lá dois anos bem insípidos — em uma vida uniforme e matemática como um ponteiro de relógio: jogava gamão, colhia café e plantava batatas. Nem teatro lírico, nem a rua do Ouvidor, nem a Petalógica! Solidão e mais nada. Mas, viva o amor! Um dia concebi o projeto de me safar e aqui estou. Sou agora a borboleta, deixei a crisálida, e aqui me vou em busca de vergéis, das minhas terras e das minhas conquistas. (tenta um novo beijo). Que tal um beijinho?

ROSINHA – Que conversinha deste canalha, ouvintes este homem é um malandro.


SONOPLASTIA – Toca “A volta do malandro” com Mônica Salmaso do início do canto dela até ‘entre deusas e bofetões”


Narrador (rádio novela) – Pela terceira vez Durval vai beijar Rosinha, a moça ficará possessa



ROSINHA -  (fugindo e com severidade) Queres de novo me dar mais um beijo senhor Durval? Malandro! Vou já correr. Sr. Durval?Sr. Durval?...

DURVAL -  E então! Foges de novo menina! As escondidas eu te cobria de beijos e íamos longe, LEMBRA!

ROSINHA - (fugindo) Acabou filhote, não entendeu? E já que transformou-se numa borboleta, não teme queimar as asas oh borboletinha?


SONOPLASTIA – Toca “eu sou uma borboleta pequenina e feiticeira” com Marisa Monte


DURVAL -  Falei Borboleta, mas me tem em má conta pequena. E Em que fogo ei de me meter? Ah! Só se for no fogo dos olhos de Sofia! Está mudada também?

ROSINHA - Sou suspeita. Com seus próprios olhos a verá.

DURVAL - Era elegante e bela há bons dois anos. Deve estar mais ainda? Não será? Dilema de Hamlet. E como gostava de flores! Lembras como eu trazia flores a ela e fogo a ti?

ROSINHA - Ela gostava tanto de flores! E eu do seu fogo!

DURVAL – Queres um fogo de volta, beijo-te? ...

ROSINHA -  (fugindo e com severidade) Mais uma vez me dar mais um beijo senhor Durval? Vou já correr de novo. Sr. Durval?Sr. Durval?...

DURVAL – Não corras, não vou mais beijar-te só quando me pedir. Dize-me cá. Por que diabo sendo uma criada, tiveste  sempre tanto espírito, educação, refininamento e ao mesmo tempo...


ROSINHA  - Não sabe? Eu lhe digo. Em Lisboa, eu e Sofia vivemos juntas e para aqui, fomos amigas no mesmo colégio, e comemos à mesma mesa. Mas, coisas do mundo!... Ela tornou-se senhora, ama, patroa e eu criada e mucama! Ela ainda hoje me trata com distinção e conversa comigo como se iguais fossemos!

DURVAL Ah! é isso? Foram companheiras. E conversam agora em altas coisas!... Pois eis-me aqui para conversar também; faremos um trio admirável. Eu caso com a senhora Sofia e tenho você Rosinha como amante!

ROSINHA – Sr. Durval, vá para o inferno, vou participar sua chegada a Dona Sofia agora!

DURVAL -  Sim, vai, vai. Mas olha cá, uma só palavra a mais com você.

ROSINHA - Uma só palavra? Ok! Uma palavra entende?

DURVAL – Dá mais um beijinho aqui, sua patroa não precisa saber...

ROSINHA – Sr Durval? Sr. Durval?!!! Olha a quantidade de palavras que dissestes... nada de beijos seu safado, seu malandro.


BG - Perfídia toca na voz de Nat King Cole a música começa a  tocar mais baixinho e o narrador inicia a cena...


KARLA

“A  perfídia”, este charmoso bolero    na  voz  do  célebre  cantor  americano   Nat  King  Cole trata  exatamente da  forma  como  alguém  com  mentira e falsas promessas pode enganar a pessoa amada. Como  se sentia Rosinha em relação a Durval? Subjulgada por ser pobre, por ser a mucama, por não dar amor aquele sem vergonha, malandro e interesseiro do Durval. É preciso ler a peça para saber o destino de ambos, se é que vai mesmo mudar muita coisa. Leiam ouvintes!!!!


TIAGO

“Hoje avental, amanhã luva” com devida adaptação temporal foi a imitação de uma  peça francesa lida e escondida dos espectadores  brasileiros  por Machado de  Assis  e  só  depois  identificada. A peça era a “Chasse au lion”, na tradução do original “Caça ao leão”. Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho, no seu teatro, a partir de 1860, já demonstraria o poder de sua ironia, a crítica da vida social e a futilidade da moral burguesa. Estávamos de uma vez por todas na esfera do teatro realista.



LÍLIAN

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramenteo na primeira metade do séc. XIX na cidade do Rio de Janeiro. Filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira, mestiço com a negritude nas veias, de família pobre, o homem se tornaria o maior escritor brasileiro do séc. XIX. O maior escritor da literatura brasileira de todos os tempos, para parte da crítica. Ele, um leitor contundente da alma humana: foi poeta, cronista, contista, romancista, também deixou no Teatro uma série de peças encenadas. Algumas destas peças, encenadas em sua época fizeram um estardalhaço. Falaremos ao longo  deste mês das enormes curiosidades que circundam a sua vida e seu teatro.



KARLA

E assim encerramos o  primeiro  episódio da nossa série: “O Teatro de Machado de Assis”  Na próxima  semana  teremos a segunda cena, com a peça: “Quase Ministro”. Agradecemos a paciência da querida e do querido ouvinte por terem se colocado com atenção no nosso programa EIXOENCENA.


TIAGO

O programa EIXOENCENA é parte do projeto RÁDIO TEATRO, OS FUNDADORES  DO TEATRO BRASILEIRO E O TEATRO DE BRASÍLIA realizado com recursos do FUNDO DE APOIO À CULTURA DO DISTRITO FEDERAL  e como se diz no bom e velho teatro fiquem bem e 

OS TRÊS ATORES JUNTOS: “MERDA PRA TODOS”

VOZ DA RÁDIO – PAOLA – A RÁDIO EIXO APRESENTOU EIXOENCENA

BG – Volta “Mambembe” de Chico Buarque na versão original para encerrar o programa.



Comments


bottom of page