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Capoeira'n Blues, novo álbum de Mandalla.

Paola Antony

Atualizado: 8 de nov. de 2024

Wallace Lino


Paola Antony

Das plantações de algodão do sul do Estados Unidos, e das fazendas e quilombos do Brasil colonial surgiram dois estilos musicais, oriundos da influência musical africana e das dores e lutas da escravidão, que se tornaram gigantes.


O blues e a capoeira, que apesar de falarem línguas distintas têm muito o que conversar.


A partir da possibilidade desse diálogo, a cantora Mandalla elaborou e concebeu o álbum Capoeira’n blues, lançado em 2023.


Ela, junto à banda formada por Marco Guedes na bateria e André Lourenço no baixo, além de musicistas convidadas especialmente para o projeto, vêm apresentando esse disco nas casas de shows de Brasília.


Me encontrei com eles no Clube do Choro para conferir o projeto no palco, já que aprecio o álbum e aproveitei para pegar uma palavrinha deles, sobre o Capoeira’n blues.

 

_Paola Antony – Mandalla, adorei essa ideia de capoeira com blues. De onde surgiu essa proposta?


_ Thaise Mandalla – Eu pratico capoeira e toco e escuto blues desde a adolescência, mas nunca tinha visto alguma similaridade entre eles. Inclusive eu achava que eram mundos meus, particulares, muito díspares. Sei que fiquei muitos anos sem frequentar a capoeira e com o blues eu segui. E aí, quando eu voltei a treinar capoeira em 2021, me voltou também toda aquela energia, a questão cultural da capoeira que é muito forte. Um dia, voltando de um treino, ouvindo a música São Bento Grande de Angola, de Paulo César Pinheiro, me veio um clique: caramba, as duas são fruto da diáspora africana nas américas, então eu entendi porque elas sempre me tocaram profundamente.

Quando eu entendi esse link, e em especial com essa música específica – a primeira que a gente, trio Mandalla, arranjou, harmonizou e começou a tocar, eu falei: essa ideia merece um álbum. Fomos contemplados com o FAC e realizamos.

 

Paola Antony_ Foram muitas músicas gravadas, inclusive.


Thaise Mandalla – Sim, são 10 canções e eu já estou até brincando que quero fazer o segundo álbum, porque tem muita música maravilhosa que ficou de fora.

Já dentre essas músicas escolhidas tem alguns clássicos de Mestre Pastinha, Mestre Canjiquinha, Mestre Bimba e tem de compositores amigos contemporâneos, como do mestre Capu, que está na Espanha. Tem também de uma amiga, Heloisa, que é capoeirista, que não está praticando mais, mas que compôs. Até porque eu quis trazer também músicas de mulheres. Tem Clementina de Jesus com a música Marinheiro só. A primeira gravação é dela, embora a gente saiba que pertence ao povo brasileiro. Nessa curadoria eu tive a ajuda da Gisela Ponci que é doutora em canções de capoeira pela UFBA – Universidade Federal da Bahia.


Paola Antony _E quem são os músicos convidados para esse projeto?


Thaise Mandalla_ O primeiro nome que me veio foi o da guitarrista Marlene Souza Lima, em função do que ela representa pra mim, a expertise dela no blues e no jazz. E aí fui pensando em chamar alguém pra tocar os instrumentos de capoeira, e por meio de amigos, cheguei em Rayane Mutante que, no álbum, tocou os berimbaus e instrumentos percussivos mas que no show a gente precisou desmembrar. Para o show de hoje convidamos Lirys Catarina pra percussão. Ela vem da cultura regional e de terreiro, portanto é uma pessoa com muita propriedade pra tocar. E a gente tinha espaço para a participação de mais um instrumento surpresa. E aí, conversando com Marlene que, além de guitarrista, é também nossa diretora musical; pensamos na Miriam Marques, no trombone, porque o metal também traz a questão do jazz, que veio do blues e também porque é uma musicista que eu sempre admirei muito. Sei que estou super feliz por estar com mulheres capacitadas e gabaritadas. Não só musicistas incríveis, mas pessoas incríveis.

 

Paola Antony _ E para você, Marco Guedes, como foi o desafio de trazer a capoeira para o blues do ponto de vista da bateria?


Marco Guedes_ É, foi um desafio. Um desafio porque as músicas que recebemos, que Mandalla apresentou, são músicas de roda de capoeira. Aí a gente transferiu para o blues. Eu coloquei algumas batidas do blues tradicional, do shuffle e fluiu bem. Foi um desafio, mas foi interessante fazer essa junção.

 

Paola Antony – André,  conta o que você achou de juntar a capoeira com o blues a partir do seu instrumento?


André Lourenço – Olha, desde o começo foi bem interessante por ser uma coisa diferente. Eu nunca fui da capoeira, então, no disco, eu estou mais do lado do blues e uma coisa que decidimos foi a de colocar nossos instrumentos, mais de fundo. Não ter protagonismo ou destaque. Deixar isso para as canções e os instrumentos da capoeira. Então o baixo, no disco está bem mais básico, fazendo mesmo a cozinha. Agora, o resultado final ficou muito potente. Tem umas músicas que arrepiam.

 

Bom, eu também achei a proposta muito legal e o disco realmente bonito. Por isso, fui atrás deles lá no clube do choro para constatar que o show também é especial. Mandalla tem presença de palco. É solta. Canta bem. Os músicos são todos bons. Tudo junto, somado às projeções de Aníbal, resultou num belo espetáculo musical que vale a pena ser visto.


Diego Alcântara


Hoje, aqui para a Rádio Eixo, eu fiz o exercício de escolher 3 músicas do Capoeira’n blues pra gente ouvir. Não porque sejam as melhores, nem sei avaliar por esse caminho. Escolhi as que me tocaram mais.

São elas:


Eu vi Jesus, de Rodrigues Ferreira Luna

Malandragem, de Hugo Darques

Ela é linda, é de Hugo Darques.

 

Para ouvir a conversa na integra e as músicas do Capoeira’n Blues acesse o link:https://soundcloud.com/radioeixo/mandalla-capoeiran-blues

 

A Rádio Eixo conta com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. FAC - DF

 

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